Filha adotiva de Woody Allen diz que foi abusada sexualmente pelo diretor

Do UOL, em São Paulo

  • AFP

    O cineasta Woody Allen durante as filmagens do filme "Bop Decameron" em Roma, na Itália

    O cineasta Woody Allen durante as filmagens do filme "Bop Decameron" em Roma, na Itália

Dylan Farrow, filha da atriz Mia Farrow, publicou neste sábado (2) uma carta aberta em um blog do jornal "The New York Times" em que diz ter sido abusada sexualmente quando tinha 7 anos por seu pai adotivo, Woody Allen.

"Qual o seu filme favorito de Woody Allen?", ela começa no texto, intitulado "Uma Carta Aberta de Dylan Farrow". "Antes de responder, você deve saber: quando eu tinha sete anos, Woody Allen me pegou pela mão e me levou para um sotão mal-iluminado no segundo andar de nossa casa. Ele me mandou deitar de barriga para baixo e brincar com os trens elétricos de meu irmão. Ele então abusou sexualmente de mim".

"Ele falava enquanto fazia, murmurando que que eu era uma boa menina, que isto era nosso segredo, prometendo que nós iríamos a Paris e que eu seria uma estrela do cinema", completou Dylan Farrow.

Em 1992, Mia Farrow acusou Woody Allen de ter agredido Dylan. As acusações foram apresentadas no momento em que a atriz estava em uma disputa intensa com o cineasta depois de ter descoberto que ele mantinha uma relação com outra das filhas adotivas da atriz, Soon-Yi Previn, que na época tinha 20 anos e depois casaria com Allen. 

O cineasta sempre negou as acusações e elas foram retiradas, por isso que nunca foi julgado. Em 1995, após três anos de batalha jurídica, um tribunal de Nova York retirou de Allen o direito de ver regularmente Dylan Farrow, que rejeitava suas visitas.

  • Reprodução/NYTimes

    Foto de Dylan Farrow no post publicado no "The New York Times"

Após guardar silêncio durante anos, Dylan Farrow narra agora em primeira pessoa o suposto acontecimento, depois que seu irmão, Ronan, criticou o tributo rendido ao cineasta nos Globos de Ouro, e também uma semana após um amigo de Allen, Robert B. Weide, escrever um texto no site The Daily Beast defendendo o diretor (leia abaixo). Woody Allen foi honrado há três semanas com um prêmio no Golden Globes pelo conjunto de sua obra.

"Por muito tempo, a aceitação de Woody Allen me silenciou", escreveu. "Parecia uma censura pessoal, como se os prêmios e elogios fossem uma maneira de me dizer para calar a boca e ir embora".

Segundo assinala na carta Farrow, que agora tem 28 anos, o assédio de Allen a seguiu enquanto crescia e a levou a sofrer desordens alimentares, desenvolver o hábito de se autoflagelar, e ter problemas para se relacionar com homens.

"Cada vez que via o rosto de meu abusador - em um cartaz, em uma camiseta, na televisão -, só podia esconder meu pânico até encontrar um lugar para ficar sozinha e me esconder", assegura ela, que agora vive na Flórida usando um nome diferente.

Além disso, a jovem critica a atitude da maior parte das estrelas de Hollywood por passar por cima os supostos abusos de Allen.

"O que faria se tivesse sido sua filha, Cate Blanchett? Louis CK? Alec Baldwin? E se tivesse sido você, Emma Stone? Ou você, Scarlett Johansson? Você me conhecia quando eu era pequena, Diane Keaton. Esqueceu de mim?", pergunta Farrow a alguns artistas que trabalharam com Allen.

Segundo a jovem, "Woody Allen é um testemunho vivo do modo no qual nossa sociedade julga os sobreviventes de ataques sexuais e abusos".

O outro lado
O documentarista Robert B. Weide, que fez o filme "Woody Allen: Um Documentário", escreveu um artigo no site The Daily Beast em que questiona as acusações feitas contra Woody Allen, tanto no caso de abuso sexual, quanto na relação dele com Soon-Yi Previn.

Entre outras questões, Weide conta que logo após a história da relação de Allen e Soon-Yi vir a público, o diretor visitou a casa de Mia, Frog Hollow, em Bridgewater, Connecticut, onde a atriz e as crianças estavam hospedadas. Foi nessa ocasião que Dylan supostamente foi abusada.

Supondo que o ataque tenha acontecido, o documentarista relembra que é de conhecimento público que o diretor é claustrofóbico, e que "ele deveria estar em sua melhor forma" para decidir que aquela seria a melhor hora para levar a menina para o sótão e fazer algo, quando a casa estava cheia de crianças e babás, e sem que eles percebessem que os dois haviam sumido.

Weide diz ainda que o vídeo que Mia gravou da pequena Dylan contando o que aconteceu, e que entregue para a polícia, tem diversas pausas, o que fez alguns investigadores questionarem se Mia estava "dirigindo" a filha por trás das câmeras.

Uma das babás que trabalhavam para Farrow disse em depoimento que foi pressionada pela atriz para confirmar a acusação de abuso, e que a pressão fez com que ela pedisse demissão.

Na parte final de seu artigo, Weide diz que Moses Farrow, a outra criança adotada por Mia e Woody quando estavam juntos, e que também se distanciou do diretor após a separação, hoje em dia não tem mais contato com a mãe. Aos 36 anos, ele disse em uma entrevista recente que "finalmente está vendo a realidade" e usou o termo "lavagem de cérebro" para descrever o ambiente familiar. Ele também voltou a ter contato com Allen e Soon-Yi.

Repercussão
A carta de Dylan Farrow repercutiu em Hollywood. A atriz Cate Blanchett respondeu dizendo que "é claramente uma situação longa e dolorosa para a família e espero que eles consigam resolução e paz".

As acusações também geraram afirmações duras da mídia americana. O colunista do Wall Street Journal, Tom Gara, que disse que a carta é "o fim de Woody Allen".

* Com informações das agências internacionais

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