Urach, Thammy e Rafael Ilha e o momento das biografias de subcelebridades

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL

  • Marcos Ribas/Photo Rio News/Thiago Duran/AgNews/Anderson Borde/AgNews

    Rafael Ilha, Andressa Urach e Thammy Miranda nos lançamentos de suas respectivas biografias

    Rafael Ilha, Andressa Urach e Thammy Miranda nos lançamentos de suas respectivas biografias

Thammy Miranda, Rafael Ilha, Gretchen, Andressa Urach e Robert Rey, o Dr. Hollywood. O que todas essas pessoas têm em comum? Além de integrarem o peculiar time de pessoas famosas que aparecem muito mais pelo que está no entorno de seus trabalhos do que pelas suas habilidades em si, todas elas estão lançando livros com relatos biográficos.

Até aqui, dos nomes citados o que teve maior destaque foi o de Urach. "Morri Para Viver", sua autobiografia, já recebeu ataques diretamente proporcionais à expressiva tiragem da obra – de 1 milhão de exemplares – publicada pela editora Planeta e que no momento ocupa o segundo lugar dentre os mais vendidos segundo o site PublishNews. Em resenha para o próprio UOL, por exemplo, o jornalista Maurício Stycer definiu o título como um "livro de catequese" e o apontou como uma das piores publicações do ano.

Ainda que não seja de bom tom julgar trabalhos sem antes conhecê-los – ou, no caso de livros, sem antes lê-los –, é comum encontrarmos pessoas que, principalmente em particular, usam palavras semelhantes às de Stycer – que leu o livro de Urach, é bom deixar claro - para se referir às biografias de Thammy, Gretchen, Rey ou Ilha, colocando todos os títulos em um mesmo balaio.

"Seria falso não admitir seu grande potencial de venda"

Os responsáveis por essas biografias, no entanto - e previsivelmente - têm um olhar diferente sobre elas. Marcia Zanelatto, roteirista e dramaturga, foi quem ouviu de Thammy Miranda suas histórias de vida, com foco principalmente na sua transsexualidade, para transformar os relatos em um registro escrito. A questão central do livro, aliás, foi a principal razão para que a coautora encarasse o trabalho.

"Esse é um assunto cheio de preconceitos, de segregações, poucas informações, as pessoas não sabem exatamente o que é, então, percebi que seria uma boa oportunidade aproveitar a imagem pública do Thammy para ajudar nessa discussão", argumenta sobre a importância do livro, cujo lançamento na Bienal do Rio de Janeiro deste ano teve cenas como um outro transsexual desmaiando ao encontrar o colega e uma família de evangélicos pedindo autógrafo ao ator e dizendo que Deus é o mesmo e todos devem ser respeitados como são.

Esse impacto no público-alvo do livro – pessoas que passam ou se interessam por situações semelhantes a de Thammy – e o movimento no entorno disso – como a demonstração de tolerância da família religiosa – que nortearam Raíssa Castro, editora da BestSeller, casa que publicou a obra. "Chamou-me a atenção a forma como a Márcia apresentou a questão do gênero que está no centro do livro. É mais do que uma biografia, tem essa dupla função de também narrar o processo de transexualização e trazer à tona os questionamentos de quem passou por isso", explica Raíssa.

Marcos Ribas/Photo Rio News
Autora do de "Rafael Ilha - As Pedras do Meu Caminho", Sônia Abrão participa do lançamento da biografia do cantor

Sobre o processo de edição em si, a editora afirma que em nenhum momento Thammy procurou interferir de forma a censurar histórias ou amenizar passagens de sua vida. "O que houve com o livro foi um resgate da relação mãe e filho. Havia uma situação mal resolvida entre eles e o livro ajudou a curar isso", lembra a editora a respeito da maneira como Thammy e Gretchen, sua mãe, reavaliaram momentos de sua relação.

Linha semelhante segue Raimundo Gadelha, diretor editorial da Escrituras, para justificar a decisão da casa de lançar "As Pedras do Meu Caminho", biografia de Rafael Ilha – que, segundo o profissional, fez questão de sua trajetória, marcada por episódios dramáticos relacionados ao consumo desequilibrado de drogas, fosse contada com toda fidelidade possível. "Mesmo com as passagens trágicas, é uma rica história de vida e até mesmo um exemplo de superação", diz Gadelha. "E, no aspecto comercial, seria falso não admitir seu grande potencial de venda", assume o diretor, que, ao longo do trabalho, surpreendeu-se ao ver o interesse das pessoas que têm filhos ou conhecidos dependentes químicos pela vida de Ilha.

Sonia Abrão, Fausto Silva, Gugu Liberato, Douglas Tavolaro

Outro aspecto que chama atenção nesses trabalhos são os nomes que assinam sozinhos ou dividem a autoria dos livros com os próprios biografados. Se Thammy teve como companheira uma roteirista e dramaturga para passar sua história para o papel, nas obras de Urach e Ilha também temos autores renomados e ligados à televisão."Outro ponto importantíssimo que pesou na decisão [de publicar a biografia do Ilha] foi ter Sonia Abrão como autora, por seu prestígio e inquestionável talento. Ela já entregou todo o conteúdo praticamente pronto, deixando conosco somente o trabalho realmente editorial", afirma Gadelha. O título ainda tem a orelha assinada por Fausto Silva e prefácio de Gugu Liberato.

"Morri Para Viver", a biografia de Urach, por sua vez, tem por trás o nome de Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Rede Record e também autor da biografia do bispo Edir Macedo. A escolha de alguém ligado à emissora, no entanto, não causa surpresa, afinal, a história da ex-prostituta que flertou com a morte enquanto esteve internada no hospital e, depois de receber alta, encontra seu novo caminho sendo temente a Deus deverá se tornar um exemplo de superação para muitos integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus, que abriu as portas – e já arrumou um lugar no palco - para a outrora garota de programa.

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