Fã do Brasil, atriz Penélope Cruz fala sobre superstição, tecnologia e o poder da maternidade
Roseli AndrionDo UOL, em Milão
Quem já derramou sal na mesa e ficou com medo de ter má sorte? Se você acredita nessa superstição, está no mesmo time que a premiada atriz espanhola Penélope Cruz. Ela, que lançou nesta terça (13) em Milão o Calendário Campari 2013, confessa que não consegue se livrar da crença e continua fazendo o ritual. "Ontem mesmo eu o fiz", contou a atriz em bate-papo com a reportagem do UOL, que aconteceu no badalado Hotel Bvlgari, de Milão.
O tema deste ano do Calendário Campari é Superstição e as 13 fotos foram inspiradas em crendices que povoam o imaginário popular em todo o mundo. Durante a entrevista, Penélope, que usava um tailleur cinza chumbo da Armani e calçava um salto altíssimo da Casadei, deixou à mostra a tatuagem que tem no tornozelo direito: os números 883, que ela, supersticiosamente, considera seus números da sorte.
Superstições
Uma das superstições mais fortes em várias partes do mundo está relacionada ao número 13: alguns países o tratam com extrema desconfiança e não o usam em elevadores ou quartos de hotel, por exemplo. No calendário, porém, é difícil ignorá-lo. Para nós, brasileiros, a sexta-feira 13 sempre acende o sinal vermelho. Na Espanha, o equivalente é a terça-feira 13. "Já não me importa", diz Penélope ao ser lembrada da coincidência. "Eu já tive muitas manias, mas as abandonei quando me vi, aos 20 e poucos anos, abrindo e fechando a porta de um hotel em Los Angeles diversas vezes", lembra. "Ali eu decidi que aquilo tinha de terminar. Eu não queria ficar como o personagem do Jack Nicholson em 'Melhor é Impossível'", brinca a atriz - enquanto mistura superstição com transtorno obssessivo-compulsivo (TOC).
Se pudesse escolher quem seria a celebridade a estampar o calendário da marca no ano que vem, Penélope lembraria de Sophia Loren, Catherine Deneuve e Claudia Cardinale. "Eu colocaria as três juntas", diz. "São três mulheres muito diferentes e muito bonitas." E se fosse um homem? "Eu provavelmente escolheria o Al Pacino." Para selecionar uma brasileira, ela foi mais evasiva. "Brasileira? Qualquer mulher brasileira é tão bonita..." Um grande elogio à beleza nacional, vindo daquela que desde agosto é a face da marca de cosméticos brasileira Le Lis Blanc Beauté.
Penélope, aliás, se confessa apaixonada pelo Brasil. "Não estou dizendo isso porque você é brasileira. Eu realmente amo o Brasil", derrete-se. Ela conta que descobriu o país em 1999, quando participou do filme "Sabor da Paixão" ("Woman on Top", no original em inglês) ao lado de Murilo Benício. "Nós todos nos divertimos muito fazendo esse trabalho, que foi filmado na Bahia e no Rio." E ela sabe até que 'Tufão' está na boca dos brasileiros ultimamente. "Sei que ele estava fazendo uma novela."
A atriz diz que o Brasil está sempre em seus planos. "Quando saio de lá, nunca acho que não vou voltar. É um dos lugares mais lindos do mundo." Seus cantinhos preferidos no país são a Bahia, a ilha de Fernando de Noronha e o Rio de Janeiro. "O Rio é muito vibrante. Mas, para férias, os outros lugares são mais calmos. Eu amo tudo que vi lá." Penelope ainda não foi a São Paulo, mas diz que quer conhecer a cidade. "Sei que é uma cidade grande e gostaria muito de visitá-la."
Quando o assunto é comida, Penelope conta que gosta muito de comer. "Adoro a culinária espanhola", lembra. "E a italiana. Eu poderia comer espagueti no café da manhã, no almoço e no jantar. Na Itália, os ingredientes são tão bons que eu não consigo me controlar", brinca. No Brasil, a atriz se esbalda com a pouco conhecida feijoada de coco - e dá até a receita. "O feijão é feito como um purê em que se adiciona coco. Depois, isso é colocado sobre o arroz branco. Simples assim. Não tem nada mais."
Penelope acredita que seu trabalho como atriz atrai convites para atuar em publicidade. "Este é um trabalho paralelo. Meu trabalho mesmo é o que eu faço como atriz. A partir dele, algumas empresas me contratam para outros projetos." E não é a primeira vez que ela fotografa um calendário de marca: em 2007, a atriz incorporou a pin-up Sophia Loren em um calendário para a Pirelli.
Apesar de aparecer muitas vezes usando roupas e batom vermelhos em seus papéis no cinema e em propagandas, Penélope diz que essa não é sua cor preferida. "Muitas vezes, não seleciono as cores", diz. No caso do Calendário Campari, a cor foi escolhida pela marca. "Pessoalmente, eu gosto de cores mais claras." Quem cuidou do visual da atriz nas fotos do calendário foi seu cabeleireiro preferido, o argentino Pablo Iglesias. "Somos amigos e trabalhamos juntos há 20 anos. Sempre que ele está disponível, peço que me acompanhe nos meus trabalhos."
Amante de animais, Penélope ficou muito empolgada com a foto do mês de janeiro. "Foram usados muitos gatos e eu estava bem ansiosa para ver essa foto. Eu sempre tive gatos porque toda vez que encontrava um na rua, levava para casa. Hoje tenho só uma, a Cappuccina." A atriz diz que gostou muito da proposta de 'rir das superstições'. "Pudemos criar uma garota corajosa que lembra que não há qualquer lógica por trás das superstições. Eu me identifiquei muito porque me lembrei de quando estava do outro lado e me sentia aprisionada."
Tecnologia
Diferentemente de muitos artistas, que têm perfis e páginas em redes sociais para divulgar seu trabalho e mesmo se manter e contato com os fãs, Penelope não está no Facebook nem no Twitter. "Estou resistindo! Quero que as pessoas voltem a escrever cartas." Reticente em relação à tecnologia, a atriz acredita que ela cria uma distância entre as pessoas. "É uma coisa muito fria." Ela conta que um amigo viu uma garotinha tentando 'dar zoom' em uma vaca que pastava do lado de fora tocando os dedinhos na janela do trem e abrindo-os (como se faz em tablets e smartphones). "Para mim, isso é um terror. Se uma criança não é capaz de separar o mundo real do virtual, isso é perigoso. E é para isso que estamos caminhando nesta era tecnológica. Por isso, uma parte de mim se recusa a se render completamente."
Atriz premiada e a única espanhola a ganhar o Oscar, Penélope começou na profissão que a consagrou quase por acaso. "Eu sonhava ser bailarina. Dancei balé clássico por 17 anos e amava dançar. Quando me tornei adolescente, comecei a sentir muita curiosidade por atuar e fui para a escola de teatro", lembra. "Procurei um agente, fui a algumas audições e acabei conseguindo trabalhos. Fiquei até bastante surpresa por ter conseguido. Fiz um filme, outro, mais outro e tive de escolher." Hoje, porém, ela acredita que o mercado está bem diferente. "Passaram-se apenas 20 anos de quando eu comecei, mas hoje é muito mais difícil. Existe aí fora uma crise mundial. Os sonhos de muitas pessoas estão sendo destruídos."
A atriz acabou de fazer um filme com Ridley Scott ("The Counsellor", no original em inglês) e de gravar suas cenas numa produção de Pedro Almodóvar em que ela contracena pela primeira vez com Antonio Banderas. "Fazemos duas cenas no início do filme. Abrimos a história e causamos um pouco de confusão", conta. E ela confirma que deve participar em breve da obra que vai falar da Gucci. "Eu estou muito envolvida já, mas o roteiro ainda não está pronto. Temos agora um novo escritor fazendo outro pré-roteiro."
Para quem lembra da personagem da atriz em "Vicky Cristina Barcelona", de 2008, ela faz questão de deixar claro que não é como ela. "As pessoas acham que sou daquele jeito. Tenho, sim, personalidade, mas não fico brava com facilidade. Não gosto de gritarias. É muito importante para mim que eu mantenha sempre uma boa comunicação com as pessoas com quem falo diariamente, não apenas as pessoas próximas."
Penélope faz questão de enfatizar que sua vida mudou muito desde o nascimento do pequeno Leo. "Muda completamente a forma como a gente vê a vida. É como se você renascesse." Para ela, o desafio de administrar carreira e família é superado quando se transforma a família em prioridade. "Daí, você tem todas as respostas." Ela não conta, porém, se pretende aumentar a família dando um (a) irmãozinho (a) ao filho.
Aos 38 anos e em ótima forma, Penélope defende que não há uma 'melhor' idade para a mulher. "Qualquer idade pode ser ótima e interessante se você tem saúde. Não me preocupo com envelhecer, me preocupo com, se Deus quiser, manter minha saúde. É a única coisa que conta."