"Não sou aquela menina", diz Patrícia Marx sobre polêmica da maconha
Gisele Alquas
Do UOL, em São Paulo
Patrícia Marx causou polêmica recentemente nas redes sociais ao postar fotos fumando cigarro de maconha. A cantora, de 40 anos, defende a legalização da droga e não faz questão de esconder. Em entrevista ao UOL, Patrícia diz que sua intenção foi mostrar para as pessoas que "cresceu".
"Postei somente no meu Instagram. Fiz um ensaio fotográfico com o Biga Pessoa e, no meio da sessão, resolvi me registrar fumando. Gostei visualmente do resultado... Minha intenção foi mostrar que não sou mais a menina do Trem da Alegria ou do 'Sonho de Amor' que as pessoas tem até hoje na cabeça. Sou adulta, tenho 40 anos, com erros e acertos. Não fiz com a intenção de 'reaparecer' na mídia porque já nasci nela. Sou uma pessoa pública. Sabia exatamente o que estava fazendo e quis provocar uma reação, um debate, uma discussão sobre minha 'pessoa' inserida nesse contexto, que pra mim não é polêmico e sim bem resolvido", declarou.
A cantora, que estourou no grupo infantil Trem de Alegria aos 10 anos de idade, reconhece que foi "um choque" para os fãs tratar do assunto abertamente, mas segundo ela, necessário. Patrícia recebeu críticas por sua atitude. "Post irresponsável", escreveu um seguidor. Porém, elogios também foram mencionados. "É isso ai querida. Não devemos ter vergonha, pois sabemos o que estamos fazendo e temos muito conhecimento sobre o assunto", disse um fã.
Patrícia garante que não ficou chateada com as manifestações das pessoas. "Respeito as pessoas e suas reações. Sou a favor da legalização e da regulamentação da produção, comércio e consumo, como fim de acabar com o tráfico, os homicídios que isso provoca e também para beneficiar como terapia nas doenças. A minha impressão é que grupos se dividiram entre os que já eram fãs, que entenderam, continuam gostando do trabalho e não se importam. Outros, que eram fãs e estão decepcionados, talvez porque nunca experimentaram e têm preconceito com relação ao assunto. Outros, que não eram fãs, começaram a ser pela atitude de eu assumir essa postura de levantar a bandeira", explica.
Minha intenção foi mostrar que não sou mais a menina do Trem da Alegria ou do 'Sonho de Amor' que as pessoas têm até hoje na cabeça. Sou adulta, tenho 40 anos, com erros e acertos. Não fiz com a intenção de reaparecer na mídia porque já nasci nela
A discussão sobre a legalização e a regulamentação do uso, produção e distribuição da maconha no Brasil é quente e está na pauta dos candidatos à Presidência no país. Em dezembro de 2013, o Uruguai aprovou a legalização do cultivo e venda da maconha. Esse ano, os Estados do Colorado e de Washington, nos EUA, passaram a permitir a substância para fins recreativos. O jornal americano "The New York Times" estampou na edição do último dia 3 um anúncio de página inteira de uma companhia da indústria de marijuana - reforçando a posição do jornal em favor da legalização desta substância.
Para Patricia Marx, o Brasil é "muito atrasado" em questões as drogas e homossexualidade. "É tudo sem postura, muito em cima do muro. Todo mundo faz, mas ninguém assume, tem medo. Tem uma questão religiosa, acho. Ou você tem a superexposição sexual apelativa desnecessária dessa maneira, ou você tem o preconceito, mas com uma certa aceitação. Nossos 'ídolos' mais velhos não estão assumindo mais nada. Muito pelo contrário. Saíram de fininho. Então, estamos quase sem referências fortes, maduras e confiáveis para nos amparar nas questões mais sérias", declara.
A cantora teve seu primeiro contato com a maconha aos 21 anos de idade, mas esclarece que nunca provou outro tipo de droga, por medo. "Vi muitas pessoas se perderem ou morrerem por causa delas. Não tenho o menor interesse. E acho que se essa informação é passada/vista assim, não tem como alguém que consome maconha ir para drogas pesadas. É uma questão de associação 'droga e prazer' ou 'droga e dor'. É bem complexo e muito difícil julgar.
Patrícia Marx é mãe de um adolescente de 15 anos. Ela conversa abertamente com o filho sobre o assunto. "Temos uma relação aberta e muito tranquila com relação a tudo. Drogas, sexo, filosofia de vida. Somos muito amigos e vejo que ele é bastante maduro. Confio muito nele e confiança é a base de um relacionamento saudável entre mãe/pai e filho", ressalta.
Sucesso na trilha de "A Viagem"
O sucesso da reprise da novela "A Viagem" no Viva também se reflete em Patrícia Marx. Sua música "Quando Chove", tema da personagem Diná (Christiane Torloni), chegou a entrar nos Trending Topics – assuntos mais comentados - do Twitter quando um dos capítulos ia ao ar. A novela foi exibida originalmente em 1994.
"Me lembro de quando gravei essa música em Nova York, no estúdio do Tuta Aquino, e estar no "aquário" gravando a voz olhando a neve caindo pela janela do estúdio. Me inspirou muito...Música em novela sempre agrega. Não sei hoje, por conta da internet e do mercado musical independente onde o artista não precisa esperar por terceiros para divulgar seu trabalho. Hoje, além de mais rápido, é mais democrático e justo. Ouve quem quer. Gosta quem quer. Só baixar de graça que eu acho uma desgraça. Mas está mudando devagar".
Em 2013, em comemoração aos 30 anos de carreira, Patrícia Marx lançou o CD de estúdio "Trinta" e o DVD "Trinta ao Vivo" pela gravadora LAB 344. Em setembro, a cantora lança um DVD e um EP com cinco músicas.
"Teremos no iTunes todas as faixas como um aquecimento para o lançamento do novo EP. Esse EP é uma extensão do "Trinta", tipo um volume 2. Regravações de sucessos e tal".
Questionada se ainda sonha em realizar algo musicalmente, Patrícia responde que, entre seus desejos, espera ter seu próprio selo. "Quero passar tudo o que sei e tudo o que aprendi nesses 30 anos de serviço. Arte é para todos. Arte é social", declara.