Famosos rejeitam termo "celebridade" e dizem que se banalizou

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Globo/AgNews

    A atriz Beatriz Segall, o apresentador Marcelo Tas e a atriz Regina Duarte

    A atriz Beatriz Segall, o apresentador Marcelo Tas e a atriz Regina Duarte

Ser uma "celebridade" é ter "fama", "reputação bem-estabelecida", "notabilidade", segundo algumas das definições registradas nos dicionários. Mas, com a ampliação do conceito – que hoje abrange também personalidades da internet, concursos de beleza e realities da TV – há quem não aceite ser classificado como celebridade, apesar do reconhecimento público por seu trabalho.  

Com 88 anos de idade e cerca de 50 de carreira, a atriz Beatriz Segall diz se considerar "uma atriz conhecida" e rejeita o termo. "Não sou celebridade. A palavra celebridade foi deteriorada. Hoje, quinze dias de televisão são suficientes para tornar qualquer menina que está chegando em uma celebridade, e claro que não é. Celebridade sempre foi uma classificação dada para pessoas de muita qualidade. Hoje em dia, qualquer um é celebridade, não tem mais a importância que tinha no meu tempo", disse em entrevista ao UOL.

A atriz Regina Duarte e os apresentadores Marcelo Tas, Rodrigo Faro e Sabrina Sato também não gostam da classificação (Veja abaixo o que outros famosos pensam sobre o termo). "Não sei em que patamar está colocada a 'celebridade'. Me considero uma atriz que faz teatro, televisão. Meu conceito de artista não entra no de celebridade. Essa palavra faz parte da modernidade, de uma coisa que não tem nada a ver com o trabalho que o ator desenvolve", declarou Regina.

Celebridade não é o que você faz, mas o fato de ser reconhecido por alguma coisa, não importa se participou de um reality show ou se é atriz das novelas das nove. Todo artista tem um começo diz o assessor de imprensa Cacau Oliver

O apresentador do "CQC" é um pouco mais flexível: aceita a categorização de celebridade desde que esteja relacionada ao seu trabalho. "Celebridade é uma consequência do seu trabalho, aí sim aceito esse rótulo. Se fosse classificado de uma maneira artificial, não aceitaria. Celebridade não é algo que você possa almejar. A pergunta mais frequente que recebo dos jovens é 'o que eu preciso fazer para ficar famoso?'. Acho uma ilusão, uma pista fácil, uma armadilha que a pessoa não pode cair. Você fica famoso pela consequência do seu trabalho e não é algo que tenha que ser buscado como objetivo de vida".

Profissão celebridade

Getty Images/Frazer Harrison/Getty Images
As celebridades americanas Paris Hilton e Kim Kardashian

Segundo a antropóloga Isabela Oliveira, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), o boom de celebridades é um fenômeno da indústria cultural de massa, responsável por eliminar as barreiras entre quem consome e quem produz. 

"Hoje, todo mundo tem acesso aos meios de produção de mensagens. Existe uma cultura que não só é baseada em cultuar o outro, mas em cultuar a si mesmo. Qualquer pessoa pode se tornar uma celebridade sem necessariamente estar vinculada a um estúdio musical ou cinematográfico. Exemplo disso são as blogueiras, que lançam vídeos no YouTube, ganham milhares de seguidores e se tornam o que chamamos de subcelebridades e não estão vinculadas a nenhum tipo de produção específica", explicou.

A mudança não se deu por partes dos artistas, mas pela sociedade como um todo. Ser célebre significa ter fama, ser notável, conhecido. A televisão, o YouTube, as redes sociais e selfies permitiram essa ilusão de celebridade instantânea, que vem junto com sua vulgarização, seu barateamento define o psicanalista carioca Francisco Daudt

A antropóloga esclarece também que o termo celebridade foi responsável por criar uma profissão, distanciando-se de sua essência, do conceito de célebre. "As socialites americanas Paris Hilton e Kim Kardashian ficaram famosas após o vazamento de sex tapes e se tornaram celebridades. Essa é a profissão delas, são apenas celebridades. É diferente dos Beatles, que são músicos e ficaram famosos", analisa. Se voltarmos ao dicionário, esse tipo de celebridade poderia se encaixar na definição de "o que é incomum ou extravagante".

"Talvez os artistas vejam de maneira pejorativa essa ideia de celebridade/subcelebridade, porque essa pessoa que está se tornando famosa não produz um conteúdo, é apenas famosa", completou Isabela.

Sobre a transição e a aversão da classe artística em relação à palavra celebridade, o psicanalista carioca Francisco Daudt acredita que a globalização foi responsável por banalizar da palavra. "A mudança não se deu por partes dos artistas, mas pela sociedade como um todo. Ser célebre significa ter fama, ser notável, conhecido. A televisão, o YouTube, as redes sociais e selfies permitiram essa ilusão de celebridade instantânea, que vem junto com sua vulgarização, seu barateamento."

"Fabricante de celebridades"

Reprodução/Instagram/AgNews
A assistente de palco Juju Salimeni, a ex-participante de "A Fazenda", Geisy Arruda e a modelo e vice-miss bumbum Andressa Urach

Cacau Oliver, produtor do concurso Miss Bumbum Brasil e assessor de figuras como a modelo Andressa Urach, é conhecido no meio artístico como um "criador" de subcelebridades. Para ele, o termo surgiu há pouco tempo e é fruto da massificação dos realities shows, da inclusão destas pessoas no mercado. "Sou contra o uso da palavra subcelebridade, porque denigre muito o artista. Não acho que o termo começou comigo, a verdade é que o mercado está aí e existem várias empresas, que precisam divulgar variados produtos e nem sempre é possível pagar um Cauã Reymond. As empresas acabam procurando outras celebridades".

A palavra celebridade foi deteriorada. Hoje, quinze dias de televisão são suficientes para tornar qualquer menina que está chegando em uma celebridade, e claro, que não é. Celebridade sempre foi uma classificação dada para pessoas de muita qualidade. Hoje em dia, qualquer um é celebridade, não tem mais a importância que tinha no meu tempo afirma a atriz Beatriz Segall, 88 anos

Para Cacau, ser uma celebridade não depende de reconhecimento pelo trabalho ou importância para sociedade. "Celebridade não é o que você faz, mas o fato de ser reconhecido por alguma coisa, não importa se participou de um reality show ou se é atriz das novelas das nove. Todo artista tem um começo. A Eliana [apresentadora], por exemplo, saiu de um grupo chamado Banana Split, considerado subcelebridade. Mas hoje ela é uma celebridade atualmente. Todo mundo começa como sub e se transforma em celebridade."

Entre as clientes que procuram Cacau com a intenção de se tornarem célebres, os perfis da apresentadora Sabrina Sato e da assistente de palco Juju Salimeni são os mais almejados.

"Montamos um projeto dentro do que a pessoa quer, mas sempre pergunto até onde ela iria pela fama. Tem um monte de gente que não suportaria ser famoso. É preciso estar aberto para ouvir críticas e elogios. Me considero um fabricante de celebridades. Fico feliz quando digito o nome de uma miss bumbum na internet e aparecem diversas notícias sobre ela. O diferencial do meu trabalho é que levo ele a sério", concluiu o assessor.

Famosos comentam o que é ser celebridade:

Caio Duran/Photo Rio News Outro dia estava pensando sobre o significado da palavra celebridade. Não me considero uma celebridade. Celebridade é algo muito maior que a minha realidade, acho que sou bem peão de obra na verdade. Conhecida eu sou, mas não uma celebridade. Celebridade virou quase uma gíria, uma forma de se referir a alguém que é famoso. Famoso não necessariamente é uma celebridade. Celebridade pode ser um artista, um cientista diz a apresentadora Sabrina Sato que ganhou notoriedade na mídia após sair do reality "Big Brother Brasil"
Manuela Scarpa/Photo Rio News Me considero um artista, não uma celebridade. Não gosto muito desta palavra. Ao final da minha história, caso deixe alguma contribuição para as pessoas, aí sim poderei ser chamado de celebridade, mas jamais apenas por ser famoso.Celebridade é contribuir com a sociedade de alguma forma, deixando um legado. Mas não me incomoda ser chamado de celebridade, é indiferente, mas não concordo com o termo afirma o apresentador Rodrigo Faro, que é um dos maiores garotos propaganda do Brasil
AgNews A posição de celebridade te coloca num lugar onde você não pode reagir a algumas coisas. Você tem que estar ali, linda e loira, dizendo: 'são rumores'. É só futilidade, carro e cabelos sedosos afirmou a atriz e humorista Tatá Werneck em entrevista para revista "Gol Linhas Aéreas Inteligentes"
Divulgação Existem 'n' e 'n' celebridades. Existe muito preconceito em relação ao termo. Porque se você participou de um reality show você é uma celebridade, se participa de uma novela da Globo, é global. Celebridade para mim é a Madonna, aquela pessoa que passa na rua e todos reconhecem. O restante são os profissionais que estão buscando seus espaços e cada um merece o resultado que tiver. Me considero uma eterna vice-miss bumbum diz a modelo e apresentadora Andressa Urach
Divulgação TV Globo/Arte UOL Acho que as celebridades deveriam ser cientistas, pessoas que inventaram coisas importantes, que fizeram trabalhos relevantes, transformações sociais. Essas são as pessoas que deveríamos seguir, observar, aprender. Eu, não. Não tenho essa importância. Tento dar uma humilde contribuição diz a atriz Deborah Secco em entrevista para revista "Trip" de setembro
Getty Images Apenas não acho isso bom. É simples assim. Sou apenas uma garota normal e um ser humano. Não estou há tanto tempo nessa vida para achar que isso é o meu novo normal. Não vou encontrar paz nisso atriz Jennifer Lawrence comenta sobre o universo de celebridade em entrevista à revista "Vogue"

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