"Humor tem que ter limite, não pode ser uma coisa nojenta", diz secretário sobre piadas de Rafinha Bastos

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

  • divulgação

    O comediante Rafinha Bastos

    O comediante Rafinha Bastos

Após Rafinha Bastos ser obrigado, através de liminar concedida pela Justiça de São Paulo, a recolher os DVDs de seu show, "A Arte do Insulto", por conter piadas sobre deficientes, o secretário municipal da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, Marcos Belizário, autor intelectual da ação, entrou em contato com o UOL para esclarecer detalhes do processo, que ainda irá se desenrolar no tribunal. Diz que, se condenado, Rafinha ainda poderá pagar 100 mil reais para a Apae, 100 mil reais para fundo de defesa dos direitos difusos e 10 salários mínimos (cerca de 6 mil reais) a cada associado da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo) que se sentir ofendido pelas piadas. Cabe recurso. Leia a entrevista completa com Belizário:

UOL – Como tomou conhecimento das piadas feitas pelo humorista?

Marcos Belizário - Meu filho estava assistindo ao show pela internet e fiquei chocado ao ver o Rafinha fazer duas piadas bastante ofensivas contra os deficientes mentais e físicos. Em uma delas, ele citava diretamente a Apae. Em outra, ele dizia que os cadeirantes não deveriam furar a fila de bancos por passar a vida toda sentados.

Uma piada desse tipo pode colocar a perder um trabalho de 15 anos de inclusão

Marcos Belizário, secretário municipal da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida

UOL – De quem partiu a iniciativa para a ação?

MB - Após assistir ao show, entrei em contato com a presidência da Apae, que me informou que já tinha conhecimento das ofensas, mas não podia contratar um advogado, já que a instituição depende de doações e voluntários. Como tenho um escritório de advocacia, meu sócio, Paulo Ricardo Gois Teixeira, se ofereceu para cuidar do caso. Em 9 de janeiro, entramos com a ação.

UOL- O que o motivou entrar com a ação?

MB - Os órgãos que cuidam de pessoas com deficiência fazem um trabalho forte de inclusão há mais de 15 anos no Estado de São Paulo e, uma piada desse tipo, aplaudida por um grande números de pessoas, pode colocar todo esse trabalho a perder. Isso é muito preocupante. Acho que humor tem que ter limite, não pode ser uma coisa nojenta. 

UOL- Por que o processo corre em segredo de Justiça?

MB - No início achamos que era porque muitos deficientes são crianças, mas depois descobrimos que o juiz achou que a divulgação do caso poderia provocar a curiosidade das pessoas e aumentar a venda dos DVDs. A liminar visa justamente o contrário: estancar o estrago que já foi feito, mas, claro, o humorista pode recorrer. Caso ele ganhe o processo, os DVDs podem ser vendidos novamente.

UOL- Como o processo caminhará daqui para frente?

MB -  No momento em que recebem a notificação, as grandes distribuidoras e revendedoras devem tirar imediatamente o produto de circulação. Após 20 dias, todas as lojas do Brasil, recebendo notificação ou não, devem parar de vender o material. Caso a ordem não seja cumprida, tanto Rafinha Bastos quanto a loja receberão multa.

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