Em cartaz em SP, Andréa Beltrão diz ter pena de quem filma peça e show

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Nil Caniné/Divulgação

    13.ago.2013 - Andréa Beltrão e elenco em cena do musical "Jacinta", em cartaz no Sesc Vila Mariana

    13.ago.2013 - Andréa Beltrão e elenco em cena do musical "Jacinta", em cartaz no Sesc Vila Mariana

Prestes a completar 50 anos (34 só de carreira), a atriz Andréa Beltrão acaba de estrear no teatro do Sesc Vila Mariana (zona sul de SP) a comédia musical "Jacinta", em que interpreta a pior atriz do mundo. A verve para a comédia se percebe o tempo todo, já que a ela faz piada e comentários jocosos sobre várias coisas e atitudes. Por exemplo: pessoas que filmam shows, peças ou que vão a museus para fotografar quadros.

Nil Caniné/Divulgação
A gente volta e meia tá lá encenando e tem alguém filmando. A gente deixa, né? Porque no fundo eu tenho pena. A pessoa deixa de viver aquilo para ficar armazenando tudo em um aparelho. No museu, por exemplo, ela vê o quadro através da câmera. Ela nem vê o quadro, na verdade. Eu tenho horror a ficar fotografando e filmando tudo. Tem coisas que quero acessar na minha memória apenas e por acaso. Claro que uma foto ou outra pra guardar de lembrança é bom, mas guardar tudo é um saco!

Andréa Beltrão, sobre quem vive filmando e fotografando espetáculos

"A gente volta e meia tá lá encenando e tem alguém filmando. A gente deixa, né? Porque no fundo eu tenho pena. A pessoa deixa de viver aquilo para ficar armazenando tudo em um aparelho. No museu, por exemplo, ela vê o quadro através da câmera. Ela nem vê o quadro, na verdade. Eu tenho horror a ficar fotografando e filmando tudo. Tem coisas que quero acessar na minha memória apenas e por acaso. Claro que uma foto ou outra pra guardar de lembrança é bom, mas guardar tudo é um saco!"

Outras coisas que Andréa acha um saco são expressões batidas e usadas à exaustão, como "tal coisa foi como realizar um sonho" ou "o papel foi um presente do autor".

"Isso é vício de filha de professora de português. Não dá pra aceitar que uma pessoa repita uma palavra duas vezes em uma frase de dez linhas. Imagine a vida inteira. Sonho é uma palavra tão bonita, mas já anda tão gasta. Sem falar nesse papo de o papel é um presente. Além de gasto, quer dizer o que? Poxa, papel é uma construção de várias pessoas. Se você fala que foi um presente, dá a impressão de que você não tem o menor talento pra interpretar aquele papel e que só tá fazendo porque o autor gosta de você. Tipo: 'Toma, um presente pra você!' 'Obrigada!'", diz a atriz aos risos.

Embora esteja interpretando um musical, com 12 músicas compostas pelo titã Branco Mello (ouça a trilha do espetáculo aqui), Andréa Beltrão é categórica ao dizer que não pretende participar de nenhum dos inúmeros musicais importados que têm vindo ao Brasil. "Não tenho o menor interesse em reproduzir no meu país algo tão importado. Não tenho preconceito. Vou assistir e acho ótimo que lote porque acredito que acaba formando plateia para o teatro, mas não me dá vontade. Claro que eu também não sou uma Vanessa Gerbelli, uma Claudia Neto, mas tento não sacrificar o ouvido da plateia. E como sou muito CDF, acaba saindo bonitinho, mas na escala das atrizes cantoras, eu estou lá embaixo."


Aplaudida de pé
Dentre os vários trabalhos que fez na TV e no teatro, Andréa Beltrão comemora o fato de poder escolher os trabalhos. O critério, segundo ela, é saber com quem vai trabalhar. "Essa história do bloco do eu sozinho comigo não funciona."

Também se lembra de quando "apanhou da crítica" quando fazia a peça "Senhorita Julia", ao lado de José Mayer. "Não foi um fracasso de público, porque a gente estava fazendo muito sucesso nas novelas, mas apanhei muito. Foi bom ter apanhado, porque fui aprendendo ao longo da peça", diz a atriz que não acha fácil fazer papel de canastrona em "Jacinta". "É fácil ficar tosco."

Difícil de acreditar que ela consiga fazer algo tosco, especialmente quando Andréa carrega no currículo uma das melhores interpretações de Shakespeare que se viu, não no teatro, mas na TV. Na série "Som e Fúria", baseada na obra de William Shakespeare e transmitida pela Globo, Andréa lembra do monólogo em que a personagem Gertrudes, da tragédia "Hamlet", narra a morte da jovem Ofélia, interpretada por Maria Flor. Com lágrimas nos olhos, a voz embargada e uma dor que transpunha a tela da TV, a atriz emocionou todo o set de gravação e foi aplaudida de pé por toda equipe técnica e pelo diretor Fernando Meirelles.

"Aquilo foi lindo. E saiu de primeira. Quando eu terminei, falei pra todo mundo: 'Gente, isso aqui nunca mais vou conseguir repetir, viu?' Depois pensei comigo: 'Acho que sou uma atriz. Acho que aprendi alguma coisa.'

Nil Caniné/Divulgação
Esse papo de o papel é um presente. Além de gasto, quer dizer o quê? Poxa, papel é uma construção das pessoas. Se você fala que foi um presente, dá a impressão de que você não tem o menor talento pra interpretar aquele papel e que só tá fazendo porque o autor gosta de você. Tipo: 'Toma, um presente pra você!' 'Obrigada!'

Andréa Beltrão, sobre clichês

Boa forma

Quem vê Andrea dançando, pulando e cantando durante mais de duas horas em cena, não diz que ela já está na casa dos 50. A pele com poucas rugas e o corpo esbelto também não denunciam a idade. "Dá pra você botar isso na sua matéria com letras garrafais?", brinca.

Em seguida dá a fórmula: "Eu faço muito esporte. Corro, nado. E gosto a beça de viver. Aproveito ao máximo a vida. E quer saber? Vou usar outra expressão bem cafona e gasta: 'Acho um presente viver bem' [risos]. Desde que eu perdi meu irmão, que tinha 19 anos e sofreu um AVC [acidente vascular cerebral], e depois, no mesmo ano, morreu minha avó, eu aprendi que a vida é assim. Você fala pra alguém 'até daqui a pouco' e nunca mais vê a pessoa. Então, eu vou correr pro abraço dos 50 feliz da vida!"

Antes de Marieta, depois de Marieta

Pouco se ouve falar no mundo artístico de amizades tão sólidas e duradouras como a que Andréa Beltrão tem com Marieta Severo, de quem é sócia no teatro Poeira, no Rio de Janeiro. Quando fala da amiga, Andréa é só elogios e diz que sua vida mudou completamente desde que se conheceram nos bastidores da peça "A Estrela do Lar", no fim dos anos 1980.

"Ela é uma das pessoas mais curiosas, observadoras e que quer saber muito do outro. Ela é pouquíssimo centrada em si mesma e a gente viu isso uma na outra", conta. "Agora, o 'momento mágico', para usar outra palavra gasta foi quando deram o camarim dessa peça para ela. Ela era a estrela e eu a tinha como ídolo. E o camarim dela era grande. Eu era só uma atriz contratada. Quando ela viu o camarim, ela disse: 'Mas que camarim enorme! Vou ficar aqui sozinha? Que coisa chata! Eu gosto de falar, de conversar. Divide o camarim comigo, Andrea?'. Diante de um pedido desses, eu ia dizer o que? Ela mudou minha vida completamente. Costumo dizer que minha vida se divide em A.M. e D.M.: Antes de Marieta e depois de Marieta."

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