Na TV, pastor chama fiel gay para ser "curado"
Colunista do UOL
Dois dias depois da Parada Gay em São Paulo, evento que prega a liberdade, tolerância e diversidade, um pastor evangélico expôs publicamente um fiel gay na TV e afirmou que iria "curá-lo".
O caso ocorreu na sede da Igreja Plenitude do Trono de Deus, em São Paulo, e foi exibido no canal de propriedade do pastor Agenor Duque, dissidente da Igreja Mundial do Poder de Deus.
O canal é distribuído por operadoras de TV paga.
Duque fazia mais uma de suas "bênçãos" aos fiéis. Em determinado momento, passou a falar com um rapaz, um fiel da igreja postado à beira do palco.
"Você quer se curar?", perguntou ao microfone.
"O que você tem?" (que doença?). Ah, homossexualidade?"
O rapaz assentiu.
"E você tem um namorado?", continuou Duque ao microfone, falando com o rapaz para toda a congregação ouvir.
O rapaz confirmou, cercado de outros fiéis e aparentando algum constrangimento . "Então sobe aqui!", decretou Duque.
Na cena seguinte o rapaz (na casa dos 30 anos) já estava no palco, ao lado de outros fiéis com as mais diversas doenças físicas. Ele tinha uma espécie de toalhinha púrpura (ou avermelhada) sobre a cabeça, assim como os demais "doentes".
Então o pastor iniciou suas tradicionais imprecações de cura em nome de Deus e afirmou que ele estava "curado".
MAIS UM PROFETA
Como pregador, Duque se considera um "ungido" e com poderes divinos.
Verborrágico, espalhafatoso e ex-ministro da Igreja Mundial, de Valdemiro Santiago, deixou a denominação por volta de 2005 e fundou sua igreja no ano seguinte, depois de ter uma suposta visão e ouvir "um chamado" de Deus".
Duque se auto-intitula "apóstolo", nomeou sua mulher, Ingrid, como bispa.
Ele afirma resolver doenças incuráveis e prega a libertação de pecados, vícios e defeitos por meio de oração e suas bênçãos (especialmente a imposição de suas mãos ou as de sua mulher) sobre a cabeça do fiel aflito.
Assim como a Mundial, a Igreja Plenitude também tem a prática de vender objetos supostamente consagrados e/;ou ungidos (por ele ou seus ministros), como toalhas, lençóis, fronhas, vidrinhos de azeite ou frasquinhos com suco de uva.
Ele desafia os fiéis a "tomar posse" desses objetos --mediante pagamentos.
A "cura gay" já teve até um projeto em andamento na Câmara Federal, de autoria do parlamentar evangélico João Campos (PSDB-GO).
Campos queria oferecer tratamento psicológico para "curar" homossexuais.
O projeto naufragou depois de o Conselho Federal de Psicologia garantir em documento que "psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades".