Acaba a era dos supersalários na TV brasileira
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Montagem
Gugu Liberato, Ana Paula Padrão e Tom Cavalcanti, que ao irem para a Record, ajudaram a inflacionar os salários da TV aberta
Numa política radical de contenção de gastos, três das maiores redes TV aberta (Globo, Record e Band) deverão economizar mais de R$ 100 milhões somente em salários este ano. Só a Record estima que o corte de custos salariais vai economizar R$ 60 milhões até dezembro.
A Globo deve cortar o mesmo, mas a redução deve ocorrer de forma parcelada, até o final de 2015 (à medida que forem vencendo os contratos antigos).
Para a Record, os R$ 60 milhões ficaram quando profissionais famosos deixaram a casa nos últimos meses. É o fim da era dos supersalários na casa.
Nos últimos oito anos, a Record investiu pesado em contratações e no assédio a profissionais das concorrentes. Com isso, chegou mesmo a causar inflação no mercado profissional, afetando outras emissoras que tiveram de ceder reajustes muitas vezes fora da realidade. O assédio ocorreu em quase todos os setores da TV: dramaturgia, esporte, jornalismo, humor, produção e áreas técnicas.
A nova diretriz, porém, põe fim à era dos supersalários, como os que já foram pagos a profissionais como Gugu Liberato (R$ 3 milhões), Ana Paula Padrão (R$ 450 mil), Tom Cavalcante (cerca de R$ 500 mil) e a atriz Bianca Rinaldi (R$ 100 mil, até então o maior salário da área dramatúrgica).
Somente com a saída desses profissionais, a Record já economizaria cerca de R$ 50 milhões por ano, mas houve mais cortes pontuais feitos em outros setores da casa, como rádios e o site.
A Record também mantém agora um quadro muito mais enxuto de atores e atrizes. São cerca de 200 artistas, ou seja, um quarto do que a Globo mantém. A maior extravagância do ano foi a contratação de Sabrina Sato, mas estima-se que ela não receba nem R$ 250 mil –ou seja menos de 10% do que Gugu ganhava.
Globo e vocês
Cabe lembrar que a Globo também está dando fim à era dos megasalários para as grandes estrelas da casa. Com exceção de cerca de 100 dos chamados "medalhões" das novelas, praticamente todos os jovens atores agora só receberão por obra, e mais um pequeno percentual quando a emissora sabe que usará esse ou aquele ator ou atriz em outras histórias no futuro próximo.
O departamento de humor da casa foi bem reduzido nos últimos meses, com preferência por formatos mais enxutos.
Mesmo a Band não está mais disposta a enfiar a mão no bolso. A emissora, que teve seu elenco atacado por SBT, Globo e Record nos últimos meses (perdeu Danilo Gentile, Mônica Iozzi e Sabrina Sato, respectivamente), desistiu de qualquer contra-ataque, a despeito da mágoa e do que considera falta de ética por parte das demais emissoras. E desistiu porque não tem dinheiro.
Outra que não tem mais o que cortar é a RedeTV!, que tem investido o mínimo com elenco e vende boa parte da programação para terceiros. A emissora de Osasco é a que mais tem apostado em fofocas de famosos.
O SBT é a emissora com menos "gordura" para cortar, pois trabalha num sistema diferente das demais: o artista recebe de acordo com o que seu programa fatura. Se não faturar nada, nada recebe.
Cabo do medo
Muitos ex-profissionais da TV aberta decidiram migrar para os canais a cabo e parecem estar satisfeitos: Rosanna Jatobá (NatGeo), Sabrina Parlatore (canal Glitz), Cazé (Discovery) e até Milhem Cortaz, que divide seu tempo entre a Record e o Discovery, além do cinema.
Ou seja, não apenas acabou a era dos supersalários da TV aberta, mas também terminou a era dos galãs e estrelas intocáveis.
Talvez pelo advento da internet e outros formatos de tela, nenhum profissional mais, com raras exceções, poderá se dar ao luxo de se achar imprescindível a qualquer emissora --seja aberta ou fechada.
Ricardo Feltrin
Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.