Autora de biografia, Sônia Abrão diz não saber como Rafael Ilha está vivo

Do UOL, em São Paulo

  • Levy Ribeiro / BRAZIL PHOTO PRESS

    O cantor Rafael Ilha com a apresentadora Sônia Abrão

    O cantor Rafael Ilha com a apresentadora Sônia Abrão

Durante dois anos, a apresentadora Sônia Abrão dedicou três dias de sua semana para escrever a biografia "As pedras do meu caminho", que conta a trajetória do ex-vocalista do Polegar, Rafael Ilha, 42 anos. O livro, que será lançado no dia 2 de setembro em São Paulo, reúne mais de 50 entrevistas e possui 35 capítulos que narram a ascensão e queda do músico.

Foram 30 internações -- sendo uma delas aos 15 anos em um hospício onde foi obrigado a usar camisa de força e tomou eletrochoques --, além de nove overdoses, quatro paradas cardíacas, mais de oito detenções, tentativas de suicídio, o vício em drogas e a vivência nas ruas. Após o sucesso, ele perdeu todo o dinheiro que ganhou na infância e na adolescência, e teve que trabalhar como vendedor de salgados e em lojas de calçados.

Em sua última internação em uma clínica para dependentes químicos em São Carlos, interior de São Paulo, Rafael ficou durante três meses amarrado em uma cama sem poder se mexer, com um capacete na cabeça. Isso foi feito para evitar que ele engolisse mais algum objeto -- além de pilhas, canetas e isqueiros.

"Ele engolia as coisas para poder ser levado para o hospital, ser operado e depois fugir, já que na clínica era impossível. Era uma situação desesperadora. Ele não podia ir ao banheiro, não tomava banho, era limpo apenas com um pano molhado. Ele conta que estava enterrado vivo, que chorava, gritava, mas ninguém o ouvia. Mas essa internação foi a que deu certo...", relata Sônia ao UOL.

Amiga de Rafael, a jornalista alega que manteve imparcialidade ao ouvir os relatos do músico, procurou ouvir diversas pessoas ligadas a ele e e durante seus encontros com o cantor, tinha o acompanhamento de um psiquiatra. "Às vezes ele falava muito, em outros momentos ficava mais calado. Aí, eu parava, íamos jantar, assistir novela, conversar sobre outros assuntos. É uma vivência sofrida e traumatizante. Tinha noites que eu não conseguia dormir, ficava chocada. Olhava para ele e falava: 'Como você está vivo ainda garoto?", conta Sônia, que há 20 anos faz análise com um terapeuta.

Com 304 páginas e 200 fotos, o livro lançado pela editora Escrituras reúne depoimentos dos apresentadores Gugu Liberato – responsável por pagar alguns dos tratamentos de Ilha --, de Fausto Silva, do humorista Renato Aragão e dos integrantes do boy band dos anos 80 Polegar.

"Fiquei tão surpresa com algumas revelações, assim como o público ficará. Quando você senta e começa a vasculhar a vida dele, você percebe que as prisões, internações são a ponta do iceberg. A mãe também é outra [sobrevivente]", diz a apresentadora, que ficou chocada quando soube que Rafael manteve um caso com uma de suas psiquiatras. "Ele contou que estava com a sexualidade afetada e os dois começaram a se relacionar. Ela tirava ele da clínica, levava para casa dela, ele saía para comprar drogas e no domingo voltava. Ele saiu pior do que quando entrou no Instituto Morumbi [psiquiatria]", afirma Sônia, que não chegou a procurar a profissional.

Superação

Reprodução/Facebook
Aline Kezh atual mulher de Rafael Ilha. Eles são pais de Laura

A jornalista afirma que no meio de tantas histórias tristes, há também relatos divertidos da adolescência do músico. "Durante as viagens de ônibus, ele os integrantes do Polegar faziam concurso para saber quem tinha o pênis maior. O Rafa ganhou [risos]. Tem relatos sobre as paixões, passando pela Simony, pela Cristiana Oliveira [atriz], até o relacionamento atual, com a Aline Kezh".

Conhecida por abordar temas trágicos na televisão, Sônia afirma que não tem nenhum fascínio por dramas. "Tento ficar distante. Tinha dias que ficava arrastando correntes. Ouvia as histórias e depois na hora de passar para o papel era difícil". Ela conta que a obra tem como objetivo contar uma história de superação de um ídolo do Brasil.

"Ele é o exemplo que existe uma saída. O livro termina com uma mensagem do Rafa muito bonita. Não tem nada a ver com a biografia da Urach [Andressa], da Thammy [Miranda] e da Gretchen, que vem aí", conclui Sônia, apesar das obras citadas também contarem histórias de superação.
 

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