Canal terá 24 horas de 'South Park'; veja 6 episódios clássicos

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin

Colunista do UOL

No próximo dia 15, à meia-noite, o canal pago Comedy Central vai exibir uma maratona histórica do sensacional desenho "South Park". Serão cerca de 70 episódios escolhidos entre os quase 270 lançados nos últimos 18 anos do desenho criado pelos norte-americanos Trey Parker (nascido no Colorado) e Matt Stone (texano). Além do Comedy Central, "South Park" também é exibido pela MTV. Veja abaixo o roteiro de seis episódios históricos de "South Park"

Atenção, spoiler: texto conta fim da história de alguns episódios

6 - Góticos, Emos ou Vampiros?

Divulgação / South Park Studios
Butters

O episódio começa com Butters invadindo à noite o quarto de Cartman. Sorrateiro, Butters vai até a cama em que o amigo dorme e... nhac! Enfia a boca no pescoço de Cartman que acorda com o amigo abocanhando seu pescoço. Ele chama pela mãe: "Ô, mãããe! O Butters me deu um chupão!! Ele descobriu que é homossexual e que tem desejos por mim. Então ele entrou pela janela, veio aqui e passou a língua no meu pescoço. Ele até babou em mim. Mas que nojo!". Enquanto isso, o grupinho de góticos de South Park fica revoltado porque os fãs da saga "Crepúsculo" começaram a usar roupas pretas como as deles e alguns também estão usando maquiagem depressiva. Furiosos, eles decidem mudar de estilo de roupa porque não querem ser confundidos com fãs idiotas de "Crepúsculo". Vão até uma loja da Gap e compram roupas novas, mas ficam tão ridículos que decidem voltar a usar as roupas de antes. Vão afogar as mágoas em um café, mas uma garçonete pergunta se eles são fãs dos filmes "Crepúsculo" ou se são apenas "emos". Os góticos têm um ataque histérico com a comparação. Butters, portanto, achava que era um vampiro. 
 
5 - O Festival de Sundance em South Park 

Divulgação / South Park Studios
Kyle Brofloviski

O famoso festival de cinema "indie" decide mudar de Sundance para South Park, no Colorado. Os organizadores dizem que é uma forma de "levar cultura a outras cidades pequenas dos EUA", mas o motivo é que eles arruinaram Sundance e precisam de outra cidade para atormentar. O problema é que o público fresco do Sundance Festival é tão metido a besta e politicamente correto que eles só comem alimentos naturais, orgânicos e, claro, muita fibra. Por isso essa gente faz cocô demais. Os intestinos são tão soltos que há um excesso de excrementos que acaba levando o sistema de esgoto de South Park ao colapso. Kyle visita a rede de esgoto da cidade e descobre que seu amigo Solitinho, uma bostinha que só costuma aparecer no Natal, está doente. Está intoxicado por causa do excesso de fezes na tubulação. Kyle volta e tenta convencer os produtores do festival de que eles estão matando seu amigo, que parem e vão embora antes que Solitinho morra. Em vez de se sensibilizarem, os produtores do Sundance acham a história tão boa que querem comprar seus direitos para fazer um roteiro. Um filme "indie" com a história distorcida do cocô Solitinho é feito às pressas com Tom Hanks no papel principal. O Solitinho real se enfurece, tem um ataque mágico de proporções colossais e cobre South Park de merda. O festival acaba e seu criador, Robert Redford, morre afogado em cocô enquanto tenta fugir. A cidade respira aliviada. Mas o cheiro fica.

4 - "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson

Reprodução
Cartman

Cartman espezinha seu amigo Kyle, que é judeu, por causa do filme "A Paixão de Cristo". Ele acaba convencendo Kyle a ir ver o filme também. No cinema, Kyle fica tão mal com o sofrimento de Jesus que vomita, chora e entra em depressão. Enquanto isso, Cartman organiza um grupo de adoradores de "A Paixão de Cristo" em seu quintal. Stan e Kenny ficam tão preocupados com Kyle que decidem ver o filme também. Ao contrário de Kyle, eles acham o filme uma droga e decidem ir até a casa de Mel Gibson pedir o dinheiro dos ingressos de volta. Encontram Gibson só de cueca, bêbado, tendo ataque de esquizofrenia. Eles cobram Gibson, que não só recusa como os expulsa. Só que na fuga eles conseguem tirar 28 dólares da carteira do ator. Fogem sob rajada de balas de Gibson e começa uma perseguição na estrada entre Malibu e South Park. Stan e Kenny estão em um ônibus cheio e Gibson psicopata tenta pará-los com um Hummer, dando trombadas no ônibus. Enquanto isso, Kyle, deprimido e culpado, vai até a sinagoga de South Park, pede a palavra e diz a todos que os judeus deviam pedir desculpas pelo que fizeram a Jesus. A comunidade judaica fica histérica. Onde já se viu? Nesse momento o grupo de Cartman, de adoradores da "paixão", já virou um pelotão de soldados que marcha pelas ruas da cidade e segue até a sinagoga gritando palavras de ordem nazistas. Stan e Kenny chegam à sinagoga ao mesmo tempo, Mel Gibson também, e Cartman também. Gibson está mais louco que uma galinha sem cabeça. O povo percebe que Mel Gibson não passa de uma besta, lamenta ter gostado do filme e vai embora, mas Cartman vê seu ídolo e se derrete: até tenta beijar seus pés. Só que Gibson peida e defeca sobre a cabeça de Cartman. Depois sai pulando e gritando pela rua. Só de cueca.

3 – O Dia em que a Economia de South Park Quebrou

Divulgação / South Park Studios
Stan Marsh

Tudo começa quando Randy Marsh obriga o filho Stan a colocar os US$ 100 que ganhou da avó na poupança. Contrariado, Stan vai com o pai até o banco. O gerente canalha diz que vai aplicar o dinheiro de Stan num fundo de investimento cambial atrelado a um indexador e... já era. Já era o dinheiro de Stan. A aplicação engoliu o dinheiro, e ele não tem mais nada. Sinto muito, próximo da fila, por favor. O pai de Stan estranha, vai mexer em sua própria conta para entender e a conta é encerrada. O motivo é que ela estava aplicada e... já era também. South Park entra em pânico. A cidade está quebrada. Stan descobre que o pai não tem dinheiro nem para pagar prestações de um processador de margaritas que comprou na TV e vai tentar devolvê-lo. Enquanto isso South Park entra em transe por falta de dinheiro. Todos os moradores passam a vestir apenas farrapos. A cidade volta a ser arborícola. A única diversão das crianças são os esquilos. Não há mais energia elétrica. South Park vira uma cidade pré-medieval. Kyle, o garoto judeu, fica perplexo e berra que todos são idiotas. Que a economia não tem problema algum, basta que voltem a fazer compras. Que é assim que a economia funciona. Kyle começa a aproximar ouvintes. Enquanto isso, no centro comunitário da cidade, uma sinecura comandada pelo pai de Stan (todos vestindo apenas farrapos e lençóis velhos) espera apenas o Juízo Final. Quando ouvem falar de um judeu que estaria pregando no mercado contra as expectativas pessimistas deles, os membros da sinecura passam a conspirar contra o "pregador judeu". Dizem que ele é subversivo e tramam crucificá-lo. Para provar que a crise econômica é ilusória, Kyle encomenda um cartão Visa sem limite de crédito. Ele quer provar que o dinheiro é uma ilusão, que pode ser "inventado" em um simples cartão de plástico. Kyle passa a pagar as dívidas de toda a cidade com o cartão. Toda a cidade leva contas para Kyle pagar – inclusive o pai de Stan. Kyle passa tantas vezes o cartão pela maquininha que acaba tendo uma bursite no braço e entra em colapso. Desmaiado, ele é carregado pelo povo comovido até sua casa, acompanhado de uma procissão de esfarrapados que carregam tochas de fogo. Enquanto isso, Stan descobre que a dívida do processador de margaritas que o pai comprou está atrelada a tantos papéis diferentes na Bolsa e nos bancos, que, teoricamente, o valor do processador já chega a dezenas de bilhões de dólares. Ele vai até o Federal Reserve pedir uma solução para o caso, mas descobre que os economistas do Fed tomam suas decisões de acordo com um "oráculo": eles cortam a cabeça de uma galinha viva e a jogam numa roda da fortuna. De acordo com o lugar em que o corpo da galinha parar eles então tomam a decisão. Pasmo e furioso, Stan atira o processador de margarita na roda da fortuna e volta para casa. Enquanto isso, o judeu Kyle acorda ainda atordoado e vê o jornal da TV anunciar com estardalhaço que a economia de South Park finalmente voltou a respirar e que eles têm de agradecer a uma só pessoa por isso: Barack Obama! Kyle não se conforma. O episódio termina com a família de Stan no supermercado. Então seu pai descobre que acabou de lançar um novo modelo de "margaritadeira"...

2 – A Invasão de Hippies a South Park

Reprodução
Cartman tenta eliminar os hippies de South Park

O episódio começa com Cartman batendo na porta de uma velhinha. Ele está vestido de macacão laranja de exterminador de pragas. Carrega uma bomba de dedetizar. Cartman pede para fazer uma vistoria na casa da senhorinha porque desconfia que há uma praga escondida ali: hippies. No sótão da casa, Cartman descobre uma rodinha de hippies fumando maconha e tocando violão. E descobre outra rodinha no quintal da velha senhora. "Eles chegaram aí já faz uns dias, mas como não estavam me incomodando eu deixei e eles foram ficando", justifica-se a idosa. Cartman fica louco. Fumega todos os hippies, deixa todos atordoados e os prende no porão da casa. Acha outro hippie escondido dentro de uma parede da sala e o prende também. Enquanto isso a cidade começa a ser infestada de hippies. São universitários em férias que estão em luta "contra o sistema". Stan e Kyle também viram hippies e tudo que eles fazem é fumar maconha e ouvir música. Cartman vai até o Conselho Municipal da cidade e tenta alertar a todos de que a desgraça é iminente: é preciso expulsar os hippies. Ele prova que as rodinhas de violão e maconha estão aumentando em número pelas ruas e que estão em vias de se fundir... de se fundir em um grande festival de música hippie, que vai arrasar South Park. O conselho não só ignora os avisos, como a prefeita dá uma licença para a realização de um festival. Cartman é preso por fumegar hippies e mantê-los presos no porão. A prefeita o visita na cadeia e diz que o festival será bom para movimentar a economia de South Park, mas Cartman rebate: "Sua idiota! Hippies não têm dinheiro!! Eles só fumam maconha e tocam violão!!!". O festival começa. As bandas só tocam coisas do tipo Santana, Crosby, Stills, Nash & Young etc, e a plateia só diz "é isso aí!" e fuma muita maconha. O festival começa a invadir toda a área e destruir a cidade. Só então o conselho municipal percebe que Cartman estava certo. Todos vão em procissão até a cadeia pedir sua ajuda. Depois de fazer muita manha e muitas exigências, Cartman decide ajudar a cidade, mas precisará de investimento milionário para construir uma máquina perfuratriz pilotada. Seu plano: perfurar o bloco de hippies até o palco, invadir a mesa de som e colocar um CD do Slayer pra tocar. Ele diz que, como hippies odeiam metal, talvez ainda haja tempo de dispersá-los com um CD do Slayer, antes que devorem a cidade. A partir daí o desenho passa a repetir a história do filme "O Núcleo" ("The Core", 2003), em que cientistas desenvolvem uma perfuratriz para atingir o núcleo da Terra. Cartman monta a perfuratriz anti-hippie e convoca uma equipe para acompanhá-lo na missão. Precisa de um técnico (no filme, interpretado por Stanley Tucci), uma mulher engenheira (Hillary Swank) e um negro (Delroy Lindo) para se sacrificar quando algo der errado. O plano dá certo, mas antes a máquina quebra. O Chef (afro-americano) se sacrifica ao deixar a máquina para tentar consertá-la em meio a uma nuvem tóxica de maconha. O CD do Slayer afugenta mesmo todos os hippies. South Park está salva. Cartman é o herói.

1 – Toshiba Handibook

Reprodução
Cartman tenta convencer a mãe a ganhar um iPad

Todas as crianças da escolinha de South Park ganharam iPads bacanas, exceto Cartman, mas, para não ficar para trás, ele fantasiou um pedaço de vidro fumê com uma carcaça de iPad e fica se gabando com quem não tem o tablet. Quando os amigos, desconfiados, começam a querer checar seu iPad, ele disfarça, muda de assunto e volta para casa. Chegando em casa, ofende a mãe: "Você quer me f****? É isso? Por que você quer me f****? Fiz alguma coisa pra você me f****???" A mãe sempre condescendente de Cartman concorda em ver alguns modelos de tablets na loja. Quando chega lá, ela vê que o iPad que o filho quer, um iPad 64, custa US$ 899. "Não temos dinheiro para isso, docinho. Por que não levamos este outro mais barato? (um tablet Toshiba Handbook)". Cartman tem um ataque histérico. "Você quer me dar esse lixo? A ma~e responde: "Aqui está escrito que ele faz tudo que um iPad faz". Cartman se enfurece. "Você quer que eu me humilhe na frente dos meus amigos? Por que quer me dar esse lixo? Por que você não me f*** de uma vez, mãe?" Então ele abaixa a calça dentro da loja e aponta para a própria bunda: "Vai, mãe, me f***! É isso que você quer, não é? Vai! Me fo** de uma vez! ANDA! ME F***!". A loja fica em alvoroço. A segurança é chamada. Cartman agora está aos prantos no carro com a mãe, voltando para South Park. Sua mãe está possessa. Ele não ganhou nada. Cartman está inconsolável. Chorando, pede desculpas e diz que foi punido: não ganhou nada, nem o de 16 giga e nem o iPad 64. Sua mãe diz que ele foi um mau menino e que mereceu o castigo. Ele argumenta que isso é injusto e pergunta meigamente: "Então não pode ser pelo menos o Toshiba Handibook?". Sua mãe diz que NÃO. Então Cartman muda de atitude e, debochado, pergunta se sua mãe não poderia parar logo adiante num restaurante da estrada. "Porque eu gosto de ser levado para jantar por quem ME F***!" Cartman é castigado pela mãe, mas se vinga indo ao programa do Doctor Phil denunciar a mãe que o f****. A Apple e a loja Best Buy, onde ele fez escândalo, se compadecem e decidem presenteá-lo com um novo produto, que é formado por dois iphones e três pessoas que ficam de quatro (duas com a boca no ânus de quem está na frente). Uma dessas pessoas é o Kyle, que assinou o "concordo" dos termos do iTunes sem ler, e não sabia que isso dá direito à Apple de usá-lo na construção de novos aparelhos. No fim, o pai de Kyle, que é advogado, o salva, e Steve Jobs decide adiar o experimento com o novo aparelho. Cartman fica mais uma vez sem iPad. Ele se enfeza com Deus e passa a desafiá-lo também. Olhando para o céu, blasfema contra o Criador. "Vai, Deus, você também quer me f****?? Então, por que não me f*** de uma vez e acaba logo com isso. Vai, Deus, me f***! CABRUM! Deus manda um raio em Cartman. O episódio termina com Cartman na UTI, ligado a aparelhos. Ele não morreu, mas está em estado grave, todo chamuscado. Só sobraram uns chumaços de cabelo.

Ricardo Feltrin

Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

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