Quadro de "ajuda ao pobre" faz TVs subirem no ibope
O assistencialismo promovido por programas de TV dispara no ibope em várias emissoras, abertas ou pagas. A fórmula é a mesma: uma tremenda história tristonha; personagens pobres de marré; trilha sonora piegas e muito close nas lágrimas dos "assistenciados", assim que abrem a porta da casa nova, quando vêem a reforma do puxadinho, ao receber as chaves do carreco novo.
Um dos programas que está registrando a maior alta de ibope devido ao quadro é o "Domingo Legal", de Gugu Liberato. O quadro é intermediário do "formato-assistência": as pessoas mandam cartas à produção do SBT, dizem o que gostariam de reformar em sua casa e os eleitos são atendidos. No caso no SBT, somente um cômodo ou local é incrementado.
O quadro é responsável por quase todos os picos de ibope do "Domingo Legal". A média do programa fica em 15 ou 16. Quando o quadro assistencial entra no ar, esse índice sobe até 10 pontos.
Na Globo, o quadro Lar Doce Lar (do "Caldeirão do Huck") dá casa nova e adaptada para famílias que contam com portadores de deficiência, doença, viuvez e outros revezes da vida. A escolha também é por carta.
O programa registra médias normais entre 17 e 19 pontos aos sábados. Quando o quadro entra, o "Caldeirão" sobe em minutos para 25.
Huck se inspira claramente no programa da TV fechada "Extreme Makeover", hoje também responsável pelas maiores audiências do People + Arts
Vale lembrar que nada disso é novidade. Nos anos 70 já grassavam na TV brasileira quadros "assistencialistas". O mais famoso era o "Boa Noite, Cinderela", de Silvio Santos, no qual uma menina pobre, geralmente da periferia de São Paulo, era visitada e levada ao trono pelo então príncipe Mateus Carrieri (hoje uma estrela do pornô nacional).
Também nos anos 90 a TV foi marcada pelo famoso "Caminhão do Faustão", em que um felizardo sorteado por carta via chegar em casa um carregamento de utensílios domésticos e de lazer.
No final dos anos 90 e primeiros anos deste milênio, apresentadores como Ratinho, Márcia Goldshimidt e João Kleber se somaram ao "movimento", e acabaram por rebaixar ainda mais o assistencialismo, ao nível de "baixaria na TV". Em vez de resolver problemas das pessoas, por que não exibi-los à sanha de telespectadores, pancadas ao vivo?
Quem é Legal: "Minha Vida não Cabe num Opala"
Depois de muito tempo, Ooops! volta a sugerir um filme nacional. "Minha Vida não Cabe num Opala" é dirigido por Reinaldo Pinheiro, sobre texto de Mário Bortolotto. E que texto. Ironia fina, drama claro. Coisa incomum no nosso cineminha, o elenco inteiro está muito acima da mediocridade. Peréio, por exemplo, está fantástico (e magro, hein?) no papel do "meio" arrependido pai ausente em vida, mas presente em morte. Jonas Bloch também faz um ótimo vilão descompensado (tão bom quanto o que já havia feito em "Amarelo Manga", Isaac).
Sobre as personagens femininas, idem: destaque para uma fantástica Maria Luisa Mendonça, que passa a liderar --caso ele existisse-- o "ranking" de personagem mais sexy (e atormentada) do cinema nacional. Claro, menção honrosa ainda para a sempre bocuda Dercy, em sua última aparição.
Quem Irrita: Canal Animax, da TVA
Era só o que faltava. Depois de invadir a grade de programação dos canais Discovery, do History Channel, do NatGeo, agora a maldição das televendas tomou conta também do canal Animax --que, além de ser pago, faz parte apenas de pacotes mais caros.
Que lógica tem você assinar um canal caro, exclusivo para animes, se ele exibe também horas de programação da TV Shopping? O Animax merece uma bordoada por isso. Quiçá o cancelamento dos assinantes. Afinal, já não estão faturando mesmo com televendas? Que fiquem só com elas.
Um dos programas que está registrando a maior alta de ibope devido ao quadro é o "Domingo Legal", de Gugu Liberato. O quadro é intermediário do "formato-assistência": as pessoas mandam cartas à produção do SBT, dizem o que gostariam de reformar em sua casa e os eleitos são atendidos. No caso no SBT, somente um cômodo ou local é incrementado.
O quadro é responsável por quase todos os picos de ibope do "Domingo Legal". A média do programa fica em 15 ou 16. Quando o quadro assistencial entra no ar, esse índice sobe até 10 pontos.
Na Globo, o quadro Lar Doce Lar (do "Caldeirão do Huck") dá casa nova e adaptada para famílias que contam com portadores de deficiência, doença, viuvez e outros revezes da vida. A escolha também é por carta.
O programa registra médias normais entre 17 e 19 pontos aos sábados. Quando o quadro entra, o "Caldeirão" sobe em minutos para 25.
Huck se inspira claramente no programa da TV fechada "Extreme Makeover", hoje também responsável pelas maiores audiências do People + Arts
Vale lembrar que nada disso é novidade. Nos anos 70 já grassavam na TV brasileira quadros "assistencialistas". O mais famoso era o "Boa Noite, Cinderela", de Silvio Santos, no qual uma menina pobre, geralmente da periferia de São Paulo, era visitada e levada ao trono pelo então príncipe Mateus Carrieri (hoje uma estrela do pornô nacional).
Também nos anos 90 a TV foi marcada pelo famoso "Caminhão do Faustão", em que um felizardo sorteado por carta via chegar em casa um carregamento de utensílios domésticos e de lazer.
No final dos anos 90 e primeiros anos deste milênio, apresentadores como Ratinho, Márcia Goldshimidt e João Kleber se somaram ao "movimento", e acabaram por rebaixar ainda mais o assistencialismo, ao nível de "baixaria na TV". Em vez de resolver problemas das pessoas, por que não exibi-los à sanha de telespectadores, pancadas ao vivo?
Quem é Legal: "Minha Vida não Cabe num Opala"
Depois de muito tempo, Ooops! volta a sugerir um filme nacional. "Minha Vida não Cabe num Opala" é dirigido por Reinaldo Pinheiro, sobre texto de Mário Bortolotto. E que texto. Ironia fina, drama claro. Coisa incomum no nosso cineminha, o elenco inteiro está muito acima da mediocridade. Peréio, por exemplo, está fantástico (e magro, hein?) no papel do "meio" arrependido pai ausente em vida, mas presente em morte. Jonas Bloch também faz um ótimo vilão descompensado (tão bom quanto o que já havia feito em "Amarelo Manga", Isaac).
Sobre as personagens femininas, idem: destaque para uma fantástica Maria Luisa Mendonça, que passa a liderar --caso ele existisse-- o "ranking" de personagem mais sexy (e atormentada) do cinema nacional. Claro, menção honrosa ainda para a sempre bocuda Dercy, em sua última aparição.
Quem Irrita: Canal Animax, da TVA
Era só o que faltava. Depois de invadir a grade de programação dos canais Discovery, do History Channel, do NatGeo, agora a maldição das televendas tomou conta também do canal Animax --que, além de ser pago, faz parte apenas de pacotes mais caros.
Que lógica tem você assinar um canal caro, exclusivo para animes, se ele exibe também horas de programação da TV Shopping? O Animax merece uma bordoada por isso. Quiçá o cancelamento dos assinantes. Afinal, já não estão faturando mesmo com televendas? Que fiquem só com elas.
Ricardo Feltrin
Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.