"É como se nascesse um membro da sua família", diz príncipe brasileiro sobre bebê real
James Cimino
Do UOL, em São Paulo
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AP Photo/John Stillwell, Pool
23.jul.2013 - Principe William carrega se filho, o príncipe de Cambridge, na saída do hospital St.Mary's
Em seu escritório no bairro do Pacaembu, em São Paulo, o príncipe dom Bertrand de Orleans e Bragança, segundo na linha de sucessão da família real brasileira, conserva apenas algumas fotos de seus antepassados, como uma em que a princesa Isabel carrega seu pai no colo.
Ali, ele conduz a Pró Monarquia, uma entidade que pretende restaurar o regime monárquico parlamentarista de governo no Brasil. "Das 12 economias mais fortes do mundo, oito são monarquias", usa dom Bertrand como argumento para retomar a tradição de sua família, expulsa do Brasil em 1889 quando houve a proclamação da república.
Ele recebeu a reportagem do UOL para comentar o frisson mundial em torno do nascimento do príncipe George Alexander Louis, o primeiro filho do príncipe William com Kate Middleton.
"Isso faz parte exatamente do charme da monarquia. Uma das principais características da monarquia é criar numa nação a consciência de uma grande família. E todos se sentem como parte dessa família. Então, na Inglaterra, todos os ingleses, quando nasce um herdeiro, têm a impressão de que nasceu um de seus parentes mais ilustres."
A atração do povo pela família real britânica é, muitas vezes, a mesma que têm os ídolos da música. Tanto que no jubileu de 60 anos da rainha Elizabeth 2ª, muitos artistas britânicos se apresentaram para celebrar o reinado mais longo de sua história.
Dom Bertrand, no entanto, ressalta que o que predomina é a tradição. E ele faz comparativos com o protocolo britânico e o brasileiro quando do nascimento de um herdeiro. Lá no Reino Unido, por exemplo, a notícia só pode ser dada ao povo após ser dada à rainha. Em alguns casos, como foi o dos príncipes William e Harry, demorou-se até um mês para se conhecer os nomes dos bebês.
"Na corte brasileira havia cerimônias muito bonitas de apresentação da criança. Os brasileiros também esperavam como se fosse um membro da família. No caso de Dom Pedro 2º, ele foi apresentado pelo brigadeiro Francisco Lima e Silva, que era o pai do Duque de Caxias. Foi na Quinta da Boa Vista. Era aberto a todo o povo brasileiro. Assim também com a princesa Isabel. Já o nome era o escolhido na hora, não demorava tanto", conta.
O tamanho do nome, no entanto, era (e no caso de dom Bertrand ainda é) enorme: Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança.
Há uma ideia equivocada de que a monarquia se afasta do povo, é prepotente. Dom Pedro 2º recebia aos sábados, no paço imperial, a todos. Mesmo o Luis 14, da França, permitia que qualquer francês entrasse no palácio de Versailles sem protocolo algum
Embora defenda a tradição, o príncipe diz que a monarquia tem de ser muito atual. "Não pode ser esclerosada. Há uma ideia equivocada de que a monarquia se afasta do povo, é prepotente. Dom Pedro 2º recebia aos sábados, no paço imperial, a todos. Mesmo o Luis 14, da França, permitia que qualquer francês entrasse no palácio de Versailles sem protocolo algum. Devia apenas portar uma espada na cinta. Então havia butiques de veteranos de guerra que alugavam suas espadas enferrujadas para quem quisesse uma audiência com o rei", conta aos risos.
No entanto, ainda sobre a corte britânica, Dom Bertrand acredita que o principal desafio do príncipe George será manter a tradição monárquica, porém adaptada a seu tempo. Apesar de do discurso aparentemente progressista, acha que a rainha Elizabeth 2ª tenha se excedido na sua busca pela modernidade ao aprovar o casamento igualitário no Reino Unido. "O casamento só existe entre homem e mulher", afirma o príncipe, que nunca se casou.