UOL Entretenimento Celebridades

07/04/2010 - 16h24

"Não me olham mais como uma mulher para casar", diz Camila Morgado em entrevista

LUCIANA ACKERMANN
Do UOL, no Rio

Rodrigo Paiva/UOL

No ar em

No ar em "Viver A Vida", interpretando a sensual jornalista Malu Trindade, Camila Morgado chama atenção nos bastidores do SPFW Inverno 2010

Celebrada como uma atriz de papéis densos e complexos, Camila Morgado diz sentir-se realizada com a mudança de postura das pessoas nas ruas a partir de sua personagem, Malu Trindade, da novela “Viver a Vida”.

Ao ser convidada para o folhetim, o autor Manoel Carlos logo lhe avisou que seria uma personagem do “balacobaco”. Mesmo assim, Camila conta que se surpreende com a aceitação de Malu e se diverte com o envolvimento das pessoas com a jornalista que tem um caso com o marido da prima.

Com Malu, Camila comemora a possibilidade de mostrar ao público seu lado cômico e sensual na televisão brasileira. Solteira, Camila conta que passou a receber mais cantadas e sorrisos maliciosos, entrando para a fantasia do universo masculino. Um de seus maiores desejos como mulher é ser mãe e ela não descarta a adoção. A atriz fala sobre esses e outros assuntos na entrevista a seguir.

UOL –  Você esperava tanta repercussão de sua personagem em "Viver a Vida"?
Camila Morgado
– Quando o Manoel Carlos falou que eu faria a novela dele, não disse muita sobre a personagem, mas destacou que seria do “balacobaco”. Uma mulher bonita, bem-sucedida, que fica com quem quiser. Uma jornalista da área de economia e independente. Não sabia que o lado pessoal da Malu seria o foco. Eu não esperava que fosse uma personagem tão querida e popular. Cheguei a pensar que as pessoas não fossem aprovar a Malu por conta da situação dela com o Gustavo. Mas ao ver que teria humor nessa relação, mudei de opinião. Tudo o que é proibido, com o humor, faz sucesso. Nas ruas, do outro lado da calçada, as pessoas gritam: “Oh, Maluuu... O Gustavo tá aonde?” É um contato mais íntimo, que acho que vem da comédia. Um carinho diferente.

UOL – Que balanço você faz da Malu para a sua carreira?
Camila Morgado
– Está sendo maravilhoso. Eu já queria mudar esse olhar que as pessoas tinham sobre mim. Queria ter a oportunidade de fazer uma personagem completamente diferente de tudo que havia feito na televisão e no cinema. No teatro, fiz a comédia “Doce Deleite”, entre 2008 e 2009, com direção da Marília Pêra, já para ir trabalhando esse lado. As pessoas se aproximavam de mim elogiando minhas personagens, dizendo que eu sou uma ótima atriz dramática. Eu achava lindo tal reconhecimento, mas tinha medo de ficar estereotipada. O balanço que fica é objetivo alcançado. Aquela sensação de satisfação, puxa, consegui!

  • Divulgação/Globo

    Malu Trindade (Camila Morgado) e Gustavo (Marcelo Airoldi) em cena de "Viver a Vida" (2010)

UOL – Pela primeira vez, você interpreta uma personagem mais sensual, como lidou com essa nova faceta?
Camila Morgado
– Eu também não esperava toda essa sensualidade, não. Só sabia que a Malu seria uma jornalista da área de economia e bonita. Era para ser um visual de jornalista de televisão. Como sou muito magrinha, foi decidido que eu usaria roupas acinturadas. Mas as saias foram encurtando, as blusas ganhando decotes. Também passei a usar cada vez mais cores quentes. Descobri que alguns jornalistas me chamam de Geisy Arruda do jornalismo [risos]. A Malu é tão louca que faz supermercado de salto alto. Até o escritório dela é vermelho, mas eu não construí a Malu pensando numa mulher sensual. Novela é isso mesmo, as coisas vão acontecendo a partir da aceitação das pessoas. Não vinculei nada a algo sexy.

UOL – Você se descobriu como uma mulher mais sensual com a Malu Trindade?
Camila Morgado –
Não, eu me conheço. Já sabia que também posso ser sensual. O público é que não conhecia esse meu lado. Eu vinha sendo considerada como uma atriz intelectual, mas eu não me julgo assim, não. Gosto de ler, de ir ao teatro e de ir ao cinema, mas acho que não sou intelectual. Sou ariana, muito intensa, faço mil coisas ao mesmo tempo. Tenho esse humor mais ácido. Amigos dizem que até o mau-humor da Malu é igual ao meu. É muito bacana poder mostrar mais um lado da Camila.

UOL – Mas a Malu trouxe o quê para a Camila?
Camila Morgado –
A Malu trouxe para a Camila a comédia na televisão. Trouxe um ritmo diferente. Quando comecei a ver esse lado pessoal dela bem desequilibrado, à beira de um ataque de nervos, eu me inspirei nas mulheres do Pedro Almodóvar, que são quase bipolares ou “tripolares”. São várias emoções ao mesmo tempo. A personagem traz essa possibilidade de brincar, de se divertir. Posso dizer que estou numa fase muito feliz. Não tem aquele peso das personagens dramáticas, que exigem aquela concentração. Claro, que na comédia você também precisa estar concentrado, senão perde o ritmo, mas a Malu trouxe leveza à minha vida.

UOL – Você passou a ser mais paquerada nas ruas, a receber cantadas?
Camila Morgado –
Os homens passaram a me olhar mais, sim. Antes eles eram bem mais tímidos. Depois que a Malu chegou, passaram a se sentir mais à vontade [risos]. Um dia eu estava na fila do check-in no aeroporto e um homem me cutucou: ‘Se a minha mulher tivesse uma prima como a senhora, eu não resistiria’. Achei maravilhoso [risos]. Também sempre chegam com aquela conversinha de onde podem investir o dinheiro e tal. Percebo, no aeroporto, aquele bando de homens me olhando. Eles param para me observar. Isso nunca tinha acontecido comigo assim com essa força. Eu acho divertido e engraçado. É curioso observar a mudança que a Malu trouxe no olhar das pessoas sobre mim. O público me assiste na televisão e eu assisto as percepções dos espectadores na vida real. É demais esse envolvimento das pessoas com os personagens. Confundem mesmo.

Descobri que alguns jornalistas me chamam
de 'a Geisy Arruda do jornalismo


UOL – Você está solteira? A Malu ajuda ou atrapalha suas relações amorosas?
Camila Morgado –
Estou solteira. A Malu desperta nos homens um lado proibido. Aquela fantasia que existe no Gustavo. É impressionante, os homens passaram a me olhar com sorrisinho malicioso. Não me olham mais com aquela cara de mulher para casar, coisa que existia quando interpretei a Manuela, na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”. Agora, não. Eles passaram a me olhar com a cara da mulher da fantasia. É muito doido isso. Quando recebi a sinopse era bem isso: o marido tem fantasias com a prima da mulher. Então, percebo um olhar de fetiche, fantasias, do proibido. Mas acho que não atrapalha, não. Daqui a pouco isso passa.

UOL – Você está na torcida para que a Malu termine com o Gustavo?
Camila Morgado –
Agora eu já não sei mais. Já torci muito pelo Gustavo. Eles têm uma coisa de gato e rato que é sedutor. Eles se merecem. São vilões e mocinhos ao mesmo tempo, mas o Gustavo brinca muito com os sentimentos da Malu. Já a escondeu no armário, está cada vez mais enrolado com a empregada (Cida). Agora eu ando duvidando do amor dele pela Malu. Cheguei a pensar que ela precisava mesmo de um terceiro homem, nem Gustavo e nem Marcelão. O Carlos, personagem do ator Carlos Casagrande, talvez possa colocar uma pimenta. Ainda não sei.

  • André Passos/Divulgação

    Camila Morgado em seção para a revista "Playboy" (9/2/10)


UOL – No lugar da Malu você viveria essa paixão com o marido de sua prima?
Camila Morgado –
Eu não! Espero que isso nunca aconteça comigo. Minha ética não permitiria. Minha prima até me liga, brincando para eu não dar em cima do namorado dela.

UOL – Você, que sempre foi considerada uma atriz mais reservada, chegou a posar na seção “Mulheres que Amamos”, da "Playboy", pretende explorar mais esse seu lado sensual?
Camila Morgado –
Aquela foto está linda. Um trabalho bem bonito e de bom gosto. Aceitei posar porque seria uma fotografia que não mostraria nada, além da sensualidade. Estou fazendo uma personagem que traz um tom mais sensual, não vi problema, mas acho que só vou até ali mesmo, não consigo ir adiante. Quando tentam puxar esse assunto, logo desconverso. Digo que não está no meu momento, não iria me fazer bem. Alego que sou tímida e discreta. Não que no futuro eu possa mudar a minha cabeça. Mas, por enquanto, sou a favor de escolher para quem vou mostrar. Acho que me sentiria muito invadida.

UOL – Você se tornou conhecida do grande público por conta de papéis densos e dramáticos. Foi uma escolha?
Camila Morgado –
Não, foi totalmente obra do acaso, do destino. Eu estava em cartaz com uma peça de teatro do Gerald Thomas. Lá, uma pessoa que fazia o casting do Jayme Monjardim me convidou para um teste. Não fazia ideia de que seria para o papel da protagonista da minissérie “A Casa das Sete Mulheres”. O texto do teste já tinha uma carga mais dramática. Acabei sendo convidada pelo Jayme para fazer a Manuela e, depois, o filme “Olga”.

UOL – A Olga foi o trabalho mais difícil de sua carreira?
Camila Morgado –
Certamente, a Olga Benário foi quem mais exigiu de mim. Era uma responsabilidade muito grande interpretar um personagem que existiu na vida real, que viveu o holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Imagina? Aquilo me dava pânico, fiquei sem dormir direito. Foram cinco meses de dedicação. Com sensações pesadas todos os dias. Nas folgas, eu decorava o texto. Às vezes, eu acordava no meio da noite com medo de não conseguir, de falhar. Foi um desespero para mim. Dizia para mim mesma: ‘Tenho que fazer o melhor que eu posso’. Eu estava vindo da Manoela [‘A Casa das Sete Mulheres], que o público tinha adorado. Cheguei a pensar coisas horrorosas: ‘E se as pessoas descobrirem que eu sou um blefe? [risos]’. Perdi sete quilos, fiquei careca. Foi uma entrega total. Desde que li o roteiro de filmagem, já sabia que haveria uma semana terrível, que foi o parto de Anita Leocádio, logo depois a Olga na enfermaria de um campo de concentração e a retirada da criança. Sabia que eu não poderia relaxar.

  • Jaq Joner/ TV Globo

    Camila Morgado após raspar a cabeça com máquina zero para as filmagens de "Olga" (10/10/03)

UOL – Você é vaidosa? Como foi ficar careca?
Camila Morgado –
Sou vaidosa na medida certa. Foi uma experiência incrível, pois se não fosse a Olga eu, talvez, jamais raspasse a cabeça. Sempre tive cabelão. Só na infância tive cabelo curto. Acho que eu fiquei linda de cabeça raspada. Tinha o maior receio de ao raspar os cabelos, descobrir uma cabeça esquisita, mas adorei. Não foi um sofrimento para mim. Estava tão entregue ao personagem que não pensei muito sobre isso. Lembro que estava gravando uma cena em que o cabelo estava bem curtindo com alguns buracos. Na cena seguinte, eu já aparecia careca. Todo mundo que estava no set quis cortar alguns tufos. Depois, eu mesma passei a máquina zero. No maior bom humor. Só me dei conta de como eu estava quando acabaram as filmagens. Na verdade, fiquei triste por ter de me despedir do personagem. É uma história muito forte. Quando acabou, sentia muita falta de tudo aquilo. É como uma relação que termina. Passei um mês um pouco perdida. Procurei cuidar de mim, recuperar os sete quilos que perdi. Sou uma mulher muito corajosa, estar careca naquele momento não seria um problema para mim. Pensei em usar perucas, mas nem cheguei a comprar. Como eu não era muito conhecida, as pessoas achavam que eu estava passando por quimioterapia. Levei um tempo para entender, mas os carecas se cumprimentam. Aí comecei a dizer oi nas ruas para os carecas também. Foi muito legal. Em um mês já estava com um cabelinho bem bonitinho. O que demora mesmo é aquela fase para que os fios cheguem aos ombros.

UOL – O cabelo da Malu é líder do ranking da Central de Atendimento ao Telespectador (CAT), da Rede Globo. Qual é o segredo?
Camila Morgado –
Pois, é... As mulheres amam o meu cabelo. Elas me perguntam o que faço, querem saber a cor que uso, como cuido. Adoro isso, especialmente porque fiz uma personagem com a cabeça raspada. Bom, faço escova aqui no Projac para entrar em cena. Isso para o cabelo ficar mais certinho para a jornalista, mas ele já é liso. Na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, meu cabelo estava ruivo e no final de um permanente. Todo mundo pensava que era natural. Na May, da novela “América”, fiz outro permanente. Apesar de liso, tenho muito cabelo, ele também é volumoso, pesado e cresce muito rápido. Sempre foi liso, às vezes, ficam algumas ondas, mas não tenho cachos. Eu queria ser ruiva e crespa, mas nasci loira e lisa. Estou achando tão lindo esse tom que devo manter mesmo depois de terminar a novela. Talvez, eu corte um pouco. Eu cuido bem do meu cabelo. Além da química, faço muita escova. Então, sempre hidrato e uso produtos legais como um creme que o protege do secador, além máscaras. Por conta da profissão, a gente tem que se cuidar.

UOL – Você já tem algum projeto em vista para depois da novela “Viver a Vida”?
Camila Morgado –
Espero tirar férias e viajar. Preciso muito parar um pouco. Acabei emendando a peça “Doce Deleite”, que ficou dois anos em cartaz, com as gravações de “Viver a Vida”. Com a peça, a gente trabalhava todos os finais de semana. Ficamos um mês em Niterói, seis meses no Rio de Janeiro, oito em São Paulo e depois viajamos o Brasil todo. Ainda não planejei nada para as férias. Apesar de querer dar um tempo, não pretendo ficar muito longe do teatro. Ainda mais eu que sou novata. Tenho que estudar muito para se considerada uma boa atriz. O teatro ajuda a reciclar, a exercitar. Além de provocar e nos perturbar. Por enquanto, só sei que vou sentir falta da Malu. Entro no set para as gravações, todo mundo já ri para mim.

UOL – Como surgiu o desejo de ser atriz?
Camila Morgado –
Desde nova. Aos 17 anos, já ia muito a teatros. Procurei assistir às atrizes e atores que eu admirava. Comecei a fazer cursos em Petrópolis, depois fui morar no Rio de Janeiro e São Paulo. Sempre com muita vontade de estudar e sentindo muito prazer, com a sensação de que estava no caminho certo. Desejava que as pessoas me admirassem pelo meu trabalho. Então, é um presente grande quando o Jayme faz elogios ao meu trabalho. Uma vez lá, em Petrópolis, assisti a Marília Pêra na peça “Master Class”. Depois da apresentação, fui ao camarim, conversar com ela. A Marília me perguntou se eu era atriz. Tímida, respondi que estava tentando. Fiquei emocionada, muito nervosa. Depois de mais de dez anos, fui contracenar com ela na minissérie “JK”. Eu ficava meio envergonhada, lembrando daquele episódio do camarim. Claro, que ela não se lembrava de mim, mas foi tão libertador contar para ela. Mais tarde, ela me ligou me convidado para fazer “Doce Deleite”. Puxa, foi um privilégio. Não sei se é destino, obra do acaso, mas para mim é muito louco. Ficamos quase dois anos em cartaz. O fato é que ter sido dirigida pela Marília numa comédia me ajudou muito a fazer a Malu.

Infelizmente, a gente tem um prazo de validade. Espero que eu consiga ser mãe porque deve ser muito gostoso. Acho que a gente começa a enxergar a vida de outra forma

UOL – Qual desejo para sua vida pessoal?
Camila Morgado
– Sinto o maior desejo de ser mãe, mas não sei se será concretizado. Estou com 34 anos, vou fazer 35 daqui a uma semanas [12 de abril]. Infelizmente, a gente tem um prazo de validade. Espero que eu consiga ser mãe porque deve ser muito gostoso. Acho que a gente começa a enxergar a vida de outra forma. Como boa atriz, espero passar por essa experiência. Uma amiga diz que tenho até os 40. Antes, ela dizia que era até os 35 [risos].

UOL – Se você não engravidar, pensa na adoção como alternativa?
Camila Morgado –
A adoção pode ser uma opção, mas eu não penso em adotar porque passei do prazo. A adoção é um ato de generosidade também, não seria só para suprir o meu desejo. Também acho que não teria um filho sozinha, não. Acho que essas coisas devem ser feitas a dois. Eu ficaria mais segura ao lado de outra pessoa. Vamos ver o que o acaso ou o destino reservam para mim.

 

Compartilhe:

    Hospedagem: UOL Host