Fãs passam noite em velório de Wando; enterro será aberto ao público

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte (MG)

Assim como os familiares do cantor, fãs de Wando também prestaram as últimas homenagens durante a madrugada desta quinta-feira (9). Uma delas, Isabel Oliveira Batista, 46 – que mora em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte – chegou às 18h no cemitério Bosque da Esperança, também em Belo Horizonte, e acompanhará o enterro do cantor, previsto para às 11h desta quinta. Isabel diz que passar a noite no local é uma forma singela de homenagear Wando, que já embalou sua história de amor com o marido, morto há três anos.

Outra fã, Arlete Gomes de Araújo, 45, veio de mais longe. Ela pegou um ônibus no Rio de Janeiro, às 22h30, e chegou ao velório às 5h. "Sou fã do Wando desde criança. Que bom que consegui chegar a tempo para prestar essa homenagem a ele que sempre foi muito carinhoso com os fãs". Ainda afirma que já recebeu muitos conselhos de Wando por meio das músicas.

Já Laura Maria, 54, mora em Belo Horizonte e chegou ao local às 4h. Foi à cerimônia só para entregar um bilhete para a mulher do artista: "Wando, no seu corpo germina uma semente e foi Deus que a plantou. Um dia, todos nós estaremos com você na eternidade. Vá com Deus. Saudade eterna. De sua fã, Laura Maria".

O sepultamento do cantor, morto nesta quarta-feira (8), após sofrer uma parada cardíaca, também será aberto à imprensa e ao público. Estima-se que cerca de 2 mil pessoas já passaram pelo local. Antes do enterro, será realizada uma cerimônia católica, ministrada pelo padre Jefferson Moreira Lima, amigo de Wando e de sua mulher.

Nesta quarta-feira (8), o compositor Márcio Greyck foi ao velório de Wando e disse que a MPB verdadeira são as canções populares como as do Wando. "Existe uma sigla chamada de MPB. Mas, se a gente for analisar, de popular ela não tem nada. Estigmatizam canções populares, como as do Wando, como bregas. A MPB verdadeira são as canções populares como as do Wando, que transcenderam gerações."

"A morte do Wando é uma perda irreparável porque ele, sem dúvida, era um dos maiores talentos da música popular brasileira, a música realmente popular."

Nos últimos tempos, Greyck se tornou amigo íntimo de Wando, que não comentou sobre nenhum problema de saúde. "Essa história de ele ser conquistador foi marketing. Isso cativou as pessoas e transformou seus shows. Ele passava imagem de despudorado, sem vergonha, mas intimamente era um cavalheiro, de educação extraordinária. Tinha um fino trato com as pessoas e, para minha surpresa, era até um pouco tímido."

Circunstâncias da morte
De acordo com Heberth Miotto, coordenador da UTI do Biocor, Wando começou a apresentar queda de pressão por volta das 5h40 desta quarta. “Houve uma intervenção médica, sem sucesso, e às 6h40 foi confirmada a parada cardíaca”, explicou.

Em entrevista coletiva no início desta tade, o médico responsável por acompanhar a saúde do cantor reafirmou que Wando vinha apresentando uma melhora clínica muito boa durante a semana. “Mas houve uma piora cardiológica súbita. Apesar de todos os esforços, ele não respondeu às manobras de ressuscitação. Toda a equipe está muito triste e se solidarizando com a família”, afirmou.

Miotto acrescentou que, nesta semana, a equipe médica estava tentando tirar o aparelho respirador do cantor. “Na segunda-feira, ele ficou duas horas sem o respirador. Ontem foi um dia muito bom para ele, que chegou a se alimentar com duas colheres de iogurte. Foi repetido o eletrocardiograma, que demonstrou uma estabilidade. Estava tudo correndo muito bem”, disse, ressaltando no entanto que, por conta da gravidade da doença de Wando - que tem um grau de mortalidade de até 80% no mundo todo - "nunca seria possível  zerar" o risco de morte do cantor.

Wando estava internado desde o dia 27 de janeiro no Biocor Instituto, onde deu entrada após sofrer dores no peito. Em 28 de janeiro, ele foi submetido a uma angioplastia coronariana de emergência para desobstrução de artérias do coração.

No último dia 31, em conversa com jornalistas, a mulher do cantor afirmou que Wando não bebia nem fumava e mantinha os exames médicos em dia. “O Wando trabalha demais, não tem tempo para se exercitar, come errado e tem ainda o problema hereditário, porque o pai dele faleceu do coração”, afirmou a psicóloga Renata Costa Lana e Souza na ocasião.

Surpresa e homenagens
A notícia da morte de Wando também pegou de surpresa amigos e colegas do meio artístico que conviveram com o cantor. Jair Rodrigues, um dos responsáveis por fazer de Wando um cantor e compositor conhecido, contou por telefone ao UOL sobre a relação que tinha com o artista. "É muito triste acordar com essa notícia, mas quando chega a hora o homem lá em cima não falha", disse Jair. "Tempos atrás encontrei com ele e ele estava gordo, falei para ele cuidar da saúde", lembra.

Angela Maria, uma das primeiras cantoras a gravar uma composição de Wando, também se confessou surpresa. "Ninguém esperava que ele fizesse isso com a gente". Ela contou que conheceu Wando no início da carreira dele, "quando ele ainda usava black power". "Ele virou para mim e disse: 'Fiz uma música que é a sua cara'. Então gravei 'Vá, Mas Volte', grande sucesso". A artista afirmou que vai ser difícil alguém preencher a vaga de Wando. "Foi um grande artista para a música brasileira".

A rede social Twitter também foi usada por artistas e celebridades para manifestar solidariedade à família do cantor. ":(((( Meus sentimentos à família e amigos. Descanse em paz, Wando. :(", escreveu a cantora Mariana Belém. O ator José de Abreu lembrou do maior hit de Wando com a hashtag #meuiaiaimeuioio e acrescentou: "RIP Wando. O homem que elevou a calcinha a símbolo nacional."

Biografia
Antes de ser músico, o mineiro Wanderley Alves dos Reis foi entregador de leite, vendedor de jornal e feirante. Quando foi morar na cidade de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, entrou para uma banda chamada Escaravalhos.

Já vivendo de música e compondo, Wando mudou-se para São Paulo, onde teve a chance de conhecer o músico Jair Rodrigues. Em 1971, Rodrigues gravou a composição de Wando "O Importante É Ser Fevereiro". "Trinta dias depois eu era sucesso nacional como compositor. Dois meses depois, eu era sucesso em todo o Carnaval. Foi uma música muito tocada no Carnaval. Além disso, eu recebi um monte de dinheiro. A primeira coisa que eu fiz foi comprar um Opala vermelho, e ainda não tinha carteira, hein", contou o cantor em um depoimento para seu site oficial.

O início da carreira foi pontuado pela gravação de sambas compostos por ele próprio e outros de compositores desconhecidos. No entanto, do segundo disco em diante, Wando fez uma opção clara pelo repertório romântico-brega, recheado de canções com conteúdo sensual e erótico. Um de seus maiores sucessos é “Fogo e Paixão”.

Seus discos têm títulos sugestivos como “Ui-Wando de Paixão”, “Vulgar” e “Comum É Não Morrer de Amor”, “Obsceno”, “Depois da Cama”, “Tenda dos Prazeres” e “Mulheres” – que lhe rendeu o título de cantor mais erótico do Brasil.

Os cenários de seus shows são, em geral, banheiras, camas e haréns. Wando também era conhecido por distribuir calcinhas perfumadas ao público feminino nas apresentações.

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