Autêntica, Mariana Godoy triplica audiência da RedeTV!

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin

Colunista do UOL

Bastaram pouco mais de três meses para a ex-global Mariana Godoy se firmar como uma das principais (e melhores) entrevistadoras da TV aberta. Não tanto pelos números de Ibope, mas principalmente pelo conteúdo de sua atração.

Claro que ela não tem números fenomenais. Isso não faz parte do histórico da RedeTV!, com raríssimas exceções. Mas não deixa de ser um feito elevar a audiência de 0,4 ponto para 1,3 ponto (cada ponto equivale a 67 mil domicílios na Grande São Paulo) em apenas alguns programas. Ela até ganhou direito a uma reprise durante a semana (às segundas).

Cabe lembrar que a jornalista está em dia e horário ingratos: de sexta para sábado, depois da meia-noite, competindo com medalhões como o lendário Jô Soares (Globo) e o divertido Danilo Gentili (SBT). Modestamente, porém, vem atraindo personalidades muito mais interessantes que seus veteranos concorrentes.

A princípio, o programa pode até ter causado estranheza para muita gente, inclusive para este colunista. O problema inicial e aparente era que Mariana é doce, meiga até demais para uma jornalista que tem como papel atrair, entrevistar e arrancar a fórceps informações de gente como Eduardo Cunha, Paulo Maluf e Jair Bolsonaro (para ficar só no "lado negro da força" da política brasileira).

Jô geralmente intimida alguns convidados por causa de seu enorme estofo cultural (que muitos confundem com exibicionismo). Já Gentili às vezes faz o visitante pisar em ovos devido aos seus gracejos muitas vezes além da conta.

Mariana, ao contrário, não parece causar temor a ninguém: navega numa linha tênue entre a empatia e a incisão. É essa justamente sua qualidade (única) como entrevistadora.

Ela até pode deixar Eduardo Cunha se exibir tocando bateria (pessimamente, por sinal), mas não o poupou de perguntas atravessadas e incômodas --sempre sorrindo, aliás.

Ao mesmo tempo até mostrou fotos familiares e fofinhas de Eike Batista e os filhos num telão, mas não deixou de encostá-lo na parede sobre seu fracasso empresarial (aliás, um belo furo jornalístico pois o empresário até então vinha fugindo de jornalistas feito diabo do alho).

A jornalista fez o mesmo com Maluf, Bolsonaro e Fernando Haddad. Todos pareciam estar extremamente à vontade. Ao mesmo tempo não tiveram trégua da entrevistadora, que cutucou a todos. Com respeito, sim, mas também com questões de interesse público e oportuno.

Em junho último, o colunista do UOL Maurício Stycer ponderou que Mariana ainda não encontrara um padrão e não conseguiria deslanchar como entrevistadora - ainda mais por seu programa ser ao vivo e numa emissora de programação historicamente popularesca.

Naquele momento a crítica era correta. Ouso dizer, porém, que hoje ela já encontrou seu espaço, e graças a uma surpreendente autenticidade e capacidade de fazer o convidado se abrir --uma qualidade oculta para quem passou boa parte da vida profissional sentada atrás de uma bancada, lendo teleprompter e sem poder emitir opinião alguma.

Ao contrário de muitos entrevistadores que já estiveram no ar e fracassaram, Mariana provavelmente deve durar na TV. E, a despeito de seu ibope pequeno, tem feito grandes entrevistas.

Isso não deixa de ser uma boa surpresa e uma boa nova para uma TV aberta cada vez mais pobre em termos de Q.I.

Quatro perguntas desconcertantes de Mariana Godoy:

Quem redigiu os requerimentos cobrando propina das empresas que faziam serviço para a Petrobras? Mariana Godoy, para Eduardo Cunha
É isso [que a população está falando], Eike? Você é o rico que ficou pobre? Mariana Godoy , para Eike Batista
Vou ler agora um tweet enviado por telespectador: 'Pergunta pro Maluf o que ele acha de quem agora diz que ele não passa de um aprendiz diante de tanta corrupção generalizada Mariana Godoy , para Paulo Maluf
Se seus bens foram apreendidos, de onde vem o dinheiro [que você diz usar para] pagar as dívidas? Mariana Godoy , para Eike Batista

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

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