As acusações de abuso sexual publicadas pela filha adotiva de Woody Allen, Dylan Farrow, de 28 anos, em carta divulgada neste sábado (1º) em um blog do jornal "The New York Times", trouxeram à tona denúncias de 1992, que ocorreram em meio ao processo de separação entre o cineasta e a atriz Mia Farrow. O caso chegou a ser investigado na época, mas o diretor nunca foi acusado ou processado formalmente porque a Justiça considerou que não havia evidências de que o crime tivesse ocorrido.

Woody Allen sempre negou o crime e recentemente voltou a dizer que considera "falsas e vergonhosas" as acusações por abusos sexuais feitas contra ele por sua filha adotiva, mas desde a divulgação da carta de Dylan, o diretor de comédias como "Annie Hall" e "Bananas" tem sido criticado por milhares de pessoas nas redes sociais, que pedem penas severas que vão desde "apodrecer na cadeia" a "exigir sua cabeça em uma lança" por supostamente ter abusado da filha quando ela tinha sete anos.

Investigação e custódia dos filhos
Embora não tenha conseguido levar adiante na Justiça a acusação de abuso sexual em 1992, Mia Farrow ganhou nos tribunais, à época, a custódia dos filhos adotados pelo casal.

No processo de separação, Woody teve concedida visitação dos filhos supervisionada, mas o seu pedido de visitação imediato a Dylan foi negado até que a jovem passasse por um período de terapia, depois que uma nova revisão da visitação seria considerado.

Quase seis meses após o início das investigações, uma equipe de investigação do Hospital Haven Yale concluiu que Dylan não havia sido molestada. Meses depois, as autoridades de Connecticut abandonaram a investigação criminal, resultando em uma declaração incomum que rejeitou as acusações de abuso contra Woody, mas ainda manteve que havia " causa provável" para acreditar em Dylan . Legalmente, o cineasta foi inocentado de tudo, mas continuava sendo suspeito do caso. Furioso, Woody convocou uma coletiva de imprensa na qual ele se referiu a Procuradoria do Estado como " covarde , desonesta e irresponsável".

Na ocasião, houve quem dissesse - sem nunca provar - que Woody "escolheu" a equipe de investigação para inocentá-lo. É raro, mas não inédito, pessoas irem presas por crimes sexuais que ocorreram décadas antes. A nova carta da filha, entretanto, é uma forte acusação contra Woddy Allen.
 

Allen não é pai de Soon-Yi 
No mesmo período, Woody Allen, então com mais de 50 anos, acabara de tornar pública sua relação amorosa com Soon-Yi Previn, de 19 anos e com a qual se casou em 1997. Ao contrário do que muito se fala, Soon-Yi não fora adotada por Allen, mas pelo antigo marido de Mia Farrow, André Previn. É compreensíavel que o episódio tenha deixado a atriz revoltada e, especula-se, com desejo de se vingar do seu ex-companheiro.

Recentemente, Ronan Farrow, disse a seguinte frase sobre Allen ter se casado com sua irmã adotiva (por parte de mãe). "Ele é meu pai se casou com a minha irmã. Isso me faz seu filho e seu cunhado".

Em revelações recentes, Mia diz que o pai biológico de Ronan pode "possivelmente" ser Frank Sinatra, com quem ela casou em 1966, quando tinha 21 anos e o cantor 50 anos. Se Ronan for filho de Sinatra, isso confirma que ela teve um relacionamento com o ex-marido durante sua relação com Woody Allen, em 1987, ou seja, ela traiu o companheiro bem antes do caso dele com Soon-Yi Previn (1992).
 

Ativismo social de Mia Farrow
Mia Farrow é reconhecida como um dos principais defensoras dos direitos humanos, com especial preocupação para a situação das crianças em regiões devastadas por conflitos. Ela tem trabalhado  para chamar a atenção para o genocídio sudanês em Darfur, e fez muitas viagens para a região , recebendo vários prêmios por seus esforços humanitários no processo.

Durante homenagem ao diretor Woody Allen no Globo de Ouro, em janeiro deste ano, Mia Farrow e Ronan Farrow usaram o Twitter para desabafar e mostrar que não estavam gostando do que viram. "Perdi a homenagem a Woody Allen. Eles colocaram a parte em que uma mulher confirmou publicamente que ele a molestou aos 7 anos, antes ou depois de 'Annie Hall'?", escreveu o jovem, enquanto a mãe também alfinetou sugerindo que era hora de pegar um sorvete e trocar de canal para ver "Girls"

Edição do vídeo e exames médicos
Um texto recente assinado pelo documentarista Robert B. Weide, autor de um documentário sobre Woody Allen, questiona a veracidade do depoimento da filha quando criança. Ele destaca que o vídeo gravado pela menina, que foi usado por Mia para fazer as denúncias de abuso sexual, foi editado, o que leva a crer que a mãe possa ter orientado a filha nas pausas - o que Mia nega.

Em seu artigo, Weide fala em exames psiquiátricos e médicos que desconsideram as declarações de Dylan como prova contra o diretor. Em 20 de abril de 1993, uma declaração juramentada foi apresentada como prova pelo Dr. John M. Leventhal , que liderou a equipe de investigação do hospital olhando para as acusações de abuso. Leventhal afirma: "Tivemos duas hipóteses: uma, que eram declarações feitas por uma criança emocionalmente perturbada e , em seguida, tornou-se fixo em sua mente. E a outra hipótese era de que ela foi treinada ou influenciada por sua mãe. Nós não conseguimos chegar a uma conclusão firme. Nós pensamos que era provavelmente uma combinação". 

Meses antes, uma reportagem publicada no "Los Angeles Times" afirmava que uma ex-babá da casa de Mia, Monica Thompson, jurou em depoimento para os advogados de Allen que ela foi pressionada por Farrow para apoiar as acusações de abuso sexual, o que a levou a renunciar sua posição. Thompson também falou sobre o vídeo, que teria sido "feito ao longo de pelo menos dois e talvez três dias". 
 

Após episódio, Woody voltou a adotar
Em 1997, Woody e Soon- Yi se casaram em Veneza , na Itália, e ao longo dos anos seguintes, adotaram duas filhas. Como todo casal que decide adotar, passaram por minuciosos processos de investigação analisados pelos juízes de tribunais estaduais que encontraram nenhuma razão para que Woody e sua mulher não devessem ser autorizados a adotar . As meninas estão atualmente com 13 e 15 anos.