"É claro que eu não molestei Dylan", diz Woody Allen em carta do "NYT"

Do UOL, em São Paulo*

Veja fotos de Woody Allen
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Após pedir direito de resposta ao jornal The New York Times, o cineasta Woody Allen publicou uma carta em que afirma não ter molestado a filha adotiva Dylan Farrow, hoje com 28 anos.

"É claro, eu não molestei Dylan. Eu a amava e espero que um dia ela entenda como ela foi explorada por uma mãe interessada em sua própria raiva repulsiva do que no bem-estar de sua filha e que teve um pai amoroso", afirma Allen.

Allen mostrou condescendência com sua filha, de quem eximiu toda a culpa, e investiu contra sua ex-mulher Mia Farrow. Ele a descreve como uma mulher dominada por sua própria raiva e que nunca conseguiu superar o fato de que o diretor a deixou para se casar com Soon-Yi Previn, a filha que ela tinha adotado e que tinha então apenas 19 anos.

"Não é que duvide que Dylan tenha chegado a acreditar que sofreu abusos, mas se, desde os sete anos, uma vulnerável menina é ensinada por uma mãe de forte personalidade a odiar seu pai porque ele é um monstro que abusou dela, é tão inconcebível que, após muitos anos de doutrinamento, a imagem que Mia quis estabelecer tenha criado raízes?", se perguntou Allen.

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"As pessoas devem se perguntar se foi Dylan quem escreveu a carta ou se foi, pelo menos, orientada por sua mãe".

"A carta realmente beneficia Dylan ou simplesmente reflete as intenções mesquinhas de sua mãe? Intenções que tentam prejudicar minha imagem. Inclusive existe na carta uma tentativa de prejudicar minha carreira ao tentar envolver estrelas do cinema. O que se remete muito mais a Mia do que a Dylan", completou Woody Allen.

Em sua carta, a filha de Allen se refere diretamente a alguns artistas - "O que aconteceria se tivesse sido sua filha, Cate Blanchett? Louis CK? Alec Baldwin? E se tivesse sido você, Emma Stone? Ou você, Scarlett Johansson? Você me conhecia quando era uma menina, Diane Keaton, já esqueceu?".

Allen evita condenar Dylan e envia mensagens claras de reconciliação. "Espero que um dia entenda de quem você realmente foi vítima e volte a ter contato comigo assim como fez Moses, de uma forma carinhosa e produtiva", escreveu o ator, em referência a seu filho.

Moses Farrow, de 36 anos, saiu recentemente em defesa do pai e disse estar convencido que ele nunca abusou de Dylan, assim como acusou sua mãe de tentar manipulá-lo contra Allen.

O diretor, em seu artigo no "New York Times", deixou claro que com suas palavras não pretende desanimar as vítimas de abusos a denunciarem seus casos, mas lembrou que às vezes existem pessoas que fazem acusações "falsas". "E isso também é algo destrutivo", ressaltou.

"Este artigo é minha última palavra sobre este assunto e ninguém nunca responderá em meu nome sobre futuros comentários de qualquer parte. Muitas pessoas já foram feridas", concluiu o diretor, que pretende enterrar desta maneira uma polêmica de duas décadas que, no entanto, não afetou sua carreira como um ícone do cinema americano.

Dylan Farrow, filha da atriz Mia Farrow, publicou no último sábado (2) uma carta aberta no jornal The New York Times contando ter sido abusada sexualmente quando tinha 7 anos por seu pai adotivo, Woody Allen.

"Quando eu tinha sete anos, Woody Allen me pegou pela mão e me levou para um sotão mal-iluminado no segundo andar de nossa casa. Ele me mandou deitar de barriga para baixo e brincar com os trens elétricos de meu irmão. Ele então abusou sexualmente de mim. Ele falava enquanto fazia, murmurando que que eu era uma boa menina, que isto era nosso segredo, prometendo que nós iríamos a Paris e que eu seria uma estrela do cinema", completou Dylan Farrow.

Relatório de 1993 concluiu que não houve abuso

Em 1993, poucos meses após o abuso de Dylan ter ocorrido, o time médico do Yale-New Haven Hospital que trabalhou no caso entregou à polícia um relatório no qual atestava que o abuso não teria ocorrido. Partes do documento foram obtidas pelo site Radar Online e divulgadas na última quinta-feira.

No relatório, os médicos relatam que, entre setembro e dezembro de 1992, fizeram 16 entrevistas com todos os envolvidos no caso. Eles falaram com Dylan nove vezes e a definiram como "controladora": "Dylan se mostrou uma criança de sete anos inteligente e verbal, cuja habilidade de contar histórias era muito elaborada e similar à fantasia, e que manifestava associações vagas em seu pensamento. Ela parecida confusa sobre o que contar aos entrevistadores e era muito controladora em relação ao que dizia".

Os entrevistadores também notaram que a menina era muito apegada à mãe e estava sofrendo por conta da separação dela e de Woody Allen. "Ele estava chateada pela perda de seu pai e de Soon-Yi e temia que o pai dela pudesse tirá-la dos cuidados de sua mãe. Ela se sentia muito protetora em relação à mãe e se preocupava com ela. Dylan era muito ligada à dor de sua mãe, que reforçou as perdas de Dylan e a visão negativa do pai dela", diz o relatório.

No documento, os médicos disseram ter trabalhado com três hipóteses: a de que Dylan tivesse de fato sido abusada por Woody Allen;  a de que Dylan tivesse inventado as acusações por estar "emocionalmente vulnerável" em meio a "estresses familiares"; e a hipótese de que a menina houvesse sido influenciada pela mãe a fazer as acusações.

"Ainda que possamos concluir que Dylan não foi sexualmente abusada, nós não podemos ter certeza de que a segunda e a terceira hipóteses são verdadeiras. Nós acreditamos que é mais provável que uma combinação das duas formulações explique melhor as acusações de abuso sexual", afirmava o relatório.

A equipe ainda listou quatro razões que apoiavam suas conclusões: "1- Há inconsistências importantes nos depoimentos de Dylan em vídeo e nos depoimentos dela a nós; 2 – Ela parecia ter dificuldades sobre como contar sobre os toques [de Allen]; 3- Ela contou a história de uma forma excessivamente cuidadosa e controlada. Não havia espontaneidade nos depoimentos dela e um tom ensaiado era sugerido na maneira como ela falava; 4- As descrições dela dos detalhes sobre os supostos eventos eram incomuns e inconsistentes".

*Com informações da agência EFE.

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