LOS ANGELES - Aos 84 anos de idade, Hugh Hefner, o fundador da "Playboy", encarna o estilo de vida de liberdade sexual que sua revista masculina defende desde que foi fundada, em 1953, com uma foto de Marilyn Monroe nua em suas duas páginas centrais.
Hugh Hefner é beijado por duas de suas namoradas na apresentação do programa "The Girls Next Door" (fev/2009)
Mas existe outro lado desse homem que gosta de andar de pijama e é conhecido em todo o mundo por seu apelido, Hef. Ao lado da liberdade sexual, Hefner já defendeu os direitos civis, publicou matérias contestando o macartismo e a Guerra do Vietnã e foi defensor da causa gay e da legalização da maconha.
O documentário "Hugh Hefner: Playboy, Activist and Rebel" estreia nos cinemas na sexta-feira, mostrando ao público esse outro lado de Hefner, que concedeu uma entrevista à Reuters na mansão Playboy para falar do filme, o conservadorismo político de hoje e como ele gostaria de ser lembrado.
Pergunta: O sr. acha que essa parte específica de sua vida, o ativismo social, é pouco percebida em função da atenção voltada a seu estilo de vida?
Hugh Hefner: Acho que não. Acho que Ray Bradbury expressou a coisa muito bem algum tempo atrás quando estava falando da revista e disse: "As pessoas não enxergam a floresta porque só veem as árvores." Em outras palavras, só veem o estilo de vida, as garotas bonitas, as modelos Playboy, etc. Isso é simplesmente tudo que atrai a atenção.
P: O documentário trata da ironia de seus dois lados: a vida despreocupada, por um lado, e o ativista político sério, por outro. O que há de comum entre os dois aspectos?
Hugh Hefner: Não são exatamente a mesma coisa? Ou seja, a revolução sexual e a emancipação racial não foram a mesma coisa? Acho simplesmente que essas são áreas de nossa sociedade livre que não têm sido verdadeiramente livres e não têm recebido o tratamento adequado.
P: Muitas pessoas diriam que não, e que a liberdade sexual que o sr. advoga na realidade não passa da objetificação das mulheres.
Hugh Hefner: Qualquer pessoa que pense que nós objetificamos as mulheres de maneira negativa tem uma agenda política própria. Isso vem diretamente de nossa herança puritana. A verdade pura e simples é que somos dois sexos diferentes. Somos atraídos um ao outro. Essa é a base da civilização. É o que faz o mundo girar. A ideia de negar o fato de que as mulheres são objetos de desejo sexual, em um sentido positivo, representa uma simples negação da realidade.
P: Qual é a diferença entre os homens jovens em 1953, na época em que a revista começou, e os homens jovens de hoje?
Hugh Hefner: Naquela época eles eram um pouco mais sofisticados. Eles liam mais. As transformações tecnológicas mudaram os hábitos de leitura. Obter suas informações da internet não é a mesma coisa. Houve um emburrecimento da América? É claro que sim. A internet tem inúmeras virtudes, mas também tem seu lado negativo.
P: O sr. e a "Playboy" ajudaram a lançar a revolução sexual, que liberalizou nossa cultura. Na ausência da "Playboy", alguma outra coisa ou pessoa teria surgido para promover a mesma transformação?
Hugh Hefner: Penso que sim. É como qualquer outra invenção ou transformação social, etc. Acho que o fator principal que libertou as mulheres foi a pílula do controle de natalidade, que separou a procriação do sexo.
P: Em nossa cultura, hoje, parecemos ser mais liberais, com leis em favor do casamento gay e a legalização da maconha em alguns estados. Ao mesmo tempo, porém, a paisagem política parece estar mais conservadora desde as administrações Reagan e Bush. Estamos mais conservadores ou mais liberais?
Hugh Hefner: No sentido mais amplo, estamos muito mais liberais. Mas houve uma reação contrária a aquela sociedade mais permissiva. A revolução sexual se deu plenamente em meados dos anos 1960 e ao longo dos anos 1970, e então, na década de 1980, houve uma reação contrária; politicamente, a direita religiosa ajudou Reagan a chegar à Casa Branca. A Aids chegou, e a correção política, que também influenciou a sexualidade.
P: Então a que se deve a desconexão atual entre políticos que são conservadores e o que parece estar acontecendo entre os americanos em uma sociedade mais liberal?
Hugh Hefner: Os problemas que temos hoje com o conservadorismo não têm muita ligação com as leis. Quando eu era adolescente e jovem, a maior parte do comportamento sexual fora do casamento era ilegal. Jovens de classe média corretos e morais não podiam viver juntos nos anos 1950 antes de se casarem. Nesse sentido, portanto, é óbvio que estamos muito mais liberais. O conservadorismo se manifesta de outras maneiras. Há a correção política... Acho que uma parte do movimento feminista também influenciou o resto da sociedade com a noção de que, de alguma maneira, imagens de nudez e sexualidade constituem exploração, gerando uma atitude negativa em relação a coisas que, de outro modo, víamos como corriqueiras ou belas.
P: O sr. conheceu muitas pessoas ao longo dos anos, desde celebridades até astros dos esportes e dignitários. Muitos deles aqui na Mansão. Quem não esteve aqui que o sr. teria gostado que tivesse vindo?
Hugh Hefner: (ri) Não faço ideia. Obama seria bem-vindo, com certeza, mas não penso nisso.
P: No documentário há cenas do sr. com Sammy Davis, Jr. O que Sammy teria dito sobre Obama?
Hugh Hefner: Provavelmente o mesmo que estou dizendo, ou seja, que eu gostaria que ele pusesse seus planos em prática. Todos tínhamos grandes esperanças.
P: Um conselho para homens como eu. Tenho 48 anos. O que é melhor para a vida sexual do homem, Viagra ou três namoradas ao mesmo tempo?
Hugh Hefner: (ri) Três namoradas. Porque, aos 48 anos, você não precisa de Viagra. Se bem que, com três namoradas, o Viagra ajude.
P: Para terminar, o título do documentário é "Hugh Hefner, Playboy, Activist and Rebel." Essa é uma maneira de recordar o sr., mas como o sr. mesmo gostaria de ser lembrado?
Hugh Hefner: Gostaria de ser lembrado como alguém que exerceu algum impacto positivo na transformação dos valores sociais e sexuais de minha época. Quanto a isso, acho que tenho bastante certeza que o fiz.