Filha de Wando expulsa Agnaldo Timóteo de velório

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte (MG)

A filha de Wando, Gabrielle Burcci, impediu que Agnaldo Timóteo prestasse homenagem ao cantor durante a cerimônia religiosa que acontece no cemitério Bosque da Esperança. Agnaldo quis pegar o microfone que estava com o padre Jefferson Morereira Lima, quando foi interrompido pela filha: "Tirem esse homem daqui. Ele falou mal do meu pai".

 

Depois de explicar o comentário em relação ao consumo de whisky de Wando durante o enterro do cantor em Minas Gerais, Timóteo novamente pediu perdão na Câmara dos Deputados de São Paulo na tarde de hoje.

“Foi um momento de constrangimento por conta de um comentário indevido meu, totalmente desnecessário. Fui muito infeliz nesse comentário. Não sabia que ele não bebia faz tempo”, conta Timóteo em entrevista por telefone ao UOL

Ao UOL, Agnaldo explicou o desentendimento. "O Júnior [filho do Wando] está bravo comigo porque fui ao programa da Sônia Abrão na semana passada e disse que o Wando gostava da noite e de uísque. Só que a Gabrielle não deve saber que tive a dignidade de enviar um bilhete para o programa com um pedido de desculpas, que a Sônia leu no ar". Agnaldo ainda diz que não fica ressentido com o que ouviu. "Esse é um momento que temos que respeitar a família. Não fico ressentido. A única situação ruim é a morte do Wando", completou, antes de entrar no carro e deixar o cemitério.

Agnaldo foi ao programa da Sônia Abrão repercutir a internação do Wando e a detenção de Rita Lee, após a confusão no show da cantora em Aracaju. Na entrevista, Timóteo diz que "Wando fuma bastante" e que "de vez em quando também gosta de um goró", e complementa: "Eu  nunca vi, sou apaixonado por ele." Segundo o médico de Wando, ele tinha parado de fumar há muitos anos. Assista ao vídeo de Agnaldo na Sônia Abrão:

Agnaldo foi ao velório para prestar suas últimas homenagens a Wando. Antes do desentendimento, Agnaldo afirmou que Wando será lembrado pela irreverência, simplicidade e alegria e que cantava músicas que tocavam o coração das pessoas. Também declarou que com a morte de Wando, os cantores românticos estão acabando.

Adeus ao Wando

  • Estima-se que seis mil pessoas participaram do velório e enterro do cantor. A irmã de Wando desmaiou durante a cerimônia. Ao UOL, a mulher de Wando, Renata, disse que o mais dificíl agora será dar a notícia para sua filha, de cinco anos.

O sepultamento do cantor, morto nesta quarta-feira (8), após sofrer uma parada cardíaca, também será aberto à imprensa e ao público. Estima-se que cerca de 2 mil pessoas já passaram pelo local.

Nesta quarta-feira (8), o compositor Márcio Greyck foi ao velório de Wando e disse que a MPB verdadeira são as canções populares como as do Wando. "Existe uma sigla chamada de MPB. Mas, se a gente for analisar, de popular ela não tem nada. Estigmatizam canções populares, como as do Wando, como bregas. A MPB verdadeira são as canções populares como as do Wando, que transcenderam gerações."

"A morte do Wando é uma perda irreparável porque ele, sem dúvida, era um dos maiores talentos da música popular brasileira, a música realmente popular."

Nos últimos tempos, Greyck se tornou amigo íntimo de Wando, que não comentou sobre nenhum problema de saúde. "Essa história de ele ser conquistador foi marketing. Isso cativou as pessoas e transformou seus shows. Ele passava imagem de despudorado, sem vergonha, mas intimamente era um cavalheiro, de educação extraordinária. Tinha um fino trato com as pessoas e, para minha surpresa, era até um pouco tímido."

Circunstâncias da morte
De acordo com Heberth Miotto, coordenador da UTI do Biocor, Wando começou a apresentar queda de pressão por volta das 5h40 desta quarta. “Houve uma intervenção médica, sem sucesso, e às 6h40 foi confirmada a parada cardíaca”, explicou.

Em entrevista coletiva no início desta tade, o médico responsável por acompanhar a saúde do cantor reafirmou que Wando vinha apresentando uma melhora clínica muito boa durante a semana. “Mas houve uma piora cardiológica súbita. Apesar de todos os esforços, ele não respondeu às manobras de ressuscitação. Toda a equipe está muito triste e se solidarizando com a família”, afirmou.

Miotto acrescentou que, nesta semana, a equipe médica estava tentando tirar o aparelho respirador do cantor. “Na segunda-feira, ele ficou duas horas sem o respirador. Ontem foi um dia muito bom para ele, que chegou a se alimentar com duas colheres de iogurte. Foi repetido o eletrocardiograma, que demonstrou uma estabilidade. Estava tudo correndo muito bem”, disse, ressaltando no entanto que, por conta da gravidade da doença de Wando - que tem um grau de mortalidade de até 80% no mundo todo - "nunca seria possível  zerar" o risco de morte do cantor.

Wando estava internado desde o dia 27 de janeiro no Biocor Instituto, onde deu entrada após sofrer dores no peito. Em 28 de janeiro, ele foi submetido a uma angioplastia coronariana de emergência para desobstrução de artérias do coração.

No último dia 31, em conversa com jornalistas, a mulher do cantor afirmou que Wando não bebia nem fumava e mantinha os exames médicos em dia. “O Wando trabalha demais, não tem tempo para se exercitar, come errado e tem ainda o problema hereditário, porque o pai dele faleceu do coração”, afirmou a psicóloga Renata Costa Lana e Souza na ocasião.

Surpresa e homenagens
A notícia da morte de Wando também pegou de surpresa amigos e colegas do meio artístico que conviveram com o cantor. Jair Rodrigues, um dos responsáveis por fazer de Wando um cantor e compositor conhecido, contou por telefone ao UOL sobre a relação que tinha com o artista. "É muito triste acordar com essa notícia, mas quando chega a hora o homem lá em cima não falha", disse Jair. "Tempos atrás encontrei com ele e ele estava gordo, falei para ele cuidar da saúde", lembra.

Angela Maria, uma das primeiras cantoras a gravar uma composição de Wando, também se confessou surpresa. "Ninguém esperava que ele fizesse isso com a gente". Ela contou que conheceu Wando no início da carreira dele, "quando ele ainda usava black power". "Ele virou para mim e disse: 'Fiz uma música que é a sua cara'. Então gravei 'Vá, Mas Volte', grande sucesso". A artista afirmou que vai ser difícil alguém preencher a vaga de Wando. "Foi um grande artista para a música brasileira".

A rede social Twitter também foi usada por artistas e celebridades para manifestar solidariedade à família do cantor. ":(((( Meus sentimentos à família e amigos. Descanse em paz, Wando. :(", escreveu a cantora Mariana Belém. O ator José de Abreu lembrou do maior hit de Wando com a hashtag #meuiaiaimeuioio e acrescentou: "RIP Wando. O homem que elevou a calcinha a símbolo nacional."

Biografia
Antes de ser músico, o mineiro Wanderley Alves dos Reis foi entregador de leite, vendedor de jornal e feirante. Quando foi morar na cidade de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, entrou para uma banda chamada Escaravalhos.

Já vivendo de música e compondo, Wando mudou-se para São Paulo, onde teve a chance de conhecer o músico Jair Rodrigues. Em 1971, Rodrigues gravou a composição de Wando "O Importante É Ser Fevereiro". "Trinta dias depois eu era sucesso nacional como compositor. Dois meses depois, eu era sucesso em todo o Carnaval. Foi uma música muito tocada no Carnaval. Além disso, eu recebi um monte de dinheiro. A primeira coisa que eu fiz foi comprar um Opala vermelho, e ainda não tinha carteira, hein", contou o cantor em um depoimento para seu site oficial.

O início da carreira foi pontuado pela gravação de sambas compostos por ele próprio e outros de compositores desconhecidos. No entanto, do segundo disco em diante, Wando fez uma opção clara pelo repertório romântico-brega, recheado de canções com conteúdo sensual e erótico. Um de seus maiores sucessos é “Fogo e Paixão”.

Seus discos têm títulos sugestivos como “Ui-Wando de Paixão”, “Vulgar” e “Comum É Não Morrer de Amor”, “Obsceno”, “Depois da Cama”, “Tenda dos Prazeres” e “Mulheres” – que lhe rendeu o título de cantor mais erótico do Brasil.

Os cenários de seus shows são, em geral, banheiras, camas e haréns. Wando também era conhecido por distribuir calcinhas perfumadas ao público feminino nas apresentações.

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