Aniversários e signos

"Se tem um coroa que faz ginástica, esse coroa sou eu", diz Diogo Vilela, que completa 54 anos nesta sexta (28)

TAÍS TOTI

Da Redação

No ar na novela das sete, "Aquele Beijo", no papel do conquistador Felizardo, Diogo Vilela mostra que ainda tem fôlego após 42 anos de carreira. Completando os 54 anos de idade nesta sexta-feira (28), ele se descreve como “um coroa que malha” e lamenta que os esforços da ginástica não ficam evidentes no vídeo. “Parece que eu sou gordinho, mas eu malho”, diz ele em entrevista ao UOL.

Enquanto explora as características engraçadas de seu personagem na Globo, Diogo Vilela relembra outro papel cômico no Canal Viva, com as reprises de “TV Pirata”. “É incrível porque tem quadros que eu não lembro que eu fiz”, diz, achando graça.

“Aquele Beijo” marca a primeira novela de Diogo Vilela em dez anos, com “um personagem que sempre quis fazer”. Ele interpreta o pai de Agenor, papel do ator e cantor Fiuk, a quem descreve como um “pierrot do século 21”.

Mas o ator já se prepara para se aventurar como autor. Ele está em pré-produção de “Ary Barroso, do princípio ao fim”, musical sobre o compositor mineiro escrito por ele e que estreia assim que a novela acabar. E avisa: se a resposta for positiva, ele pode montar as outras duas peças que já escreveu e até revelar suas poesias.

Leia abaixo a entrevista completa com Diogo Vilela:

UOL: Nesses 54 anos, qual foi a sua maior conquista?
Diogo Vilela: Acho que foi conseguir estar em cena. Acho muito difícil você conseguir fazer uma carreira obtendo qualidade como eu consegui. O tempo todo eu quis trabalhar na minha qualidade o máximo possível, como intérprete, como ator, se é que isso interessa hoje em dia, né.

UOL: Você acha que melhorou com a idade? Em quais aspectos?
Diogo Vilela: A idade é uma coisa meio dúbia, porque você adquire o conhecimento da vivência mas não perde as pessoas que você foi quando mais jovem. A cada década você muda, então você foi várias pessoas em várias décadas. Hoje vejo que muito do que eu fui quando jovem ainda existe, mas adormecido. Aquelas épocas que a gente fala ‘ah amadureci, eu mudei’, acho que a gente não muda, a gente aprende a não errar tanto, desilude. Acho que ainda sou a pessoa que eu era. Aquele adolescente que eu fui, com toda ingenuidade que eu sentia naquela época, ainda existe aquilo. Não apagamos o passado dentro da gente, só modificamos de acordo com as dores que sentimos na vida.

UOL: Agora falando sobre a novela, como está sendo interpretar um conquistador?
Diogo Vilela: Estou adorando, eu sempre quis fazer esse personagem. Estou me divertindo muito, ele tem características muito engraçadas, e ao mesmo tempo é uma pessoa. O Miguel está se preocupando muito em humanizar os personagens, e isso para o ator é muito bom, porque temos muita coisa para trabalhar.

UOL: Você está fazendo algum tipo de tratamento estético ou ginástica para o papel?
Diogo Vilela: Se tem um coroa que faz ginástica, esse coroa sou eu [risos]. Só que no vídeo não aparece. Parece que eu sou mais forte, mais gordinho. Mas não sou gordinho, eu malho. É que eu não sou muito alto, mas para a minha idade, acho que estou bem. Malho, faço esteira, corro na areia, faço musculação, pelo menos quatro vezes por semana.

UOL: O que achou da comparação que Fiuk fez, que seu personagem é como o Fábio Jr.? (Fiuk disse que Vilela é como seu pai, mulherengo e conquistador)
Diogo Vilela: Ele falou isso? Que engraçado, achei legal ele falar isso. O Fiuk é muito legal. Ele é uma pessoa amiga, doce, tenho muito carinho pelo Fiuk. Não o conhecia, foi uma surpresa boa. Na hora do ator ele deixa o rockstar totalmente de lado, mas sem perder aquela característica dele. Ele é uma figura muito importante no vídeo porque ele tem aquela coisa pessoal dele, parece um pierrot. Ele é meio um pierrot do século 21.

UOL: O que você está esperando do personagem?
Diogo Vilela: Nunca espero nada, porque é obra aberta, a gente não alimenta muita expectativa. Mas espero que o Felizardo consiga continuar tendo as situações na qual ele se envolve, que é muito interessante representar. O Miguel cria situações muito engraçadas para o Felizardo.

UOL: E a novela é do Miguel, com quem você tem uma longa parceria e trabalhou na peça "Gaiola das Loucas" e na série "Toma Lá Dá Cá". Você se sente mais seguro trabalhando com ele?
Diogo Vilela: Não me sinto mais seguro, é que o Miguel é um amigo muito carinhoso. E ele é voltado para valores que eu me identifico, como o afeto, amizade, ele dá valor a isso. Nos conhecemos na adolescência e estamos convivendo, então para nós dois é bom o nosso encontro. Ele é uma referência para mim como pessoa, como amigo. Não é só a pessoa que escreve coisas para eu fazer, é além disso. No futuro pode ser até que a gente não trabalhe junto mas a amizade vai continuar. Isso é uma coisa gostosa, você ter sobrevivido na profissão e conviver com pessoas que você conhece do passado, fica uma certa ternura na relação.

UOL: É sua primeira novela em mais de 10 anos, como foi voltar a faze-las? Acha que a teledramaturgia mudou nesse tempo?
Diogo Vilela: Acho que fazer novela virou uma coisa de muito mais exigência. O nível de exigência de uma novela hoje em dia ultrapassa qualquer longa-metragem. Acho isso bom por um lado, porque constrói melhor o produto que fazemos, exige uma renovação e a qualidade melhora, mas por outro lado fica uma coisa meio tensa. Não era tão tenso.

UOL: A pressão é maior?
Diogo Vilela: Hoje em dia tudo que leva fama é mais pressionado. Antigamente você era famoso por causa da sua profissão, hoje em dia todo mundo quer ser famoso. Não é que eu reclame disso, acho normal que todo mundo queira, faz parte do século 21. Mas você tem que mostrar a que veio, não dá para dar mole não.

UOL: E a o musical que você escreveu sobre Ary Barroso?
Diogo Vilela: Vou explicar tudo. Eu sempre escrevi, mas nunca mostrei para ninguém, porque ficava com critérios, com medos. Um dia fiz uma leitura particular secreta com uns amigos de uma peça que escrevi e todo mundo gostou, as pessoas se emocionaram, achei interessante. Depois de um tempo eu perdi minha mãe e fiquei muito retirado e comecei a ter ideias de peças. Aí eu fazendo uma peça americana, "A Gaiola das Loucas", fiquei pensando como seria um bom musical brasileiro, então recebi um livro do Ary Barroso. Vi que era o Mario de Moraes com as últimas entrevistas de Ary Barroso e li. Na última entrevista, descobri no Ary Barroso um homem com medo de perder sua memória, aflito por perder sua vida. Houve coincidências na vida dele que me inspiravam. Ele morreu no dia do aniversário da melhor amiga, Carmen Miranda. E no dia que morreu, estava sendo homenageado por uma escola de samba. Ele morreu na hora que a bateria entrou na quadra. Achei isso impactante, e criei um personagem que estaria morrendo, aí foi virando uma peça. Dessa peça eu escrevi mais duas. Fiquei dois anos escrevendo Ary, e depois escrevi mais duas peças, e pretendo mostrá-las quando tiver tempo.

UOL: E pretende montá-las também?
Diogo Vilela: Primeiro quero saber se elas são legais. Vou fazer leituras secretas de novo. Sou muito criterioso com teatro. Pretendo continuar escrevendo no futuro, se der certo. Primeiro vou testar bastante. Esse trabalho, a direção é do Amir Haddad. Convidei já a Inez Viana e a Ana Bairdi. É uma peça que fala sobre o negro, a relação dele na Bahia, é um homem perdendo sua identidade mas ao mesmo tempo querendo continuar criando. Chama “Ary Barroso do princípio ao fim”.

UOL: Já tem uma data?
Diogo Vilela: Pretendo assim que acabar a novela já começar, estamos em pré-produção. Pretendo estrear até junho de 2012.

UOL: Tem alguma coisa que você tenha escrito muito tempo atrás e pense em tirar da gaveta?
Diogo Vilela: Olha, se eu conseguir com o Ary Barroso montar um espetáculo com o que escrevi, vou começar a divulgar outras coisas, por exemplo, escrevo poesia. Tenho coisas escritas que guardei e releio, acho interessante, mas não pretendo mostrar sem ter critério.  

UOL: O "TV Pirata" está sendo reprisado no Viva, você assiste?
Diogo Vilela: Às vezes é assisto. É incrível porque tem quadros que eu não lembro que eu fiz. Aí fico assim: ‘gente, será que tem tanto tempo assim?”. Eu tenho um problema com o tempo, acho o tempo esquisitíssimo.

UOL: Como assim?
Diogo Vilela: Acho a lembrança que você tem das coisas mais rápida do que o tempo extenso que levou para durar aquilo. Isso me intriga. Qual o valor do tempo, o da lembrança ou o do que você viveu?  Só eu para pensar isso [risos]. Eu fico questionando as coisas profundas. Sou de escorpião, tenho esse carma.

UOL: Você tem algum trabalho preferido?
Diogo Vilela: O monólogo que eu fiz, “Diário de um louco’, que eu fui super premiado. Não só pelos prêmios, mas fiquei dois anos fazendo esse monologo, e era uma peça do [Nikolai] Gogol linda, talvez essa seja a lembrança de um teatro que eu tenha amado. Foi uma peça muito importante na minha carreira porque foi uma mudança de temperatura do meu destino no teatro, me deu um amadurecimento ali.

UOL: Você tem uma preferência entre teatro, cinema e TV? Me parece que sua relação com teatro é diferente da sua relação com a TV.
Diogo Vilela: Ah, mas é para todo ator. O teatro por si só se impõe como diferente, mas isso não significa que a gente não goste de fazer TV. Eu estou adorando ir para a TV gravar. Adoro as pessoas que eu trabalho, meu núcleo, como se eu tivesse fazendo teatro, não está tendo muita diferença. Só que o teatro é uma necessidade para o ator como se fosse um abastecimento, uma recarga de energia. E a gente sempre tem que voltar a ele para recarregar as baterias.

UOL: O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Diogo Vilela: Eu saio pouquíssimo. Gosto de ver filmes, fico em casa escrevendo, lendo. Sou muito quieto.

UOL: Você tem cachorros?
Diogo Vilela: Tenho dois, Lili e Zeca. Fico com eles, que eu amo. Mas o Zeca está velhinho, está meio cego, mas tudo bem. E a Lili fica grudada comigo o dia inteiro. São aqueles poodles pequenos, aquelas bolinhas brancas.

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