Da empolgação à irritação profunda, passando pela apatia, o que os britânicos realmente pensam do casamento de William e Kate

ILANA REHAVIA

Colaboração para o UOL, de Londres

Londres no mês do casamento de William e Kate
Veja Álbum de fotos

Ele é considerado o casamento do século. No dia 29 de abril, quando o príncipe britânico William levar a plebeia Kate ao altar, estima-se que entre dois e quatro bilhões de pessoas estarão com os olhos grudados na televisão em todo o mundo.

Mas se os preparativos para o grande dia de Will e Kate vêm sendo divulgados diariamente pela mídia, discutidos em detalhes em sites como o Facebook, e atualizados minuto a minuto no Twitter, nas ruas do Reino Unido o assunto não parece estar empolgando.

Uma pesquisa da organização ComRes, encomendada pelo jornal "The Independent", indicou que 31% dos britânicos “não podiam estar menos interessados” no casamento, enquanto 28% estão indiferentes à data.

"Quando é mesmo?"
“Não estou nem aí”, “Quando é mesmo o casamento?” e “Só estou animado porque o dia será feriado” são respostas frequentes a perguntas sobre o evento.

“Espero que a mídia deixe os dois em paz” também é um desejo comum em uma população que ainda lembra vividamente a relação tumultuada entre a princesa Diana --mãe de William-- e os tabloides. E que também não esquece o acidente que matou Lady Di quando o carro em que estava fugia de paparazzi em um túnel de Paris, em agosto de 1997.

Mas a atenção que o assunto vem recebendo também incomoda por outros motivos. “Sou contra a monarquia, então a única coisa que sinto nesse momento é irritação”, diz a aposentada Jackie, que não quis dar seu sobrenome. A amiga Jenny faz coro. “Acho que a coisa toda está sendo exagerada e atraindo muito mais cobertura da mídia do que deveria.”

Esse tipo de reação é ótima notícia para a organização Republic, que faz campanha pelo fim da monarquia no Reino Unido. Para o porta-voz do grupo, Graham Smith, a festa é um golpe de relações-públicas da família real, realizada em um momento em que a população tem coisas mais sérias nas quais pensar.

“Não acho que seja coincidência que o casamento acontece em uma época de crise econômica e uma semana antes de eleições (um importante referendo sobre o sistema eleitoral britânico) . Mas quem está perdendo o emprego, quem está em dificuldades financeiras, não estará em uma situação melhor no dia seguinte”, diz Smith.

De fato, o casamento acontece em meio a um período de turbulência econômica, com o governo anunciando cortes de gastos e a população saindo às ruas para protestar.

Essa não é a primeira vez que membros da família real se casam em períodos assim. A rainha Elizabeth 2ª casou-se com Philip em um país que ainda se recuperava dos efeitos da Segunda Guerra Mundial e precisou inclusive usar cupons para comprar as sedas e cetins de seu vestido, já que tudo era racionado no Reino Unido de 1947.

O príncipe Charles e Diana também subiram ao altar em meio à alta inflação e a medidas de austeridade que tomavam o país em 1981.

Trinta anos depois, grupos de pressão, incluindo a organização Republic, defendem que o casamento de William seja mais parecido com o de seus avós do que com a luxuosa festa de seus pais.

VEJA DEPOIMENTOS DE QUEM VIVE EM LONDRES SOBRE O CASAMENTO REAL

"A parte que está me deixando mais animado é o dia de folga. pretendo passar o dia em casa, bebendo com meus amigos." Mais "Quero ficar por dentro de todas as fofocas porque sei que as pessoas vão perguntar", diz a americana que vive em Londres. Mais "Não acho que é coincidência que o casamento acontece em uma época de crise econômica e há uma semana das eleições." Mais

Contagem regressiva
Mas há ainda quem encare a data como um dia para deixar de lado as preocupações e celebrar. 

“Estou animadíssima e pretendo assistir em casa, pela TV, para ter a melhor vista possível”, diz a professora Ahila Ramakrishnan, que participa de um dos vários grupos sobre Will e Kate no site Facebook.

Entre os amantes da monarquia também está o encanador Alan Fergusson. “Eu acho positiva a existência da família real e acredito que o casamento será um evento importante para a continuidade dela”, diz ele.

E há ainda quem veja a festa como uma ótima oportunidade de negócios, já que a data deve atrair 1,1 milhão de pessoas para as ruas Londres, segundo o órgão oficial de turismo da capital, Visit London. “A vinda de tanta gente para cá significa ótimos negócios para mim”, diz Julia Ersson, que vende cosméticos naturais em uma barraca no bairro turístico de Covent Garden.

Perto dali, na área de Piccadilly Circus, os lucros já começaram. As vitrines das lojas de souvenires estão repletas de pratos, xícaras e outras mercadorias comemorativas que vêm gerando bastante interesse, segundo os comerciantes.

Conto de fadas
No belo Green Park, um grupo se prepara para caminhar pelos locais significativos no romance do príncipe no passeio temático Royal Wedding Walk.

Cerca de 30 pessoas se reúnem na entrada do parque, cada uma pagando o equivalente a 20 reais para passar diante de locais como a loja que cria os chapéus usados pela família real, a Abadia de Westminster, onde será a cerimônia, e o Palácio de Buckingham, cenário da festa de casamento.

  • Ilana Rehavia/UOL

    Homenagem a William e Kate criada pela ativista Maria Gallastegui no protesto permanente em frente ao Parlamento e ao Big Ben (28/3/2011)

No grupo, muitas mulheres americanas, e poucos homens. Segundo a animada guia Karen Pierce-Goulding, é exatamente esse o público típico do passeio.

“O casamento está mexendo com o imaginário das mulheres”, diz ela, lembrando que um belo príncipe se casando com uma súdita é um conto de fadas da vida real que faz sucesso no país que deu ao mundo a Disney. “O interesse nos Estados Unidos vem sendo enorme, o que está refletindo nos turistas que vem para cá.”

A adolescente Jill Williams, do Estado americano do Colorado, explica que é a pompa de um casamento da monarquia que atrai um povo que nunca teve família real. “O mais próximo que poderíamos ter de um casamento tão glamuroso seria o de uma das irmãs Obama (as filhas do presidente Barack Obama, Sasha e Malia). Mas elas ainda são muito novas e isso vai demorar”, diz ela.

Tanto interesse –e desinteresse– nacional e internacional chamou a atenção do mundo das artes.

Para quem não aguenta mais ouvir falar, a artista Lydia Leith criou sacos de enjoo temáticos que foram um inesperado sucesso de vendas.

Já as que sonham com a vida de princesa e pensam “bem que poderia ter sido eu” podem colocar no dedo uma réplica do anel de noivado de Kate --que antes pertenceu à princesa Diana-- e posar ao lado de uma escultura de cera de William, na instalação da artista Jennifer Rubell.

Ame ou odeie, é difícil fugir do assunto quando há William e Kate para todos os gostos.

UOL Cursos Online

Todos os cursos