Após massacre na Copa, Globo troca ufanismo por críticas

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin

Colunista do UOL

Foi preciso um massacre histórico e doloroso da Alemanha sobre o Brasil, por 1 x 7, em pleno Mineirão, para que a Globo finalmente interrompesse suas reportagens e transmissões apinhadas de ufanismo, pouco senso crítico e basicamente nenhuma isenção. O oba-oba enfim deu lugar ao gosto realista e amargo da derrota. E que derrota.

A esperada "superação", uma das palavras mais repetidas pelos repórteres da Globo, desde a contusão grave de Neymar, contra a Colômbia, não ocorreu.  
 
Nesta trágica terça-feira, a Globo não exaltou a "raça" do time, não relembrou que David Luiz seria "o homem do jogo", como cantou antes de começar a partida; tampouco fez qualquer tipo de elogio a quem quer que fosse – exceto aos adversários. Sobraram, isso sim, críticas para o antes "blindado" Felipão.
 
Tanto no conteúdo como no timbre, a transmissão da Globo mais parecia um "ao vivo" direto de um velório.
 
Muito diferente do habitual na emissora que chegou a fazer uma reportagem completamente destoante da imprensa mundial, favorável à seleção. Enquanto todos os jornalistas (isentos) do país e do mundo criticavam a falta de maturidade do time, que chora e se desequilibra em qualquer momento decisivo, a Globo preferiu fazer reportagem oposta: enaltecendo as lágrimas como uma "forma" de amor à camisa, ao país, ao brasileiro.
 
Pura versão chapa-branca de uma emissora acostumada há décadas a ter acesso privilegiado e a ganhar entrevistas exclusivas de técnicos e de jogadores, enquanto as demais emissoras abertas e fechadas sofrem com as restrições da Fifa e da CBF.
 
Pois bem, o resultado da partida (7 a 1 para os alemães) provou que, ao menos neste caso, ao contrário do que dizia Nelson Rodrigues, toda a unanimidade estava certa, e só a voz dissonante é que foi "a burra".
 
Nenhum time pode ser campeão do mundo com tanta imaturidade e nervos em frangalhos. Nenhuma seleção pode se sagrar campeã se depende apenas de um só jogador.
 
O time e a CBF talvez possam ter aprendido a lição. A Globo? Dificilmente... 
 
Veja algumas frases de Galvão na transmissão:
 
"Chega um momento em que você vê que o time tá errado" 
 
"A Alemanha parece um trem contra um time de meninos."
 
"Tem que preencher o meio-campo"
 
"(Felipão) já deveria ter mexido."
 
"Só um time joga em campo."
 
"E lá vem a Alemanha de novo, cada um joga como quer."
 
"Foram 10 (sic) minutos de apagão total."
 
"O maior apagão da história do futebol mundial."
 
"Quatro gols tomados e nenhuma substituição." 
 
"Gool do Brasil (desanimado). O chamado gol de honra."
 

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

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