Amante das armas, Lydia Sayeg do "Mulheres Ricas" diz que só mataria se fosse preciso
Paulo Sampaio
Do UOL, em São Paulo
Enquanto leva uma garfada de picanha ao ponto à boca, a “mulher rica” Lydia Sayeg , francamente contrária à campanha nacional pelo desarmamento, começa a dar seus tiros. Com os olhos negros faiscantes semi-cerrados, ela confirma que sempre foi apaixonada por armas de fogo. Mas tranquiliza o repórter: “Eu só mataria se fosse necessário.”
Lydia sugeriu que a entrevista, feita na terça-feira (26), fosse na churrascaria Rodeio do Shopping Iguatemi, em São Paulo. Levou com ela dois “tomadores de conta”: o segurança particular, que está preparado para...bem, só se for necessário; e a assessora de imprensa, que aparentemente quis evitar tiros pela culatra.
Difícil. Lydia gosta mesmo de atirar. Às vezes, é com carinho que manda bala – até elogia a vítima. “A Val (Machiori, companheira no programa “Mulheres Ricas”, que a Band leva ao ar todas as segundas às 22h) é muito corajosa. Não tem medo de se colocar como é. Quantas mulheres, como ela, não saem para conversar com as amigas e, depois, descem a lenha em todas?”
CORAJOSA
A Val (Machiori, companheira no programa “Mulheres Ricas”, que a Band leva ao ar todas as segundas às 22h) é muito corajosa. Não tem medo de se colocar como é. Quantas mulheres, como ela, não saem para conversar com as amigas e, depois, descem a lenha em todas?
Para Lydia, existem muitas Vals em circulação. “Quantos homens não deixam a mulher da vida inteira, a companheirona do dia a dia, para ficar com uma loira alta?” Ela discorda que Val, com seus comentários impróprios (Helô-ô), seja a principal alavanca do Ibope no programa. "Desculpe, quem atrai Ibope é a gente (ela e as outras três participantes, Brunette, Narciza e Débora).
E tome tiro. A paixão de Lydia pelas armas é antiga. Ela conta que, desde pequena, já dava seus tecos de espingarda com o pai, no sítio. “Gente, pra mim é a coisa mais natural do mundo.” Seu alvo preferido são os politicamente corretos. Nesse caso, ela parece acionar uma metralhadora giratória. Gasta munição com gosto na direção daqueles que criticam suas declarações no programa e sua lógica de “mulher rica”.
“Não tem gente que nasceu na fazenda e fala com a maior naturalidade de cobra, de aranha? Eu sou assim com joia e dinheiro. Lido com isso desde que nasci, entende? É a mesma coisa! Não vejo como agressão ao pobre!” E lá vai pipoco. “Gente, pra mim, fazer caridade, comer, beber e fazer sexo é tudo igual!”
Ela pede ao garçom que a sirva de arroz “biro-biro”, especialidade da casa (mexido na frigideira, com cheiro verde, batata palha, bacon e ovo frito). “Ok, eu gasto dinheiro. Mas pensa em quantos salários eu tô ajudando a pagar só nesse restaurante. Vamos contar? O do garçom, o do cozinheiro, o da pessoa que lava a toalha, da que passa, quem mais?, o que trabalha na fábrica de palito, o da fábrica do paliteiro...” Mostra ao garçom a parte do arroz onde há mais ovo, na frigideira. Adoro ovo, diz.
“Não entendo essas pessoas que escondem o que têm dos pobres, como se eles não soubessem o valor. (Chamando o garçom): por favor, vem aqui!: `Você sabe quanto custa um Mercedes?’ E o garçom: `Duzentos conto`. Ela (pro repórter): ‘Viu?’”
A propósito, ela responde que sim, cada uma das "Mulheres Ricas" ganhou dinheiro para participar do programa, mas apenas o suficiente para despesas no cabeleireiro.
O raciocínio muito particular de Lydia aparece especialmente em estampidos que terminam com a pergunta “Qual o problema?”: “Hoje eu li no jornal que um juiz ganha R$ 150 mil. Qual o problema? Ele precisa ser incorruptível!” “Se a pessoa tem 100 pares de sapatos, qual o problema? Quantos livros você tem em casa?”
Os ricos também levam bala, quando saem da linha. Ela conta que, recentemente, esteve em uma festa de casamento no Leopolldo, “uma festa incrível, pequena, mas luxuosa”, e, na saída, ficou indignada com convidados que começaram a gritar porque seus carros não chegavam. Achou uma grosseria com os noivos (não com os valets).
“Gente, então eles dão uma festa, oferecem caviar, champanhe, e os convidados fazem esse papelão na porta? Então fica em casa! Acho o fim!” Sua assessora concorda, diz que conhece muitos ricos mal educados. Lydia parece surpresa, afirma que, entre os amigos dela (“e olha que são muitos”), não há nenhum: “Vou fazer um jantar lá em casa com meus amigos bilionários e te chamar. Você vai vê-los de chinelo de dedo, comendo mandioquinha e perguntando (ela bate palmas acima da cabeça): ‘Cadê o jantar?’”
Não há como negar, é o retrato do bilionário educado.
As ricas também choram
QUANTO CUSTA?
Não entendo essas pessoas que escondem o que têm dos pobres, como se eles não soubessem o valor. (Chamando o garçom): por favor, vem aqui!: `Você sabe quanto custa um Mercedes?’ E o garçom: `Duzentos conto`. Ela (pro repórter): ‘Viu?
Lydia baixa a arma quando fala, com grande paixão, do pai. Conta que era tão apegada a ele que, em fevereiro de 2001, previu assustada sua morte. “Um pouco antes, em novembro, percebi que ele estava se desconectando. Me lembro direitinho”, afirma ela, muito emocionada.
No dia em que seu Ivan morreu, um sábado, o irmão de Lydia, Ivan Filho, ia dar uma grande festa de aniversário, e ela fazia arranjos florais no living do casarão da família, no Morumbi. Logo depois do almoço, seu Ivan se sentou no sofá e fechou os olhos, no que parecia ser uma soneca. “Assim, ele morreu”, lembra Lydia, com os olhos cheios d’água.
Ela conta que seu pai adorava festas e sempre dizia que gostaria de música em seu velório. Então, a família decidiu velar o corpo no próprio living, ao som de Frank Sinatra e Andrea Bocelli. “Foi lindo”, conta Lydia. “Todas aquelas flores, lotou de gente.”
Depois de fazer análise durante 15 anos, Lydia resolveu procurar um psiquiatra para que ele a ajudasse a parar de chorar, sempre que fala do pai. Seus olhinhos brilham quando se refere aos antepassados. Diz que a Casa Leão, joalheria da família, remonta mais de quatro gerações.
Embora seja uma espécie de outdoor ambulante da joalheria, que completa 100 anos este ano (“apesar da concorrência dos chineses, sabe lá o que é isso?”), Lydia não sabe explicar exatamente a origem do brasão que a filha, Jessica, tatuou na região das costelas – a cena foi ao ar no último programa. “Existem coisas que o vovô Leão nos deixou e que eu não sei de onde vieram”, diz. O brasão, um leão deitado, teria sido criado por ele quando chegou da Síria. “A gente usa como logo na joalheria”, diz a gemóloga.
Ainda assim, ela não achou muita graça quando soube que a filha havia tatuado o logotipo no corpo. “Ela é filha de joalheira, o desenho que ela quiser eu faço em ouro e brilhante..” Mas já era tarde...