"É uma chance de esclarecer várias questões", diz Gretchen sobre biografia
Ana Cora LimaDo UOL, no Rio
Ela misturava inglês, espanhol e às vezes até francês ("I need you, te quiero, Je t'aime, oh") numa mesma música. Sem falar nos gritinhos, gemidos e sussurros, que nos dias de hoje estariam mais próximos da pornografia, mas nos anos 80 faziam o maior sucesso.
Eterna rainha do rebolado e musa da dance music nacional, Gretchen causava frisson nas pistas e fora delas também e até hoje seu nome é um fenômeno midiático, para o bem ou para mal. Pai alcoólatra, filha homossexual, inúmeros casamentos, filmes pornôs, amores escondidos. Aos 55 anos, Maria Odete Brito de Miranda tem histórias e ainda tem segredos. Parte deles serão revelados em uma biografia autorizada prevista para ser lançada no primeiro semestre de 2015.
"Gretchen, a Biografia", título provisório do livro – ainda sem editora – está em fase de finalização. Escrito por Gerson Couto e Fabio Fabricio Fabretti, a publicação é fruto de encontros virtuais, já que a cantora está morando em Portugal. Autores e personagem central nunca se encontraram ao vivo. "Somos amigos e um dia pintou a ideia de escrever uma biografia da Gretchen, uma pessoa tão interessante, tão própria do Brasil e que merecia ter uma historia bem estampada, bem contada. No meio do ano passado, fizemos um primeiro contato pela internet. Ela ficou meio desconfiada, mas aceitou. Desde então conversamos quase que diariamente por Whatsaap, Skype e e-mails", revelou Caio.
Gretchen acredita que o livro é uma oportunidade para ela dar a sua versão dos fatos que, segundo ela, a imprensa costuma distorcer. "É uma chance de esclarecer várias questões que não consigo fazer nas entrevistas, tanto pela TV, quanto pela imprensa escrita, porque todas as vezes em que falo alguma coisa, as pessoas escrevem o que querem e como querem, de acordo com aquilo que vende e que é bom para a mídia", disse a cantora ao UOL.
Um dos maiores mistérios da vida de Gretchen é o número de vezes que ela se casou. Em uma rápida busca na internet, encontra-se 12, 15 e até 17 vezes. Atualmente, ela está casada com o arquiteto português Carlos Marques. "Oficialmente, ela casou cinco vezes, e como a biografia é dela, é sob o seu ponto de vista, pegamos depoimentos de alguns. Mas, o nosso foco não é esse, até porque a maioria tem uma questão pessoal, a maioria está casado outra vez, pode ter algum ressentimento," admitiu Fábio. E Gerson logo emendou: "Gretchen sempre foi uma mulher muito bonita, atraente e desejada e teve outros romances que não descobriram. Isso é uma das surpresa no livro. Ela teve um relacionamento nos anos 80 com um famoso e foi uma relação muito bonita, super comovente. Quase ninguém soube e está no livro", adiantou.
Outra coisa inédita é a relação com o pai, o vendedor de imóveis Mário. "Ele nunca aceitou a ideia de a filha mais velha ser artista e, quando bebia, seu Mário batia na mulher, Maria José, e Gretchen a defendia. Eles se engalfinharam várias vezes", contou Fábio que se surpreendeu com a revelação. "Partiu dela. Nós fomos perguntando, perguntando e ela contou tudo", comentou Caio que confirmou o arrependimento de Gretchen. "Ela se arrependeu. Fez, assume, queria o dinheiro".
Tradutora formada, sem nunca ter exercido a função, Gretchen reservou boa parte do livro para falar da sua vida pessoal. A relação conturbada com a filha Tammy mereceu todo cuidado e verdade possíveis. "Tem um capitulo à parte contando toda essa história. Ela nunca escondeu que não aceitou muito bem a opção sexual da filha, no início. Tiveram várias brigas e hoje a situação é bem diferente. Tem muita emoção nessa narrativa", destacou Fábio.
Dinheiro, aliás, é uma questão delicada na vida da cantora. Caio e Fábio concordam que existe um imaginário sobre a situação financeira de Gretchen. "Ela tem casa na Ilha de Itamaracá, tem apartamento em Recife, vários imóveis, lojas em Paris e Algarve, ela não está ferrada", explicou Fábio, que elege um episódio de 2011, em Orlando, nos Estados Unidos, como uma brincadeira que acabou dando mais pano para a manga. "Ela se vestiu de garçonete porque tinha um amigo dono de um restaurante em um gueto brasileiro e ela ficou lá atraindo a freguesia. Gretchen é festeira, humilde, trabalhadora, amiga, solidária e aí alguém tirou a foto que rodou o mundo e acabou alimentando ainda mais essa coisa de que ela não tem grana." Na época, Gretchen foi criticada por quem achava que ela estava querendo apenas aparecer na imprensa.
No ano seguinte, ela entrou em "A Fazenda", mas não segurou a onda – brigou com Nicole Bahls e desistiu do reality show. "Todo mundo tem uma ideia de que ela é uma mulher que sempre expôs a vida dela e por isso não tem segredos. Temos várias histórias que ninguém desconfia e estamos surpresos com muitas coisas interessantes dos bastidores", diz Gerson.
Casada com um arquiteto português, Carlos Marques, e dona de uma loja de produtos brasileiros em Paris e de mais duas franquias na região de Algarve, em Portugal, Gretchen lembra no livro que sempre quis ser cantora. Iniciou sua carreira como crooner da orquestra do Maestro Zaccaro em 1976 – o convite para integrar a banda veio depois dela ter vencido o Festival do Colégio Objetivo. Dois anos depois, o argentino Santiago Malnati, conhecido nos meios musicais da época como Mister Sam, a viu em num programa de calouros junto com suas irmãs, "As Mirandas" e lançou em carreira solo. "Freak Le Boom Boom", "Conga Conga Conga" e o "Melô do Piripipi" são os seus maiores sucessos até hoje. "No auge da carreira, a cantora tornou-se recordista por chegar a mil espetáculos em menos de três anos, sendo uma das mais bem sucedidas artistas brasileiras na época", explicou Gerson.
Já há um tempo sem subir ao palco, Gretchen revelou aos autores que não sente nenhuma saudade de cantar, apesar dos pedidos dos fãs. "Gretchen foi e é única. Durante muito tempo até quis deixar uma sucessora, como a Tammy, a Viviane Araújo, mas esqueceu isso. Nós torcemos para que ela mude de ideia e faça alguns shows, turnês", disse Gerson, que não consegue ver uma nova rainha do rebolado. "Todas que estão aí são crias dela, tipo Anitta e Valesca Popozuda. Chegar para cantar e rebolar não é fácil.