Famosos rejeitam termo "celebridade" e dizem que se banalizou
Amanda SerraDo UOL, em São Paulo
Ser uma "celebridade" é ter "fama", "reputação bem-estabelecida", "notabilidade", segundo algumas das definições registradas nos dicionários. Mas, com a ampliação do conceito – que hoje abrange também personalidades da internet, concursos de beleza e realities da TV – há quem não aceite ser classificado como celebridade, apesar do reconhecimento público por seu trabalho.
Com 88 anos de idade e cerca de 50 de carreira, a atriz Beatriz Segall diz se considerar "uma atriz conhecida" e rejeita o termo. "Não sou celebridade. A palavra celebridade foi deteriorada. Hoje, quinze dias de televisão são suficientes para tornar qualquer menina que está chegando em uma celebridade, e claro que não é. Celebridade sempre foi uma classificação dada para pessoas de muita qualidade. Hoje em dia, qualquer um é celebridade, não tem mais a importância que tinha no meu tempo", disse em entrevista ao UOL.
A atriz Regina Duarte e os apresentadores Marcelo Tas, Rodrigo Faro e Sabrina Sato também não gostam da classificação (Veja abaixo o que outros famosos pensam sobre o termo). "Não sei em que patamar está colocada a 'celebridade'. Me considero uma atriz que faz teatro, televisão. Meu conceito de artista não entra no de celebridade. Essa palavra faz parte da modernidade, de uma coisa que não tem nada a ver com o trabalho que o ator desenvolve", declarou Regina.
O apresentador do "CQC" é um pouco mais flexível: aceita a categorização de celebridade desde que esteja relacionada ao seu trabalho. "Celebridade é uma consequência do seu trabalho, aí sim aceito esse rótulo. Se fosse classificado de uma maneira artificial, não aceitaria. Celebridade não é algo que você possa almejar. A pergunta mais frequente que recebo dos jovens é 'o que eu preciso fazer para ficar famoso?'. Acho uma ilusão, uma pista fácil, uma armadilha que a pessoa não pode cair. Você fica famoso pela consequência do seu trabalho e não é algo que tenha que ser buscado como objetivo de vida".
Profissão celebridade
Segundo a antropóloga Isabela Oliveira, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), o boom de celebridades é um fenômeno da indústria cultural de massa, responsável por eliminar as barreiras entre quem consome e quem produz.
"Hoje, todo mundo tem acesso aos meios de produção de mensagens. Existe uma cultura que não só é baseada em cultuar o outro, mas em cultuar a si mesmo. Qualquer pessoa pode se tornar uma celebridade sem necessariamente estar vinculada a um estúdio musical ou cinematográfico. Exemplo disso são as blogueiras, que lançam vídeos no YouTube, ganham milhares de seguidores e se tornam o que chamamos de subcelebridades e não estão vinculadas a nenhum tipo de produção específica", explicou.
A antropóloga esclarece também que o termo celebridade foi responsável por criar uma profissão, distanciando-se de sua essência, do conceito de célebre. "As socialites americanas Paris Hilton e Kim Kardashian ficaram famosas após o vazamento de sex tapes e se tornaram celebridades. Essa é a profissão delas, são apenas celebridades. É diferente dos Beatles, que são músicos e ficaram famosos", analisa. Se voltarmos ao dicionário, esse tipo de celebridade poderia se encaixar na definição de "o que é incomum ou extravagante".
"Talvez os artistas vejam de maneira pejorativa essa ideia de celebridade/subcelebridade, porque essa pessoa que está se tornando famosa não produz um conteúdo, é apenas famosa", completou Isabela.
Sobre a transição e a aversão da classe artística em relação à palavra celebridade, o psicanalista carioca Francisco Daudt acredita que a globalização foi responsável por banalizar da palavra. "A mudança não se deu por partes dos artistas, mas pela sociedade como um todo. Ser célebre significa ter fama, ser notável, conhecido. A televisão, o YouTube, as redes sociais e selfies permitiram essa ilusão de celebridade instantânea, que vem junto com sua vulgarização, seu barateamento."
"Fabricante de celebridades"
Cacau Oliver, produtor do concurso Miss Bumbum Brasil e assessor de figuras como a modelo Andressa Urach, é conhecido no meio artístico como um "criador" de subcelebridades. Para ele, o termo surgiu há pouco tempo e é fruto da massificação dos realities shows, da inclusão destas pessoas no mercado. "Sou contra o uso da palavra subcelebridade, porque denigre muito o artista. Não acho que o termo começou comigo, a verdade é que o mercado está aí e existem várias empresas, que precisam divulgar variados produtos e nem sempre é possível pagar um Cauã Reymond. As empresas acabam procurando outras celebridades".
Para Cacau, ser uma celebridade não depende de reconhecimento pelo trabalho ou importância para sociedade. "Celebridade não é o que você faz, mas o fato de ser reconhecido por alguma coisa, não importa se participou de um reality show ou se é atriz das novelas das nove. Todo artista tem um começo. A Eliana [apresentadora], por exemplo, saiu de um grupo chamado Banana Split, considerado subcelebridade. Mas hoje ela é uma celebridade atualmente. Todo mundo começa como sub e se transforma em celebridade."
Entre as clientes que procuram Cacau com a intenção de se tornarem célebres, os perfis da apresentadora Sabrina Sato e da assistente de palco Juju Salimeni são os mais almejados.
"Montamos um projeto dentro do que a pessoa quer, mas sempre pergunto até onde ela iria pela fama. Tem um monte de gente que não suportaria ser famoso. É preciso estar aberto para ouvir críticas e elogios. Me considero um fabricante de celebridades. Fico feliz quando digito o nome de uma miss bumbum na internet e aparecem diversas notícias sobre ela. O diferencial do meu trabalho é que levo ele a sério", concluiu o assessor.