Para Linzmeyer, retoques em ensaios nus são "máscaras sociais e machistas"

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Instagram

    Com 160 exemplares à venda, a revista "#1" traz 60 páginas com um ensaio nu da atriz Bruna Linzmeyer

    Com 160 exemplares à venda, a revista "#1" traz 60 páginas com um ensaio nu da atriz Bruna Linzmeyer

A atriz Bruna Linzmeyer, que estampa a capa e o recheio da revista #1 com um ensaio clicado pelo fotógrafo Jorge Bispo, falou ao UOL, por e-mail, sobre a decisão de posar nua. Em tempos de Photoshop, ela afirmou que não recorreu aos retoques comumente usados em publicações especializadas porque a prática traduz "as máscaras culturais, sociais e machistas" que ela enfrenta diariamente como mulher.

Intérprete de personagens marcantes na TV como a professora Juliana de "Meu Pedacinho de Chão" e a garota autista Linda de "Amor à Vida", a atriz, de 22 anos, comentou o conceito do ensaio – que a traz, entre outras poses, chupando uma banana com casca. "Gosto da estranheza, há mistério no que é estranho. Me instiga o que é estranho. Muitos dos nossos registros nessa revista são estranhos, pois são nus, desnudados", afirmou.

Alvo tanto de críticas como de elogios pelas fotos, ela comentou sobre a repercussão que a nudez, principalmente de artistas, ainda gera. Para ela, "o tabu do nu físico nos conecta diretamente à nossa dificuldade da nudez da alma, de nos desnudarmos para o outro". Bruna também defendeu o preço da publicação –R$ 300,00 por cada exemplar, sendo que apenas 160 foram colocados à venda.  "Penso que para além de cobrir o custo [da revista], o preço instaura cuidado e a ideia de não rotatividade. Mês que vem não tem outra revista, não tem a Bruna em outra revista. É uma revista-objeto", disse.

UOL - Como surgiu a ideia de fazer o ensaio nu?
Bruna Linzmeyer - Já tive o desejo de ser fotografada nua. E fui, uma ou outra vez, em outras circunstâncias. A diferença agora é tornar essas imagens públicas.  E quando falo do meu desejo da nudez, falo sinceramente, não só da nudez do corpo. O que mais me interessa nas imagens captadas pelo Bispo [Jorge, fotógrafo responsável pelo ensaio da revista #1] é o meu desejo de estar nua como ser humano, registrando um corpo, uma época, minhas marcas, minhas historinhas em cada pinta, cada dobra de pele. Não é nu porque estou sem roupa, é nu porque é pessoal.
É também um desejo de acarinhar minha juventude, de me ver aos vinte, quando eu tiver 50. Não há medo de envelhecer, assim como não há medo de ter um corpo ainda jovem. E de não escondê-lo por isso.

Divulgação/Jorge Bispo
UOL - Você ficou nervosa na hora de fazer as fotos?
Bruna Linzmeyer - Não houve nervosismo. Primeiro, porque confio no Bispo. Depois, porque demanda muito mais entrega a nudez do olhar do que do corpo, e meu trabalho como atriz é sobre a nudez do olhar, sobre a entrega, a entrega de algo seu para uma câmera, para pessoas que vão olhar pelo outro lado da câmera.

UOL – Você gostou do resultado?
Bruna Linzmeyer - A beleza está na sinceridade do olhar de quem vê, e também de quem é visto. Gostaria que minha nudez fosse sincera e singela. Não tem peso. É simples. Uma mulher nua. E minha vontade de pensar sobre a nudez no mundo, como um todo. A nudez comercial, a nudez física, a nudez emocional, a nudez dos olhos, dos olhares, e então da alma. Gosto da estranheza, há mistério no que é estranho. Me instiga o que é estranho. Muitos dos nossos registros nessa revista são estranhos, pois são nus, desnudados. Por vezes parecem registros animais, selvagens, eu gosto disso. Bispo e eu falamos muito sobre o que é sensual em uma fotografia, e quase sempre, o que é sexy e sensual em uma fotografia é quando a nudez está no olhar, na delicadeza de se desnudar para o olhar do outro, algo que estará impresso dialogando com o mundo, com o papel da mulher na sociedade, com esse direito que continuamos lutando por.

Jorge Bispo/Divulgação
Bruna Linzemeyer em foto clicada por Jorge Bispo para a revista #1
UOL - O que você acha do uso do Photoshop nos ensaios nus? Você acha que mais mulheres deveriam aderir à ideia de não fazer retoques nas fotos?
Bruna Linzmeyer - Não concordo com as máscaras do Photoshop, elas traduzem as máscaras culturais, sociais e machistas que eu enfrento todos os dias como mulher.

UOL -  Essa é uma edição especial da revista? Você acha que o preço de R$ 300 tem alguma relação com o fato da revista ter apenas 160 exemplares?
Bruna Linzmeyer - Para mim, o que se coloca aqui com alguma importância, é que essas imagens não são comerciais. Não há dinheiro envolvido nisso. Há desejo, pensamento, questionamentos. O preço da revista de R$ 300 é para pagar o custo de seu material sofisticado e artesanal. Ninguém está ganhando dinheiro com ela. Isso me interessa. Penso que para além de cobrir seu custo, o preço instaura cuidado e a ideia de não rotatividade. Mês que vem não tem outra revista, não tema Bruna em outra revista. É uma revista-objeto.
 

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