Mais curtidos do que celebridades, anônimos se tornam famosos na web

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

Eles não estão na novela das 21h nem lançaram aquela música do momento, mas são reconhecidos nas ruas, recebem centenas de 'likes' e comentários todos os dias. Eles também podem ter mais seguidores do que celebridades como Bruna Marquezine, Angélica, Flávia Alessandra e Fiuk: são os anônimos que se tornaram tão populares no Instagram que criaram uma nova categoria de famosos na rede social. E neste grupo há de tudo, de empresárias e publicitários até economistas e modelos.

O mais notável representante da categoria é o publicitário Wellington Campos. Com 5.436.115 seguidores, ele é sucesso com as fotos que tira com um boneco de Woody, personagem do filme "Toy Story", e já chegou a ser o brasileiro mais seguido do Instagram – título que perdeu para Neymar, atualmente com mais de 12 milhões de fãs. Na rede social desde 2010, Wellington decidiu testá-la por motivos profissionais e acabou descobrindo formas de conseguir mais likes e ficar mais tempo na página "explorar", que no início do aplicativo funcionava como vitrine para os usuários mais populares.

Após tirar uma foto dos bonecos Smurfs de seu sobrinho, o publicitário notou que ela fez mais sucesso do que as outras e investiu no formato. Mais tarde, ele começou a tirar foto com um Woody de pano ao perceber que o personagem tinha mais apelo com os usuários, especialmente os mais jovens, que não viram a série "Os Smurfs" na TV. E, estrategicamente, começou a aproveitar os momentos em que eram trocados os destaques da página "explorar". "Naquela época, os populares eram trocados de quatro em quatro horas. Então, produzia fotos toda semana de quatro em quatro horas. Colocava o despertador à 1h para postar. Ficava praticamente 24h na página dos populares. A gama de seguidores que eu tinha aumentava violentamente".

Reprodução/Instagram/camposwell
O publicitário Wellington Campos e seu boneco Woody: 5.436.115 seguidores

Como o grande boom do Instagram no Brasil veio um pouco mais tarde, principalmente com a chegada do aplicativo para Android em 2012, muitos dos fãs de Campos no início eram norte-americanos. "Nos Estados Unidos eu dava autógrafo, as pessoas já me conheciam. Uma vez, tirei uma foto no Central Park, onde foi gravado o filme 'Os Smurfs', e as pessoas queriam tirar foto comigo. Com o Woody, isso aconteceu na Disney, postei foto com localizador e todo mundo foi para lá. Eu não gosto de aparecer, mas já tive que fazer isso algumas vezes para divulgar alguma coisa aí muita gente acaba me reconhecendo".

Também na lista dos brasileiros mais populares do Instagram – e que não gostam de aparecer – está o economista Carlos Henrique Brasil, 38 anos e 1.489.658 seguidores. Apaixonado por fotografia, ele começou a postar seus cliques de paisagens com mais frequência em 2013 e viu o número de seguidores saltar depois que começou a interagir na rede. "Tive que dar um empurrão. Comecei a usar muitas hashtags para fazer com que as minhas fotos se espalhassem. Outra coisa foi participar muito de grupos de destaque. Publicava, as fotos ganhavam destaque e aí as pessoas passavam a me seguir. E também interagia, visitava perfis, curtia, comentava. Observei o Instagram como uma rede social e não só como mural para você postar suas fotos".

Com mais 14 contas temáticas além de sua principal, o economista diz que não tenta ser celebridade, apenas mostrar seu trabalho. E, enquanto faz cursos de fotografia para se aprimorar (já foram 15 no total), Carlos Henrique já colhe os frutos de seu sucesso. "Fui convidado para fotografar a aurora boreal no Canadá. Fui a 43 graus negativos, numa situação totalmente louca de frio, de não ter água corrente, cansado, de madrugada, mas foi bem bacana", conta.

Musas e it-girls

O Instagram também é terreno fértil para todo tipo de musas. Uma delas é a modelo Bianca Anchieta, apelidada de "musa da internet". A jovem brasiliense de 20 anos começou a se destacar no Facebook ao compartilhar selfies e momentos de sua rotina, e também fez sucesso no aplicativo de fotos, com 818.901 seguidores e várias parcerias comerciais acumulados em dois anos. "Quando o Instagram deu o boom, comecei a postar minha vida, minha rotina. Realmente fiz do Instagram um diário da minha vida. E tem muita interação. Se posto qualquer foto, as pessoas querem saber qual é o batom. É como um 'Big Brother'", explica Bianca, acrescentando que sempre foi uma "pessoa destacada".

A modelo atribui seu sucesso na rede à identificação dos seguidores com ela e à credibilidade que passa ao falar de sua rotina e dos produtos que gosta. "Acho que esse é meu diferencial. Ser verdadeira e só postar marcas legais, que eu gosto", analisa. No início de sua participação na rede, Bianca chegou a postar fotos mais sensuais, de biquíni, e a focar no universo fitness, mas hoje prefere mostrar uma vida mais real. "Quis montar o meu perfil de uma forma que dê para agregar várias empresas ao meu nome. É uma estratégia de marketing. Ninguém vive só de academia. É a vida de uma pessoa normal, é isso que eu tento passar. Sou uma pessoa que come chocolate, que vai a restaurantes. Decidi mudar um pouco e acho que essa nova fase está sendo bem mais produtiva".

Reprodução/Instagram
Bianca Anchieta: "Se posto qualquer foto, as pessoas querem saber qual é o batom"

Sabendo que nenhuma rede social dura para sempre, a modelo está reformulando seu blog pessoal e investindo em um canal no YouTube, enquanto faz um curso intensivo de Marketing e Publicidade, com o objetivo de abrir uma agência para garotas que, assim como ela, ganharam notoriedade na web. Sem descartar uma carreira na TV, Bianca diz que já chegou a ser sondada pelas produções do "BBB" e da "Fazenda", mas que não gostaria de se envolver com esses realities. "Não me interessa. Ser assistente de palco também não. Sou uma pessoa muito nova e já penso no futuro. Não quero queimar minha imagem. As pessoas me conhecem pelo meu nome, queria alguma coisa que agregasse".

Elogiada pela boa forma, a empresária capixaba Julia Nunes, 23, viu seu perfil pessoal fazer sucesso quando lançou sua marca de roupas e passou a divulgá-la nele. "Eu compartilhava meu estilo de vida, o que fazia. Aí aconteceu na mesma época de eu lançar minha marca de roupas. Não sou blogueira, não sou publicitária, não faço propaganda, só mostro o que eu gosto. Nunca foi intencional fazer sucesso", diz ela, que tem 37.395 seguidores e já fez amizade com uma seguidora que a reconheceu. "Uma menina que me seguia me encontrou numa festa. Tiramos foto, conversamos, e acabamos curtindo a festa juntas. Depois, nos encontramos de novo e acabamos virando amigas".

E a fama no Instagram fez Julia passar até por uma situação inusitada: ela teve um selfie copiado e publicado em outro perfil, em uma montagem com o rosto de outra pessoa. "Um seguidor me mandou mensagem e me deu o perfil. Aí eu entrei, vi e não acreditei. Não consegui nem entender de primeira. Fiquei assustada, fiquei pensando no nível da maldade em que se pode chegar se a pessoa consegue usar o corpo e botar o rosto de outra pessoa".

Yasmin Oliveira, que ganhou o apelido de "princesa do rolezinho" no começo do ano, quando os encontros organizados por jovens da periferia ganharam força em várias cidades do Brasil, sempre deu mais destaque ao Facebook – no qual tem mais de 290 mil seguidores – mas se rendeu ao Instagram no início do ano. "Meu Facebook já tinha 100 mil [pessoas], aí todo mundo começou a usar o Instagram e eu também, mais ainda. Antes, eu postava e ninguém ligava muito. Hoje eu posto e tem mais curtida", conta ela, que tem 24.372 seguidores em seu perfil no aplicativo, que ela mantém privativo por conta dos pedidos insistentes de outros usuários para que ela os siga.

A adolescente de 15 anos acredita que o sucesso de suas fotos nas redes sociais venha de sua personalidade. "Eu postava fotos e frases, normal. Aí começaram a aparecer muitas curtidas, e as pessoas começaram a me reconhecer, a pedir foto. Acho que o motivo foi a personalidade, as meninas se identificam, gostam. A maioria dos meus amigos hoje em dia veio da internet".

Veja dicas dos "famosos do Instagram" para ter sucesso na rede social
  • Evitar foto de comida
    "Se você vai em um restaurante bacana e a comida vem bonitinha, você pode postar. O problema é que a maioria das pessoas não coloca esse tipo de comida. Elas colocam arroz, feijão e alguma coisa. Isso pode ser saboroso, mas para quem está vendo é nojento. Muita gente não gosta de feijão, por exemplo" - Welligton Campos
  • Moderar o tamanho da legenda
    "No máximo, três linhas. As pessoas não têm paciência de ler. Por que a pessoa gosta de ver foto? Porque ela não tem que ler nada. Às vezes, você deixa de ganhar o like porque a pessoa se prendeu lendo a sua legenda", diz Wellington
  • Use hashtags
    "Acho fundamental, mas desde que seja direcionado para aquele tipo de fotos", aconselha Wellington
  • Não exagerar na quantidade
    "Tem gente que posta foto de qualquer coisa e fica chato. É bom não postar muitas fotos por dia - no máximo três, com uma pausa maior", diz Wellington
  • Interagir
    "Encarar o Instagram como uma rede social, e não só como um painel de fotos, é o segredo do sucesso", fala Carlos Henrique Brasil
  • Procurar o gosto do seu público
    "Postar coisas que agregam - dicas legais de saúde e beleza, se for mulher. Sempre mostrar para as pessoas o que elas querem saber. Procurar o que você tem de melhor e tentar acrescentar às pessoas", aposta Bianca Anchieta
  • Ser natural
    "Ser o mais natural possível, postar o que você gosta mesmo, para que as pessoas se interessam pelo que você é. A pessoa tem que mostrar o estilo de vida dela mesmo. Eu sigo aquilo que eu gosto, que me identifico", diz Julia Nunes

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