Com 50 anos de estrada, Renato Aragão revela mágoa e se apoia em projetos
Marcela Ribeiro
Do UOL, no Rio de Janeiro
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João Miguel Júnior/TV Globo
Renato Aragão apresenta o telefilme "Didi e o Segredo dos Anjos"
Renato Aragão, um homem de fé, tem muito o que agradecer por 2014. Após sofrer um infarto agudo do miocárdio, em março, o comediante chega a dezembro festejando o lançamento do telefilme "Didi e o Segredo dos Anjos", com Dedé, Anitta, Mel Maia e outros astros, marcado para 21 de dezembro na Globo.
"Pensei que nunca fosse ter problema de coração. Tive uma emoção muito forte e coloquei stents. Depois disso, o médico me deu mais 70 anos de vida. Queriam me levar, mas não teve jeito, vou ficar um pouquinho mais aqui", comemora.
Com mais de 50 anos de carreira, o cearense conta que ainda se magoa com antigos boatos. A história mais dura para o humorista lhe coloca como um homem rude, por supostamente ter demitido um funcionário que teria o chamado de Didi, e não de Doutor Renato.
"Aquilo foi a maior mentira, a maior inverdade que falaram de mim. Essas pessoas são alvos de serem acionadas judicialmente, mas eu não sou disso. Meus funcionários me adoram. Tenho funcionários mais velhos que eu. Isso mexeu muito comigo", desabafa.
Em 2015, Renato Aragão completa 80 anos, mas ele faz questão de dizer que não se sente com essa idade e que não passa pela sua cabeça se aposentar.
"Aposentadoria? Que que é isso? Aposentadoria para mim jamais, não tem jeito. Quem tem projetos não envelhece, esse é meu lema. Tem muita gente que diz que já fez tudo, eu não fiz nada. Eu não tenho essa idade, eu tenho a idade do Didi, tenho 54 anos", brinca o artista, que garante que é bem diferente do personagem trapalhão.
"Eles [Didi e Renato] não têm nada a ver um com outro. Eles são amigos, mas o Renato é contido, aquela pessoa calma, e o Didi é irreverente, é alegria".
No ar no canal Viva em reprises de "A Turma do Didi", Renato prefere não entrar em polêmicas sobre o não recebimento pelos direitos de imagens. "Estou na Globo e estou no ar, não tenho que reclamar de nada. O que o canal Viva transmite, já fiz e já recebi meu salário pela Globo, não vou mais atrás disso não".
O humorístico saiu da programação da Globo em 2010 e, desde então, ele protagonizou alguns seriados curtos, telefilmes e especiais de férias na emissora. Para o ano novo, ele planeja rodar mais filmes e diz que não pretende voltar a fazer programas semanais. "Não dá mais. Quero fazer meus filmes, telefilmes e minisséries, mas semanal não quero mais fazer. É muito cansativo, um estresse que você nem imagina. Quando vim do meu Cearazinho, eu vim para fazer filme, é com filme que eu me realizo".
Sobre o caráter politicamente correto das produções atuais – que não permite mais a veiculação que piadas com conteúdo considerado preconceituoso – Renato relembra que "Os Trapalhões" tiveram liberdade para falar sobre qualquer assunto desde sua estreia, em 1977.
"Nós somos palhaços, não tínhamos a intenção de ofender ninguém. O politicamente correto não atingiu 'Os Trapalhões'. Hoje em dia não pode fazer e tem que ser assim, porque tem que ter respeito a todas as classes. A gente brincava e a gente tinha 'posse de arma', podia fazer o que quiser, chamar de negão, de paraíba, era coisa entre nós. A gente não queria ofender classe nenhuma", conta o humorista, em referência à parceria com Dedé, Mussum e Zacarias.
"Teatro pra mim era uma escravidão"
Sucesso com o musical "Os Saltimbancos Trapalhões" – seu primeiro espetáculo teatral – na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, Renato está surpreso com a emoção do público ao assistir ao espetáculo ao vivo.
"Foi uma surpresa pra mim, está o maior sucesso. Agora não posso fugir, já está marcado para janeiro e fevereiro. E também vamos para São Paulo. Teatro pra mim era uma escravidão, mas não, virou foi um vício. É um elenco de 55 pessoas no palco, é uma coisa deslumbrante. É uma fantasia."