TVs assinam com rival do Ibope e deixam Globo sozinha

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin

Colunista do UOL

Em reportagem publicada nesta segunda-feira no "SBT Brasil", seu principal telejornal, a emissora de Silvio Santos exibiu imagens da assinatura de contrato do SBT com a GfK, instituto alemão concorrente do Ibope. Band, RedeTV! e Record também assinaram contrato oficialmente hoje.
 
A Globo foi a única emissora que não aceitou o contrato com a GfK e preferiu continuar com os números atuais medidos pelo Instituto Ibope. Apesar do contrato com a GfK, as demais emissoras de TV continuarão a assinar o serviço do Ibope. No entanto, com essa atitude, esperam criar uma espécie de "racha" no mercado, que promete se aprofundar nos próximos anos: na verdade, o acordo com a GfK pode criar apenas mais confusão --e menos lógica-- no complexo mundo da audiência em TVs abertas e por assinatura.
 
Em tese, é a partir dos números de audiência do Ibope que anunciantes decidem se vendem seu "peixe" neste ou naquele veículo. No entanto, os números da GfK teriam de ser "assombrosamente" diferentes dos medidos pelo Ibope para criar alguma surpresa.
 
Isso porque, notem, a TV Globo perdeu mais de um quarto de sua audiência somente nos últimos dez anos; uma parte dessa audiência definitivamente migrou para outras TVs e mídias (como a internet e a TV paga) e nem mesmo assim a Globo deixou de ter a hegemonia financeira: só a TV Globo aberta faturou quase R$ 10 bilhões no ano passado --ou seja, um quarto de todo o dinheiro publicitário que circula no país e quase 50% do destinado a todas as TVs abertas e pagas do Brasil.
 
Se somados outros veículos das Organizações Globo, esse faturamento sobe para quase R$ 13 bilhões.  
 
Apesar do anúncio feito com certo estardalhaço por SBT, Record e outras TVs para um assunto tão institucional, deverá demorar ao menos um ano para os números da GfK começarem a ser divulgados.
 
O instituto promete colocar aparelhos de medição em 6.000 domicílios nos 15 principais centros metropolitanos do país. O ibope tem hoje cerca de 4.000.
 
ESSA NOVELA JÁ NÃO PASSOU?
 
Nos anos 80 e 90, Silvio Santos pessoalmente tentou desancar os números do Ibope. O empresário fez o que pode para que o Instituto Nielsen se instalasse no Brasil como principal concorrente do Ibope. Silvio acreditava que o Ibope favorecesse a Globo. A extinta TV Manchete também levantou essa bandeira nos anos 80.
 
Após alguns milhões de dólares em despesas e pesquisas, a Nielsen teria chegado a números extremamente parecidos com os medidos pelo Ibope. Derrotado pelos fatos, Silvio Santos desistiu da empreitada e os "novos" números oficiais da Nielsen jamais foram divulgados.
 
Depois disso, Silvio passou a publicar regularmente em jornais e revistas do país que sua emissora de TV era a "vice-líder mais consolidada" do Brasil. Uma evidente "assinatura de recibo" diante de uma histórica derrota estratégica.

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

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