"Quando descobri o que era ser paquita não gostei nem um pouco", diz Luciana Vendramini, que faz aniversário nesta segunda (10)
James Cimino
Do UOL, em São Paulo
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Leonardo Soares/UOL
Luciana Vendramini durante sessão de fotos em sua produtora em Pinheiros (07/12/2012)
"Quando me perguntam minha idade, eu faço como a Tônia Carrero. Ela diz que temos três idades: aquela você realmente tem, a que os outros acham que vocês tem e a que você acha que você tem. A idade que eu acho que eu tenho, portanto, é 27", diz aos risos a atriz Luciana Vendramini, que faz 42 anos nesta segunda (10).
Ela recebeu a reportagem do UOL com exclusividade na sede de seu novo empreendimento, uma produtora de programas para a TV a cabo no bairro de Pinheiros (zona oeste de São Paulo). "E importante para um ator no Brasil ter uma segunda opção de trabalho." Lá, contou como sua carreira artística começou por intermédio da apresentadora Xuxa Meneghel, além de outras histórias, como a difícil sessão de fotos para a revista "Playboy", com apenas 16 anos.
"Primeiro me chamavam de ninfeta. Eu achei que estavam me xingando. Não entendi muito bem o que era. Depois me chamaram de ‘Lolita’. Aí fui ler o livro do Vladimir Nabokov. Entendi, mas não compreendi. Hoje, quando olho para aquelas fotos, eu entendo perfeitamente. Vejo meu olhar... Como eu era ingênua..."
Leia a entrevista completa:
UOL – Antes de começar a entrevista você disse que chegar aos 40 anos era um impacto. Por quê?
Luciana Vendramini – Porque é muito diferente dos 30. Com 30 você ainda não está madura. Com 40, você já se basta. Já fez as coisas, já passou por várias situações. É como se os anos anteriores fossem o ensaio para a vida daqui pra frente. Dá uma impressão de que agora a gente não vai errar. Ou pelo menos tenta não errar. O [escritor argentino] Jorge Luis Borges que diz que nós devíamos ter duas vidas. Uma pra ensaiar e outra pra viver. Antes eu tinha o maior medo desse lance de idade da loba. Mas hoje eu sou mais feliz. Até no sexo. E olha que comecei aos 13...
Sua primeira vez foi aos 13?
Não! Meu primeiro trabalho foi aos 13! [risos] Minha primeira vez foi quando casei, aos 17, com o Paulo [Ricardo, vocalista da banda RPM]. E quer saber? Acho que foi cedo. Eu ainda tenho a cabeça um pouco interiorana [a atriz nasceu em Jaú, interior de São Paulo]. Com 13 anos eu ainda brincava de Barbie...
Você se casou quantas vezes?
Casar você quer dizer morar junto, né? Foram nove anos com o Paulo Ricardo, depois mais dois anos e meio com o [produtor musical] David Shaman e hoje estou com o Stefan Weitbrecht há cerca de quatro anos...
Quantos anos ele tem?
Vinte e cinco...
Mais novo? Por que muitas mulheres mais maduras estão preferindo estar com homens mais novos? Madonna tem 54 e um namorado de 27; a Demi Moore tem 50 e um namorado de 25... O que você acha aconteceu com as mulheres?
Acho que o que aconteceu é que nós não envelhecemos, foi isso...
E o que você faz para não envelhecer?
É engraçado. Antes dessa entrevista eu estava pensando o que iria responder quando você me perguntasse isso. Não tenho fórmula nenhuma. Faço apenas dois aparelhos de drenagem linfática, uso vitamina C, hidratante, protetor solar, mas nunca fiz plástica, nem botox. Morro de medo até de tomar injeção. Eu nunca faria nada na boca, por exemplo, que é o que mais denuncia. Pretendo continuar assim até os 50, pelo menos. Dizem que minha cabeça vai mudar aos 50 sobre isso. Vamos ver...
Eu sempre fui muito precoce, menos pra malandragem. Tanto que eu nem sabia o que era paquita. Quando uma amiga me disse, faltei ao colégio para assistir ao programa e ver como era. Eu não gostei não, viu? Mas achei que era o caminho para eu dançar um "pas-de-deux" com o Mikhail Barishnikov.
Quais são as suas medidas?
98 de busto, 99 de quadril e 65 de cintura. Mantenho-me assim talvez pelo fato de eu nunca ter fumado nem ingerido álcool.
E drogas, nunca usou?
Todo mundo pensa que porque fui mulher de roqueiro usei de tudo. Só fumei maconha uma vez, passei mal e vomitei.
Mas quando você frequentava o meio do rock nacional você não sofreu influência? Não presenciava o seu "entourage" usando?
Eu era muito boba. Não via nada. O que eu via era um monte de gente feliz e cantando. Achava divertido.
Você tinha ciúme das groupies? Elas caíam matando em cima do Paulo Ricardo, não?
Nem um pouco! Elas caíam matando em cima de mim. Me agarravam! Eu fazia amizade com elas.
Te agarravam? Você teve alguma experiência sexual com elas?
Não, não! Mulher não é minha praia. Não me atrai o cheiro de mulher e acho uma bobagem essa história de que o mundo é gay. O mundo não é gay não! Eu acho que a pessoa nasce assim...
Não acredita em bissexualidade?
Bom, isso aí eu sei que existe. Mas pra mim não serve. Acho muita informação! [risos]
Então como foi pra você gravar o primeiro beijo lésbico da TV brasileira na novela "Amor e Revolução"?
Pra mim foi muito positivo. Eu recebia elogios de mulheres heterossexuais. Uma garçonete uma vez me disse que embora não fosse gay, estava torcendo para que as duas personagens ficassem juntas porque nosso beijo tinha sido muito lindo.
E como foram as gravações com a Giselle Tigre?
A gente teve a maior química! Hahahahaha!
Mas os patrocinadores pularam fora da novela depois do beijo, não?
Essas coisas não chegavam à gente. Só soubemos das fofocas depois. É inacreditável, né? O Brasil ainda está em 1920! Uma coisa que é natural desde que a Grécia é Grécia. Eu pedi dicas a várias lésbicas para gravar. Perguntei o que as motivava na hora de fazer amor.
E o que elas disseram?
Que era o espelho de si mesmas que produzia o encantamento. Mas cortaram muitas cenas. Não de nudez, mas conversas na cama, a gente tirando a lingerie uma da outra. A delicadeza de uma mulher tocando o corpo da outra... Eu dizia pro diretor, o Reynaldo Boury, que eu não ia dar bitoquinha da Hebe, não. Gravamos duas vezes. Nós ríamos muito. A Giselle falava: "Ai que estranho pegar num rosto de mulher! Não tem barba!"
Cortaram muitas cenas. Não de nudez, mas conversas na cama, a gente tirando a lingerie uma da outra. A delicadeza de uma mulher tocando o corpo da outra... Eu dizia pro diretor, o Reynaldo Boury, que eu não ia dar bitoquinha da Hebe, não. Gravamos duas vezes. Nós ríamos muito. A Giselle falava: "Ai que estranho pegar num rosto de mulher! Não tem barba!"
Conta pra gente uma lembrança doce de infância que você guarda.
Quando eu tinha uns nove anos lá em Jaú tinha essa coisa, que tem muito no interior, de lavar calçada. Hoje a gente sabe que isso é um grande desperdício de água, mas a minha mãe lavava e eu lavava com ela. E daí eu bebia a água da mangueira. Lembro do gosto dessa água até hoje!
Você chegou a fazer faculdade?
Não. Eu tentei conciliar os estudos o quanto pude, mas só terminei o segundo grau. Mas ainda quero estudar psicanálise ou filosofia. Porque me intriga muito tudo que trata da mente humana.
E essa história de que você participou de uma seleção para ser paquita e não passou?
Isso não é verdade. A Xuxa me conheceu em Jaú. Eu, aos 15 anos, dava aula de balé para 90 crianças e organizei um desfile pra ela, que ficou impressionada com minha desenvoltura. Eu sempre fui muito precoce, menos pra malandragem. Tanto que eu nem sabia o que era paquita. Quando uma amiga me disse, faltei ao colégio para assistir ao programa e ver como era. Eu não gostei não, viu? Mas achei que era o caminho para eu dançar um "pas-de-deux" com o Mikhail Barishnikov. Esse era meu sonho, balé era minha vida.
Por quanto tempo você foi paquita?
Durante oito meses. Fui pro Rio de Janeiro, mas eu era muito caipira. Eu não usava biquíni, usava maiô, porque meu pai não deixava usar biquíni. Eu queria ser uma menina de Ipanema, mas ficava envergonhada de não ter nenhuma história de amor pra contar. Eu era de uma comunidade cristã em Jaú, ia à missa todo domingo. Eu podia ter virado uma porra loca, mas logo que entrei para a Ford Models eu só pensava em estudar teatro com o Antunes Filho. Eles não aprovavam. Eu era o maior faturamento da agência. Mas fui e fiz o teste escondida. Nessa época eu já tinha dinheiro para ficar uns cinco anos sem trabalhar. Já tinha um apartamento, casa no interior e um sítio. Tenho tudo isso até hoje.
E quando você soube que era atriz?
Minha mãe disse que a primeira vez que percebeu isso foi quando ela me viu pequena assistindo "Escrava Isaura" e imitando a Lucélia Santos em frente à TV. Depois no balé eu já seguia o estilo interpretativo da Pina Bausch. Eu só não tinha muito esse universo da TV. Meu pai me deixava assistir "O Bem Amado" porque eu pedia muito. Aí ele assistia junto, mas não entendia muito bem quando eu ria das piadas do Odorico [Paraguaçu, personagem de Paulo Gracindo]. Aí quando me chamaram pra fazer "Vamp", aceitei na hora porque tinha o sonho de me tornar uma vampira. O duro é que a minha personagem nunca virou vampira, hahahahah!
Você diz que sempre foi recatada, mas posou para a revista "Playboy" aos 16 anos...
Contraditório, né? Pois é. Minha vida é cheia de contradições. Acontece o seguinte: eu achava que eu era uma carioca. E embora eu nunca tivesse transado até então, eu me achava uma Leila Diniz. Eu já tinha sido emancipada pelo meu pai para que eu pudesse receber o salário de professora de balé lá em Jaú. Então aceitei fazer as fotos, mas fiquei chorando o ensaio inteiro, porque eu não queria fazer. Eu também não entendia por que alguém ia querer ver uma menina que quase não tinha peito. Daí saiu e começaram a me chamar de ninfeta. Achei que estavam me xingando. Não entendi muito bem o que era. Depois me chamaram de ‘Lolita’. Aí fui ler o livro do Vladimir Nabokov. Entendi, mas não compreendi. Hoje, quando olho para aquelas fotos, eu entendo perfeitamente. Vejo meu olhar... Como eu era ingênua... Carreguei durante muito tempo esse estigma de "Lolita", mas as pessoas não conhecem o cão que ladra dentro de mim.