"Babilônia" é lenta, escura e ainda tem Carminha, o retorno

Ricardo Feltrin
Colunista do UOL
Estevam Avellar/TV Globo
Depois de viver Carminha em "Avenida Brasil", Adriana Esteves é a vilã Inês em "Babilônia"

Iluminação fraca, penumbra, takes demorados, história confusa, diálogos longos demais e, por vezes, até tolos. Isso sem falar nas atuações pouco convincentes, além do momento de acerto de concorrentes como Record e SBT.

Nem é preciso fazer os tais "grupos de discussão" para saber os motivos que mantêm "Babilônia" com baixos índices de ibope. Baixos para os padrões da Globo no horário, bem entendido. A novela lidera o ibope com relativa folga e jamais foi de fato ameaçada pelos vizinhos.

Só que, para as 21h30, na Globo, uma novela registrar menos de 25 pontos, e em alguns dias ter menos audiência que a trama das 19h, é algo assustadoramente inédito, e é preciso fazer algo a respeito

Como quase todas as novelas da Globo, "Babilônia" começou frenética, ágil, polêmica (óbvio, para quem ainda acredita que beijo gay é polêmico). Claro, a ideia-chavão nos últimos anos não é só fazer uma novela para o telespectador, mas um produto para "bombar" nas (cansativas) redes sociais.

Vale um parênteses aqui, e serve como observação "terapêutica": é curioso que uma emissora de televisão do porte da Globo se entregue voluntariamente como refém de outra mídia. Que rede social é importante, não resta dúvida alguma, mas o destino principal do conteúdo da Globo ainda é o telespectador. No caso, o telespectador noveleiro.

Depois "daquele beijo", que mobilizou as tais redes, a trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga só fez tropeçar e causar desinteresse. Há algumas cenas longas demais, e uma estranha penumbra nos cenários; mesmo a trilha sonora parece estar muitas vezes deslocada, para ficar só em alguns itens que chamam a atenção (negativamente).

Em uma determinada cena, dias atrás, a chatonilda Adriana Esteves (Inês) e a pouco expressiva Sophie Charlotte (Alice) passam um tempo interminável discutindo uma sandice. Tudo porque a segunda convidou a primeira para dar uma saidinha para comer algo, mas a primeira estava ocupada demais e não podia.

Então, a primeira reclamou que já chamou a segunda uma pá de vezes para sair e cair na balada também, mas que, não, a segunda nunca tinha tempo para ela, sempre se fazia de "doce". Aí a segunda faz beicinho de criança, diz que nunca mais convida a primeira, humpf, pega o telefone e vai tentar arrumar outra companhia, enquanto a primeira continua a trabalhar fazendo bico e...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRGH!

Dá para ficar ainda mais chato que isso? DUVIDO.

A propósito, cabe outro parênteses aqui. Está mais do que na hora de Adriana Esteves pensar em sua carreira de atriz no longo prazo. Festejada como "novo provável monstro sagrado da TV" e premiada logo em seus primeiros anos de dramaturgia, ela precisa urgentemente parar de aceitar papéis de vilã.

Já dissemos isso aqui e vale repetir: ela definitivamente esgotou seu repertório de caras e bocas malévolas.

Aqueles mesmos olhares invertidos de sempre, o cenho franzido e os olhinhos semicerrados e odiosos, a boca fazendo muxoxo, expressando raivinha à la Mano Brown... E ainda aquela voz que esganiça quando a personagem da atriz tem seus acessos de raiva ou é confrontada. Por favor...

Ainda é cedo para cravar qualquer coisa sobre o futuro de "Babilônia", ainda mais porque colunista não é vidente e seus três autores são ficcionistas de primeira grandeza.

Mas o trio -- e a Globo -- precisam lembrar quem é o público original de uma novela, e talvez parar de ficar se matando para repercutir situações comezinhas no Facebook, Twitter ou coisa que o valha.

O publico quer boas histórias, quer se emocionar, ficar com raiva, torcer pelos personagens como se fossem times de futebol.

Então, ao trabalho, senhores. Vocês ainda estão ganhando, mas com um placar cada vez mais apertado. Para quem sempre venceu de goleada, o momento é preocupante. É hora de mexer nesse time, antes que Babilônia vire Babel.