Eriberto Leão "ressuscita" Jim Morrison e critica rock atual e a sociedade
Rafael Godinho
Do UOL, no Rio
Em cartaz com o musical "Jim", em homenagem ao lendário astro do rock Jim Morrison, vocalista da banda The Doors, Eriberto Leão conversou com o UOL sobre as semelhanças entre a conturbada vida do roqueiro e o momento atual de inquietação e revolta popular que o Brasil vive.
Envolvido com seu personagem, o ator acostumado a fazer papéis de galã na TV deu um tempo na imagem de bom moço para se dedicar ao projeto mais esperado de sua vida. "Eu comecei a pensar no Jim há mais de 20 anos, quando estava com 19. Hoje, eu estou com 41 e meu 'filho' finalmente foi gerado. Sempre tive vontade de construir um espetáculo para mostrar o Jim Morrison que eu via. Mais puxado para o lado da literatura, filosofia e não apenas o Jim louco."
O rock sem atitude e questionamento político e social do mundo e, principalmente, do nosso país não é rock and roll.
Feliz com a receptividade do público desde que o espetáculo estreou no Rio de Janeiro, dia 9 de julho, o ator atribui o sucesso do musical às várias semelhanças que ele tem com o ídolo do rock. "Nós temos o mesmo timbre de voz e todo mundo diz que nos parecemos muito fisicamente. Isso ajuda muito na aceitação do público. Mas tudo foi estudado milimetricamente. Desde as posições que ele canta até a forma em que ele se comporta no palco. Há uma grande verossimilhança. Quem conhece o Doors sabe que a gente ressuscitou os caras", contou.
Eriberto teve receio de sofrer rejeição dos fãs de Jim: "Um dia chegou um cara no Rio que tinha uma tatuagem do Jim enorme nas costas e falou que tinha vindo para me xingar, mas depois quis me abraçar e voltar diversas vezes. Foi incrível ouvir aquilo. A gente tem um público muito bom e que sai muito mexido do espetáculo. Eu estou pensando em fazer uma espécie de documentário só da reação das pessoas. Rola uma certa carência dos fãs da banda."
Amante do rock and roll, o ator não está feliz com a cena musical atual: "O rock sem atitude e questionamento político e social do mundo e, principalmente, do nosso país não é rock and roll. Vamos nos lembrar de onde surgiu o movimento do rock, que vem do espírito de inquietação, de questionamento para com a sociedade, e não é isso que estamos vendo por aí. Até quando viveremos medíocres de pensamento e de atitude?"
Segundo o ator, uma banda brasileira que faz jus ao título de roqueira é Detonautas, grupo carioca liderado por Tico Santa Cruz, cantor que está sempre envolvido em causas sociais e políticas. "O Tico Santa Cruz tem feito discursos absolutamente coerentes. Eu acho até que ele merecia uma atenção melhor da mídia. Detonautas é a banda brasileira que mais se aproxima do que foi The Doors. A homenagem especial que o Tico fez para o Raul Seixas no Rock in Rio foi incrível. E pensar que o Raul nunca foi convidado para participar do festival. A pessoa mais roqueira de todos os tempos no Brasil é o Raul Seixas. Não é o Renato Russo, não é o Cazuza", afirmou.
Apesar de ser a favor da onda de protestos e manifestações que ocorrem no Brasil, o galã acredita que ainda falta muito para a sociedade brasileira sair do estado de alienação e ter mais voz ativa dentro da política nacional. "O gigante ainda não foi acordado. Creio que um próximo passo tem que ser dado. O que eu quero através da minha arte é abrir as portas. A sociedade vai decidir qual caminho seguir. Esse é o papel que eu posso cumprir com a minha arte. Eu não sou político. Ainda acredito que vai aparecer alguém que possa governar amando o Brasil e não querendo se enriquecer com ele", discursou.
Fora da televisão desde a novela "Guerra dos Sexos", em 2012, Eriberto disse que não pretende se envolver tão cedo com qualquer outro projeto que não tenha relação com "Jim". "O musical terá novas ramificações. Vou transformá-lo em um show. Vamos tocar em espaços alternativos para o público que curte rock and roll. Mas aviso que não será o show de uma banda cover. É um ator ressuscitando o artista. O lance é você fazer a plateia se sentir como se estivesse no show do Jim Morrison", anunciou.