Modelo que venceu Gisele Bündchen em 1° concurso é apresentadora na Bahia

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

Enquanto Gisele Bündchen se tornou uma das maiores modelos do mundo, com uma fortuna avaliada em cerca de US$ 427 milhões, Claudia Meneses, a baiana de 1,80 m, que venceu o concurso "The Look Of The Year" em 1994, promovido pela Elite Model Management, uma das maiores agências de modelos do mundo, e superou a top – que na época conquistou o segundo lugar –, trilhou outro caminho. Cursou jornalismo e desistiu da carreira de modelo dois anos depois da disputa. Em entrevista exclusiva ao UOL, a ex-modelo, hoje com 34 anos, revelou que elas eram amigas, dividiram apartamento no bairro de Pinheiros, em São Paulo, além de descobertas e diversos testes.

"Éramos amigas, cúmplices. Saíamos juntas para ir ao McDonald's, a Gisele comia muito, mas não engordava. Esse é o biotipo dela [risos].  Não tinha essa coisa de primeiro e segundo lugar, não tinha o 'ganhou uma da outra', éramos parceiras. Fizemos editorial para 'Capricho' [revista] juntas, íamos para testes juntas, pegávamos o metrô, fazíamos aulas de inglês. Uma ajudava a outra. Nunca competi com ela. Nos gostávamos muito. Fico feliz de ela ter chegado aonde chegou, porque realmente era isso que ela queria", relembrou Claudia, que perdeu o contato com a top há pelo menos 16 anos.

Após 20 anos da competição, a nordestina que disputou o mundial em Ibiza na Espanha e encantou os jurados por conta de seu cabelo cacheado, de suas curvas e da pele morena, diferencial entre as candidatas, acabou desistindo da carreira de modelo. Ela voltou para Salvador com 18 anos e logo depois ingressou no curso de jornalismo. Atualmente, ela trabalha no Canal Assembleia da Bahia, apresenta matérias institucionais, entrevistas e também é garota propaganda de campanhas eleitorais.

Indecisa na profissão, carreira a qual ingressou por acaso após um professor de inglês falar do concurso e sua mãe lhe inscrever, Claudia não se sentia realizada na profissão. "Gostava de desfilar, fotografar, mas não gostava dos bastidores. Achava um pouco vazio. Sentia que aquilo não era o meu mundo. Na época, fiz um comercial de sapatos e o diretor comentou 'onde vocês arrumaram essa modelo que sabe falar?' Foi aí que descobri minha aptidão com a câmera", contou ela, que aos 16 anos se mudou para o Rio de Janeiro onde estudou teatro. "Passei a vivenciar um mundo mais cultural."

Veja Claudia Meneses no "The Look Of The Year" em 1994

Entre os altos e baixos da profissão, a jornalista buscou apoio na mãe, que a acompanhou durante a trajetória no Sudeste, e na amiga hoje famosa. "Uma das primeiras coisas que ouvi quando ingressei foi: 'Modelo não pode se apegar a três coisas – estudo, família e namorado. Olhei e pensei: 'Como assim?'. E mesmo com 56 quilos, a frase que eu mais escutava era que estava gorda. Isso me chateava. Era muito sofrimento manter isso", afirmou ela.

"Ficava triste, me sentia rejeitada [algumas vezes]. Desabafava muito com a minha mãe, com a Gisele. Ela [Bundchen] me apoiava, me colocava para cima, pedia para eu tirar essa sensação da minha cabeça. Quando chorava com saudade de casa, a Gisele mostrava que era bem focada no queria, dava força", completou a apresentadora, que não se arrepende de ter trilhado outro caminho.

Ao ver a despedida da amiga de adolescência das passarelas na TV na última semana, Claudia recordou do tempo em que as duas conviveram. "A Gisele tem uma luz própria. Ela era simples, humilde, doce, amiga. Mas sempre foi muito esperta. Sabia quem era verdadeira e quem não era. Hoje, não posso dizer quem é a Gisele, porque a gente se afastou, mas pela essência dela e pelo o que conheci, acredito que ela continua sendo a mesma Gi. Fiquei emocionada quando vi as reportagens. Ela era uma pentelha, gostava de pregar pegadinhas [risos]", disse.

Lições
Mãe de um menino de 13 anos, casada com um diretor de TV, Claudia tem uma vida confortável em Salvador e aprendeu não só a valorizar seu estereótipo, como ainda mais sua raça e sua cultura. Muitas vezes questionadas. "Não sabiam definir minha cor em São Paulo. Ia em testes para negras e não era negra, ia em testes para mulatas e não era mulata...", contou ela que na época tinha entre 15, 16 anos.

"Como modelo aprendi que o mundo não é fácil. Com pouca idade, ainda uma menina, tive que me tornar mais dura. Sempre fui muito ingênua, boba e a moda me ensinou que nem todo mundo é legal. Nem todo mundo que está sorrindo para você é verdadeiro. Isso foi bom porque me endureceu para enfrentar a vida. A partir dos 17 anos vi que era outro caminho que seguiria e essa experiência me ajudou".

Além disso, a apresentadora viu sua autoestima se aflorar. "Não me achava bonita. Me achava alta demais, magra demais e consegui ver que era bonita, tinha meus atributos. O concurso me ajudou a colocar um pouco da mulher para fora. Consegui ver meu lado superior. Serviu para o meu amadurecimento", afirmou.

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