Fama em baixa e falta de pais puxam estrelas teen ao fundo do poço

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

  • Montagem UOL

    Amanda Bynes, Justin Bieber e Lindsay Lohan: estrelas teens que se envolveram em polêmicas

    Amanda Bynes, Justin Bieber e Lindsay Lohan: estrelas teens que se envolveram em polêmicas

Eles começaram cedo no meio artístico. Ainda muito jovens, ganharam fama e dinheiro rapidamente. São assediados e queridos por uma legião de fãs que estão dispostos a fazer loucuras por seus ídolos. Mas, no meio do caminho, começam a ser notícia não mais pelo trabalho, mas pelos escândalos da vida pessoal, envolvendo drogas, álcool, problemas psicológicos e comportamentos de risco.

Casos como esse não são incomuns. Justin Bieber, uma das estrelas teens mais admiradas do mundo, se envolveu, recentemente, em uma série de problemas por seu comportamento rebelde. Agressão, dirigir em alta velocidade e xingamentos tornaram-se frequentes nas notícias relacionadas ao cantor de 19 anos. Ele ainda não teve de ir à Justiça prestar contas pelos seus atos, mas, se não recuperar a imagem de "bom moço", pode passar a frequentar bastante os tribunais, assim como as colegas Amanda Bynes e Lindsay Lohan, que começaram suas carreiras quando ainda eram crianças.

A fama só acrescenta dificuldades a um período que já é conturbado por si mesmo, explica a psicóloga da Unifesp Mara Punsch, que já foi consultora do reality show "Colírios Capricho", da MTV. "A adolescência é um período difícil. Todas as questões – fama, relacionamento, responsabilidade – acabam ficando sob uma lente de aumento. Você deixa de ser criança para assumir responsabilidades e essa transição é muito difícil".

Não existem regras que determinem se um adolescente famoso irá necessariamente passar por uma fase problemática. Mas a postura dos pais exerce uma influência de peso na forma como o jovem lidará com o fato de ser uma celebridade – e isso começa em como o adolescente foi direcionado para a carreira artística. "Tem muito pai e mãe que queria ter sido famoso e não foi. Então, eles levam a criança para fazer teste desde pequena. Quando o desejo é da família e não da pessoa, a probabilidade desse adolescente ter problemas é enorme", diz Mara.

Também é importante que os pais não se deslumbrem com a fama e encontrem um equilíbrio entre as restrições e a permissividade, sempre considerando a maturidade do filho, de acordo com a psicóloga. "Há pais que acham que só ser famoso basta. Eles não vão incentivar o filho a estudar em uma escola tradicional ou brincar com crianças da sua idade. Isso vai fazer com que, futuramente, essa criança ache que não precisa estudar, nem respeitar regras. Mas o pai deveriam se responsabilizar até tal momento para depois haver a liberdade".

Mara cita como exemplo de equilíbrio o caso do jogador de futebol Neymar. Famoso desde os 16 anos e ganhando altas somas de dinheiro como salário, ele tem a fortuna gerenciada pelo pai, que já declarou em entrevistas que pede para o filho prestar contas de seus gastos. "A partir do momento que um adolescente faz sucesso e começa a ganhar dinheiro, ele acha que pode fazer certas escolhas, como morar sozinho. Mas ele não tem maturidade", completa a psicóloga.

Os baixos da fama
A frustação de não estar mais no auge da fama e não ser tão reconhecido pelo público também pode ser uma fonte de dificuldade para os famosos. Exemplos disso são os atores Haley Joel Osment, de "O Sexto Sentido", e Macaulay Culkin, de "Esqueceram de Mim". Longe das telas, os dois se envolveram com drogas e problemas na Justiça. "A curva da fama sobe e desce para todos os famosos. Se essa criança não tem uma boa estrutura emocional e os pais não trabalham a autoestima, a probabilidade de ir para as drogas é muito grande. Porque ela não sabe lidar com a frustação, só com o lado bom", afirma Pusch.

Um dos casos do tipo mais lembrado no Brasil é o de Rafael Ilha, ex-Polegar. Alçado à fama com a banda quando tinha 17 anos, ele se viciou em álcool e drogas pesadas, como crack e cocaína, e, após o estrelato, protagonizou uma série de escândalos. O cantor, atualmente repórter do programa "A Tarde É Sua", foi detido por roubos e posse de drogas e preso por tentativa de sequestro – crime pelo qual passou 17 dias na cadeia. Ele ainda engoliu uma caneta, três isqueiros e uma pilha e, em 2010, ameaçou se cortar.

Outro caso, menos grave, foi o do cantor Felipe Dylon. Em 2003, aos 16 anos, ele fez sucesso entre as adolescentes com as músicas "Deixa Disso" e "Musa do Verão". Sem manter a mesma fama, seis anos depois ele foi notícia por aparecer publicamente usando dreadlocks e com alguns quilos a mais. Naquele ano, o artista acabou também se internando em uma clínica de reabilitação. Em uma entrevista concedida em 2012 à apresentadora Marília Gabriela, Felipe disse que "talvez estivesse um pouco depressivo" e culpou a correria das turnês pelo cansaço.

Apesar de estar longe das polêmicas de Felipe e Rafael, Renata Del Bianco, apresentadora do "Morning Show", da Rede TV, também sabe como é a sensação de sair dos holofotes, a qual experimentou quando deixou a novela infantil "Chiquititas", aos 12 anos. "A gente acaba se deslumbrando com as vantagens da fama, como ser recebida com carinho, é muito agradável. Mas aos poucos, você vê que as pessoas não te reconhecem tanto. Isso traz um pouco distúrbio quando você começa a não ter mais aquela vida".

Para a atriz, que deixou o programa gravado na Argentina para não deixar sua família separada, a saída da novela foi complicada, mas permitiu que ela amadurecesse. "Era maravilhoso gravar. Vivia 24 horas o sonho. Voltar foi difícil, eu chorava quando a novela passava, fiquei deprimida", conta ela, que depois começou a fazer teatro, canto e dança e se formou em veterinária, especialidade que ainda exerce, com hora marcada.

Nesse momento de transição, destaca Renata, foi importante ter uma sólida base familiar. "A família é fundamental, são as pessoas em que pode confiar. Nessa hora você acaba tendo muitos amigos falsos, mas os familiares conseguem separar as pessoas de verdade dos interesseiros".

Montagem BOL/Reprodução
Vivia 24 horas o sonho. Voltar foi difícil, eu chorava quando a novela passava, fiquei deprimida

Renata Del Bianco, apresentadora que atuou na primeira versão de "Chiquititas"

Fama e identidade
Quando se é jovem, fica mais difícil distinguir o que é vida real e a da celebridade, acredita Renata Del Bianco. "Acho complicado a fama quando se é muito jovem e não tem apoio psicológico, porque a gente perde o discernimento do que é uma vida real e uma vida de fama. A gente queria brincar, passear, e tinha um monte de gente pedindo o autógrafo. Nesses momentos, a gente acaba perdendo o controle".

Psicóloga do elenco do remake de "Chiquititas", atualmente em exibição no SBT, Rosa Maria Naccarato revelou que tenta trabalhar a questão da identidade com as crianças justamente para não haver a confusão relatada por Renata. "A fama é do personagem, porque eles estão como aprendizes de atores. É diferente do ator adulto, que já tem a fama de ator e uma identidade a contrapor. Quando uma criança quer tirar foto com elas [as meninas da novela], ela quer tirar foto com o personagem", explica.

Para deixar clara a questão da identidade própria, Rosa Maria conta que fez uma dinâmica com as crianças usando bonecas. Na atividade, os atores mirins tiveram que tirar as roupas das bonecas, que estavam vestidas com o figurino da novela, e vesti-las com peças de roupas deles mesmos. "A criança então percebe que aquilo é uma vestimenta, uma roupagem, e que é a pessoa que permanece, mesmo quando a novela acaba".

Também é importante a criança manter uma rotina normal, respeitando regras estabelecidas pelos pais e indo à escola. "O problema é que a fama é essa coisa mágica. Então, ainda que aqui fora exista todo esse glamour, é necessário trazer essa ideia de que ele é um humano. E essa prática mantém a criança dentro da realidade, do pé no chão. Eu posso fazer um show e ser aplaudido, mas no dia seguinte eu tenho que ser eu mesmo", completa a psicóloga.

A atitude dos pais dos jovens famosos é fundamental para manter os filhos ligados à realidade, segundo Rosa, que realiza um acompanhamento também com eles. "Nós insistimos com os pais para não fazer a lição para a criança", conta a psicóloga, destacando que também tenta impedir que os adultos se projetem nos filhos: "É muito natural essa fantasia, mas o trabalho é do filho, não dele. O pai é um auxiliador, que vai auxiliar o filho a conquistar os objetivos dele".

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