Cauã Reymond recebeu proposta para trabalhar no exterior após "Av. Brasil"

Diego Huerta

Do Clarín, de Buenos Aires

O ator que faz o papel de Jorginho na novela "Avenida Brasil", que atualmente é transmitida pela emissora argentina Telefé, fala aqui de sua vida. Na novela e na capa das revistas, ele não é "Cauã" ou "Jorginho" - ele é Jorgito.

Apesar de fazer mais de um ano que acabaram as gravações da novela que se transformou na mais rentável da história, nós o procuramos por causa do sucesso de "Avenida Brasil" na telinha da Telefe.

A novela quebrou todas as previsões e explodiu, apesar de ser emitida durante a tarde e no verão.

Recorde
"Às vezes, independentemente daquilo que as pessoas planejam, no trabalho artístico o sucesso depende de muitas coisas. Não é uma matemática", afirma o ator de 33 anos que faz a plateia feminina delirar.

"Eu já tinha trabalhado com o João Emanuel (Carneiro, o autor), em 'A Cor do Pecado', mas agora ele conseguiu bater seus próprios recordes".

Carminha
Seu personagem é um dos mais problemáticos da novela, com uma história de abandono, frustrações e um amor não correspondido. Seu desempenho e sua imagem diante da câmera o colocaram em um lugar de estrela. Cauã destaca também o trabalho de uma colega, que personifica outro grande personagem de "Avenida Brasil": "Foi uma marca para todos, mas principalmente para Adriana Esteves, que faz o papel de Carminha. Ela é uma atriz que marca a diferença".

Esse ponto de inflexão na carreira do ator já trouxe recompensas e recebeu propostas de trabalho de fora do Brasil: "Já tive propostas de trabalho de Portugal, Chile e Argentina". Seu amor pelo cinema argentino o leva a pensar em uma possível oportunidade na Argentina.

Antes de ser ator você foi bicampeão brasileiro de jiu-jitsu e modelo nas grandes cidades. Como esses trabalhos ajudaram na sua profissão atual?
O jiu-jitsu me ajudou não só na minha profissão, mas também na minha vida. Ele formou a minha personalidade. Quando você tem um bom professor isso ajuda. Ser modelo só me deu a possibilidade de conhecer o mundo. Não foi um período tão divertido da minha vida. Tenho melhores lembranças da época em que era lutador.

A vida de um modelo parece alegre: você conhece grandes cidades, se relaciona com mulheres bonitas. Por que você diz que é dura?
A mulher é mais consumista, pelo menos aqui no Brasil, e acho que na maior parte do mundo também. Então, a mulher acaba vendendo para a mulher e ganhando mais dinheiro. O modelo masculino termina tendo menos possibilidades, mas, além disso, existem mais coisas interessantes para fazer na vida do que modelar. Eu trabalhei em Milão e em Paris com os grandes estilistas e foi uma boa experiência.

Depois você foi para Nova York, mas voltou para o Brasil após o atentado de 11 de setembro. Por quê?
Porque fiquei com medo. Eu estudava teatro e não tinha muito dinheiro; dava aulas de jiu-jitsu e morava com um árabe. Ele me deixava morar no apartamento em troca das aulas que eu dava para ele. Depois do 11 de setembro, os americanos ficaram com raiva dos árabes; foi muito difícil, um período singular. Agora talvez qualquer pessoa possa morar nos Estados Unidos, mas aquele foi um período muito agressivo. Então eu resolvi voltar para o Brasil e fiz o meu primeiro exame para começar a atuar.

Coração Selvagem
Foi o pai quem o aproximou do cinema e com ele alugou inúmeras vezes "Top Gun", um de seus filmes preferidos quando era pequeno. No entanto, ele destaca "Coração Selvagem", de David Lynch, como o filme que "despertou" sua sexualidade quando ele tinha 10 anos.

"Tinha uma fita perdida em casa, que nem a minha mãe tinha visto, era de algum dos namorados dela. Quando eu comecei a assistir ao filme, não consegui parar, foi muito sensual".

Do pai, psicólogo, ele também herdou de certa forma o apego à psicologia. Ele se analisa e também tenta fazer a construção psicológica dos personagens que interpreta: "Jorginho me deu muito trabalho. Eu nunca soube jogar bola, e ainda por cima tinha que aprender a jogar mal, como o Jorginho. Eu preparei o personagem por partes: primeiro, o mundo do futebol, comecei a ouvir samba e pagode, ritmos que eu não costumo escutar. E depois, durante dois meses fui a clínicas para estudar como era o sonambulismo, porque sabia que o Jorginho tinha essas sequências na novela. E por último, a questão de ser abandonado pelos pais".

Cauã foi criado em um bairro muito perto da Rocinha, a favela mais conhecida do Rio de Janeiro. Ele conta que sua infância nesse sentido foi muito mais violenta, mas que jamais teve algum problema pessoal. Porém conta, com tristeza, que muitos amigos morreram por causa das disputas do tráfico de drogas. Os caminhos da vida o levaram a interpretar um chefe do tráfico em um filme que vai estrear em breve no Brasil, chamado "Alemão". "A proposta que me fizeram era para ser o herói, mas eu pedi para ser o vilão. O personagem talvez não tenha tantas cenas, mas é uma presença significativa. Eu queria fazer um personagem diferente", diz.

Você ficou com medo de ficar relacionado como o galã, o sex-symbol, e não sair desse papel?
Tive. Todo ator tem medos: de não ter trabalho; se você tiver, de não ter de novo; e se você for o galã, de fazer sempre o papel de galã. Eu ainda tenho esse medo, mas também tenho muitos desejos, e esse medo nunca me paralisou, ao contrário, sempre me pôs em movimento.

Leituras
Cauã é uma pessoa difícil de definir, capaz de ser a estrela da novela mais popular do Brasil e também de ler Sêneca, o filósofo romano (no ano passado leu "Da Brevidade da Vida" e diz que o livro o ajudou a formar mais sua personalidade e a conviver de uma maneira melhor).

"Avenida Brasil", novela que potencializou seu relacionamento com o futebol (simpatiza com o Flamengo) e que o aproximou do irmão - com quem não tinha muita intimidade -, foi para ele um antes e um depois, sua plataforma de decolagem. E não só no Brasil.

(Texto originalmente publicado no site do Clarín em português)

Cauã Reymond
Cauã Reymond

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