Casamento real dará novo impulso à monarquia britânica, diz especialista

Judith Mora

  • Toby Melville/Reuters

    Regent Street, em Londres, decorada com bandeiras da Grã-Bretanha em preparação para o casamento real (19/4/2011)

    Regent Street, em Londres, decorada com bandeiras da Grã-Bretanha em preparação para o casamento real (19/4/2011)


Londres, 25 abr.- Vistos como atraentes e modernos, o príncipe William e Kate Middleton deverão dar novo impulso à monarquia britânica com seu casamento, desde que, é claro, o enlace seja duradouro e quebre a tradição de divórcios reais das últimas décadas.

A opinião é de Peter Kellner, analista político e diretor da empresa de pesquisas YouGov. Em entrevista à Agência Efe, ele disse que o casamento marcado para a próxima sexta-feira terá um impacto pontual na política do país e também trará benefícios a longo prazo para a própria casa real britânica, "se esta união durar".

"A história da realeza britânica nos últimos 40 anos foi desastrosa em relação às relações pessoais, com vários divórcios e separações, como os de Margaret (a irmã da rainha Elizabeth II), Andrew (segundo filho da monarca) e Charles (primogênito e herdeiro do trono)", disse.

"Se há uma vontade nacional neste caso - disse o analista e jornalista -, é que a união de William e Kate seja duradoura, e que o príncipe tenha a oportunidade de ser feliz em seu casamento e formar uma família antes de subir ao trono".

O desejo de que o jovem tenha filhos antes de assumir a Coroa ficou refletido na última pesquisa da YouGov sobre a monarquia publicada neste mês na revista de atualidades políticas "Prospect".

A enquete mostra também que, pela primeira vez em muito tempo, a maioria dos britânicos (45%) quer que o príncipe Charles seja o sucessor de Elizabeth II, e não seu filho William (37%), segundo na linha de sucessão.

Apesar de o casamento ser uma boa notícia para a família real - que, segundo Kellner, "desde que se reinventou no século XIX, com a rainha Vitória, sempre soube se adaptar aos tempos para evitar sua abolição" -, não parece que terá um impacto significativo na política do país, "com uma exceção".

Esta exceção é que o casamento acontecerá precisamente seis dias antes das eleições municipais na Inglaterra e das assembléias em Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales, além do referendo sobre a possível reforma do sistema eleitoral no Reino Unido.

"Todo o rebuliço que cercará o casamento prejudicará as campanhas eleitorais, e o que deverá ser mais afetado é o apoio a uma mudança no sistema eleitoral", reforma apoiada pelo Partido Liberal-Democrata, disse Kellner.

Já se o "não" sair vencedor nesse referendo, os beneficiados serão os "tories" (conservadores) de David Cameron, afirmou Stephen Fisher, sociólogo da Universidade de Oxford.

No entanto, apesar do possível efeito nessa consulta e talvez na participação no pleito municipal, o impacto político do casamento será "circunstancial", acrescentou.

Ainda que os britânicos se distraiam momentaneamente de suas preocupações, como as dificuldades econômicas pelos cortes governamentais e as guerras na Líbia e no Afeganistão, o casamento "não os fará esquecer que agora pagam mais impostos e têm menos benefícios sociais, se já não estiverem desempregados".

Segundo o sociólogo, outro aspecto que deve ser levado em conta é que, junto com os festejos e celebrações, em 29 de abril, declarado dia festivo pelos conservadores, podem acontecer protestos e até greves, tal como ameaçam alguns sindicatos.

Quanto aos efeitos a longo prazo, a união de William e Kate pode reacender no Reino Unido o debate sobre a necessidade de reformar a lei de sucessão - que favorece os homens -, no caso de sua primogênita ser uma menina.

De acordo com Kellner, o que também pode acontecer, mas com menos chances, é a modificação da "obviamente absurda" lei que proíbe os monarcas britânicos de se casarem com católicos (mas não com membros de outra religião).

"Ainda que fosse relativamente fácil mudar a lei, há muitos assuntos colaterais que fazem com que não haja muita vontade de abordar o tema, como o fato de que seria preciso revisar o papel do rei como chefe da Igreja Anglicana. Seria a mesma coisa que abrir a caixa de Pandora", advertiu.

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