Famosos adotam macacos, tigres e até zebras como bichos de estimação

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

Nem cachorro, nem gato, nem peixinho dourado. Tem famoso que não se satisfaz com qualquer bicho de estimação e vai logo atrás dos mais exóticos. A espécie da moda é o macaco-prego - adotado por nomes como o cantor Latino, o boleiro Sheik e o estilista Ricardo Almeida - mas há outros, como o empresário e cantor Reinaldo Kherlakian, que mantêm um verdadeiro zoológico em casa.

"É um amor enorme. Sinto muitas saudades dele quando viajo", revela ao UOL Latino, que se derrete ao falar do "amiguinho" Twelves, o macaco-prego do músico e de sua mulher, a modelo Rayanne Morais. Dado como presente de casamento por um amigo do casal, Twelves é tratado por Latino como filho. "Ele tem um closet com as roupinhas dele, come bastante fruta, toma banho, tem um quartinho confortável com brinquedos e dorme agarrado com a gente. Quando não está comigo, está com a Rayanne. É exatamente como um bebê", compara o cantor, pai de quatro filhos.

Reprodução/Instagram
Com mais cliques do que as imagens de Latino nas redes sociais, Twelves ganhou um perfil próprio no Instagram e deverá estrelar em clipe musical do cantor em breve. "Às vezes as fotos dele dão mais cliques que as minhas [risos]. Vou montar um Instagram para ele também. Ele faz coisas que ninguém acredita"
Um macaco-prego costuma ser comercializado por cerca de R$ 40 mil, dependendo do criador, e o gasto com adestramento fica em torno de R$ 3.000 mensais, conforme informou o adestrador André Poloni, responsável por treinar as macacas Julia da socialite Renata Scarpa, Cuta do jogador de futebol Sheik e Julieta do estilista Ricardo Almeida – procurado pela reportagem ele não quis falar sobre seu animal de estimação.

"Dá muito trabalho adestrar um macaco. Ele é muito inteligente, mas é preciso treiná-lo, ensinar a colocar coleira, colocar fralda, a tomar banho, colocar roupa, fazer atividades físicas. O treinamento leva em média de cinco a sete anos. O ideal é que esse animal tenha um espaço só para ele, para que possa brincar, destruir coisas e consiga fazer qualquer coisa que faria na natureza", explica o profissional, que é dono do macaco Skinner há seis meses.

Para Poloni, os macacos têm cativado os famosos não só pela excentricidade, mas principalmente por sua capacidade de interagir com os donos. "Gosto do macaco porque ele é inteligente. Quem gosta muito de bicho sonha em ter um animal que consiga interagir", avalia. O adestrador explica, no entanto, que é necessário respeitar o tempo de adaptação do animal. "Não adianta pegar um filhote e querer que ele coma com colher logo de cara. É preciso socializar com o animal, ensiná-lo a pular nas pessoas, a sair do colo. É praticamente um bebê. Uma criança que vive 40 anos e, durante esse período, vai precisar de você."
 
Zoológico particular
Herdeiro da Galeria Pagé, um dos primeiros shoppings comerciais do centro de São Paulo, o empresário e cantor Reinaldo Kherlakian não tem macacos, mas uma visita à sua mansão em um terreno de 4.000 m² no bairro do Morumbi em São Paulo, revela um tigre, uma zebra, 11 minicavalos, uma cacatua, um papagaio do Congo, um jumento, uma vaca, além de araras e cachorros, que somam cerca de 40 animais.
 
"Desde pequeno, sempre gostei muito de animais. Em vez de ter uma piscina ou uma quadra de tênis, preferi ter bichos. Tenho uma relação muito interessante com eles", conta o empresário de 60 anos, que, aos 21, adquiriu um leão de três meses para suprir a ausência do irmão gêmeo, que saiu de casa para casar. "Dormia com meu irmão todos os dias e de repente ele disse que ia casar. Acabei comprando um leão em um circo. Minha mãe ficou apaixonada, meu pai queria matar todos nós", lembra.
 
Mas foi a lei 7.291/2006, que desde 2010 proíbe a exploração de animais em circos ou com fim lucrativos em todo o Brasil, que fez com que a coleção de bichos de Kherlakian aumentasse. Nessa época, bateu às suas portas o tigre Sultão.

"Eu disse que não poderia ficar com ele, mas o dono do circo disse que nenhum zoológico quis abrigá-lo, porque ele estava doente, desidratado e com epilepsia. Chamei uma equipe de veterinários e fui cuidando dele. Até um ano de idade ele dormia no meu quarto", conta ele, que chegou a gastar R$ 5.000 com uma das vacinas do felino de estimação que, aos três anos e meio, atinge 300 kg e 2,20 m de comprimento e possui uma área reservada da casa para si, cercada por árvores e uma piscina particular.

Rodrigo Capote/UOL
A zebra Mortadela recebeu esse nome de seu dono, o Reinaldo Kherlakian, pois segundo "ela andava meio capengando"
Sultão também tem atividades físicas diárias e conta com os cuidados de oito pessoas. "Ele mantém uma rotina saudável. A gente brinca com ele, dou leite na mamadeira todo dia às 15h, porque isso cria um vínculo, e ele também corre para gastar energia. Depois ele costuma ficar três horas assistindo a TV em casa. O Sultão é bem calmo, conseguimos socializar com ele", afirma Kherlakian.

Pela nova lei, ao acolher um animal como o tigre Sultão em casa, Kherlakian passa a ser considerado como o de um fiel depositário, ou seja, uma pessoa que se tornou acolhedora por conta da ausência de um local especializado em abrigar o animal. De acordo com Marco Ciampi, fundador da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (Arca Brasil), qualquer pessoa que recebe um animal selvagem ou silvestre como fiel depositário, "passa a ter um papel social".

"Me reporto a cada 90 dias às autoridades e recentemente ganhei o título de zoológico. Meus animais são calmos e gordinhos", garante o herdeiro da Pagé.

Contra o tráfico de animais

De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), à exceção dos casos previstos na lei do fiel depositário, quaisquer animais silvestres devem ser adquiridos em criadouros autorizados pelo instituto ambiental. Os animais costumam chegar aos criadores pelas mãos do próprio instituto, que após capturar os bichos em cativeiros clandestinos, os entregam para criação quando  não é possível devolvê-los à natureza. A importação de animais silvestres de fora do país é proibida, segundo o Ibama.


Campi, o fundador da Arca, diz que há brechas nas leis brasileiras quando o assunto é animais. "A fiscalização é tímida. Não há uma política nacional sistemática e efetiva nas fronteiras, apesar de [o tráfico de animais] ser o terceiro maior tráfico do Brasil – atrás de drogas e de armas. Tem cidades no interior da Bahia que vivem do comércio de aves", afirma o ativista, que não vê com bons olhos a criação de espécies selvagens ou silvestres em ambientes urbanos.

"É condenável a atitude do ser humano de achar que deve viver próximo ou trazer essas espécies para viver consigo. Já criticamos, inclusive, o programa da Ana Maria Braga ["Mais Você"] que exibe um papagaio que fala. A atitude acaba propagando a ideia de que é legal ter um papagaio dentro de casa, que ele irá se comunicar com você. Muitas vezes o bicho se comunica por conta da situação de estresse. Trazer o animal selvagem ou silvestre para dentro de casa incentiva o comércio ilegal e isso é nefasto", defende Campi.

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